Ex-banqueiro Andrew Pearse disse
quinta-feira, num tribunal de Nova Iorque, que o filho do ex-Presidente
moçambicano Armando Guebuza recebeu 50 milhões de dólares no esquema de fraude
conhecido como dívidas ocultas.
Andrew Pearse, que é arguido
na investigação
dos Estados Unidos sobre as dívidas ocultas de Moçambique, afirmou, na
sua última intervenção como testemunha, que Ndambi Guebuza, filho de Armando
Guebuza, recebeu um total de 50 milhões de dólares (cerca de 45 milhões de
euros).
Ndambi Guebuza foi detido em
Moçambique em 16 de fevereiro. Não enfrenta acusação em tribunal nos Estados
Unidos da América, mas é considerado conspirador do esquema pela Justiça
norte-americana.
O caso refere-se a um esquema de
corrupção em que três empresas detidas pelo Estado de Moçambique - Ematum,
Proindicus e MAM - assumiram créditos e empréstimos no valor de mais de 2,2 mil
milhões de dólares (dois mil milhões de euros) sem revelar ao Governo,
investidores internacionais ou entidades financeiras como o Fundo Monetário
Internacional.
O principal arguido do processo
nos EUA é Jean
Boustani, vendedor de embarcações da empresa Privinvest. O diretor
financeiro da Privinvest, Najib Allam, também é arguido.
Ndambi Guebuza na Privinvest
Andrew Pearse recordou em vários
momentos que o filho do Presidente foi enviado para a Alemanha para trabalhar
na empresa Privinvest, que estaria a fornecer navios e materiais às empresas
Ematum, MAM e Proindicus.
Ndambi Guebuza esteve na
Privinvest, na Alemanha, para ganhar experiência sobre embarcações, depois de o
Presidente moçambicano demonstrar vontade de construir um estaleiro em
Moçambique, mas a opinião de Jean Boustani era de que Ndambi tinha pouca
produtividade e mostrava "preguiça".
Na semana passada ficou a
saber-se, também através de Pearse, que Ndambi Guebuza pediu 11 milhões de
dólares para uma casa em França.
O antigo banqueiro do Credit
Suisse Andrew Pearse foi responsável pela aprovação de empréstimos da
banca à empresa Ematum e o aumento ("upsize") do valor do empréstimo,
que foram alegadamente negociadas com Jean Boustani e que renderam ao
ex-banqueiro pagamentos de 45 milhões dólares da Privinvest.
Andrew Pearse, cidadão neozelandês,
declarou-se culpado do crime de fraude monetária eletrónica e colabora com a
Justiça, tendo reunido 30 vezes com os procuradores antes do início do
julgamento.
Acusações podem dar 60 anos
de cadeia
Se o júri decidir que Pearse não
respondeu com toda a verdade, será considerado culpado de quatro acusações que
lhe podem dar 60 anos de cadeia.
O esquema de corrupção terá sido
criado com autoridades moçambicanas, como o antigo ministro das Finanças Manuel
Chang, que se encontra detido na África do Sul e enfrenta pedidos de extradição
para Moçambique e para os Estados Unidos.
Manuel
Chang terá autorizado os empréstimos ilegais às empresas sem anunciar
ao Governo ou ao Presidente da República, à data Armando Guebuza (de 2005 a
2015).
Os EUA acusam ainda Teófilo
Nhangumele, que atuava em nome do Gabinete do Presidente da República, e
António do Rosário, que dirigia as empresas de pescas (Ematum), segurança e
manutenção marítima (Proindicus e MAM) e trabalhava para o Serviço de
Informações e Segurança do Estado (SISE) de Moçambique.
Andrew Pearse foi detido no Reino
Unido em janeiro deste ano e negociou a colaboração com a Justiça
norte-americana, que lhe deu liberdade sob caução. O neozelandês foi o segundo
arguido a dar-se como culpado, depois de Detelina Subeva e antes de Surjan
Singh, da mesma instituição bancária e financeira.
Deutsche Welle | Agência Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário