José Carlos Matias | Plataforma,
opinião
Não pode haver meias palavras. A
violência tem de parar. Já. Perante o abismo foi dado o passo em frente em Hong
Kong. Cada dia que passa a pérola financeira vizinha aproxima-se de um ponto
sem retorno. As feridas abertas diariamente são tão profundas que se torna
impossível vislumbrar uma solução no curto-prazo. É todavia urgente evitar uma
catástrofe de dimensões imprevisíveis. Para isso é crucial que os manifestantes
radicais parem imediatamente com os atos absolutamente intoleráveis e
inaceitáveis de vandalismo e violência.
Paralelamente, a polícia terá que
mudar de atitude e exercer a força com mais contenção e proporcionalidade,
nomeadamente quando lida com cidadãos ou jornalistas que nada têm a ver com os
protestos violentos.
Da Caixa de Pandora, saíram
demónios que agora ameaçam abrir as portas do inferno, infestando o ambiente
com intolerância, vandalismo, extremar de posições, desinformação, abusos em
nome da liberdade e abusos de poder. O recurso à violência é uma escolha
consciente destes jovens, por muito que os grupos radicais venham argumentar
que não têm outra opção. A banalização da violência alimentou um ciclo vicioso
e doentio.
A vertigem niilista e
autodestrutiva de um grupo minou um movimento que inicialmente tinha uma
legitimidade cívica indiscutível, patente nas manifestações pacíficas de larga
escala que tiveram lugar em junho.
A inaptidão governativa e a falta
de liderança política complicaram a situação - e de que maneira - ao ponto de
não haver sinais de poderem vir a ser dados passos para a redução das tensões.
O anúncio da criação de uma comissão independente de inquérito à violência e
incidentes surge assim como uma absoluta necessidade. É preciso também não
esquecer que, além do restabelecimento da ordem pública, a saída desta crise
passa por uma solução política de reconciliação, que terá que combinar a
concretização - da forma mais inclusiva e abrangente possível - de dois artigos
estruturantes da Lei Básica: 23º (segurança nacional) e 45º (sufrágio universal
para eleição do Chefe do Executivo). Sem esquecer um horizonte de reforma
substancial no sistema socio-económico.
O caminho do meio estreitou-se de
tal forma que se encontra por um fio, pelo que - mais que nunca - é essencial
manter o equilíbrio.
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