Manuel Carvalho Da Silva
| Jornal de Notícias | opinião
Durão Barroso afirmou, no passado
dia 22, no congresso da CIP, que "as elites em Portugal não têm estado à
altura" da resiliência do povo. O que são elites? Um grupo que integra os
melhores, os mais poderosos, os mais ricos?
Existem nuances na identificação
do grupo conforme o utilizador da designação ou o tipo de questões e objetivos
que se querem referenciar. De qualquer modo, está sempre em causa um grupo de
indivíduos que assume tal epíteto qualitativo como significando detenção de
poder e superioridade em tudo face ao comum dos mortais.
Na esmagadora maioria, os membros
das elites frequentam as mesmas escolas e espaços de socialização e assumem-se
como predestinados para o exercício do poder. Entendem que ao povo deve parecer
natural que estejam sempre no topo. Mesmo que pratiquem gestão danosa de
empresas ou bancos, ou cometam crimes políticos, têm direito a prémios de
milhões ou a grandes tachos como acontece com Barroso. Trata-se de uma parcela
muito decantada de uma classe social. São pessoas que têm sempre muitos
negócios entre si, que se movem nos mesmos resorts e voam pelo Mundo em
executiva ou em jatinhos, ou ainda em barcos privativos.
As elites também atravessam
crises existenciais, que podem comprometer a sua reprodução como subespécie. Um
sinal desses estados de crise são as ocasionais autocríticas, indispensáveis
para as lavagens da face perante a sociedade.
As mil famílias mais ricas do
país - a elite do capital - pagam aproximadamente 0,5% do global de receitas do
IRS, quando, se seguissem as práticas comuns em países desenvolvidos, deveriam
pagar 20 a 25%. São um grupo altamente qualificado na fuga fiscal e na arte de
fintar as leis, quando não de as fabricar em articulação com a elite dos
grandes escritórios de advogados.
Grande parte da elite empresarial
reclama a necessidade de aumentar os lucros para poder fazer mais investimento.
Contudo, desde o início deste século, os lucros aumentaram significativamente,
mas a percentagem canalizada para o investimento, em particular para o
produtivo, foi reduzindo.
Foram as elites que impuseram aos
jovens a ideia de que devem aceitar ganhar menos que os seus pais ou avós -
como se o trabalho fosse hoje menos produtivo; que a emigração é o caminho de
futuro. Assim provocaram a maior depauperização que o país sofreu desde o 25 de
Abril.
Há hoje regiões do país onde se
observa o aparecimento de projetos de investimento e ao mesmo tempo continua a
emigração de jovens e trabalhadores mais qualificados. Não será que, apesar de
discursos de sinal oposto, prosseguem as políticas de baixos salários, a par
com outras limitações que tornam impossível uma vida digna nessas regiões?
Enquanto os patrões se incomodarem com a atualização digna do SMN, ou
persistirem em impor uma política de rendimentos fechada nos temas, nos mecanismos
de discussão e nas contrapartidas que só as organizações patronais controlam,
não haverá novo modelo de desenvolvimento.
As elites portuguesas dispõem de
estudos e propostas concretas para se vencerem atrasos. Só que grande parte
delas alimenta-se do nosso subdesenvolvimento. É preciso fazer-lhes uma
barrela, forçar o surgimento de gente mais capaz e qualificar o exercício da
política.
*Investigador e professor
universitário
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