segunda-feira, 18 de novembro de 2019

China, Hong Kong | Por um fio


José Carlos Matias | Plataforma, opinião

Não pode haver meias palavras. A violência tem de parar. Já. Perante o abismo foi dado o passo em frente em Hong Kong. Cada dia que passa a pérola financeira vizinha aproxima-se de um ponto sem retorno. As feridas abertas diariamente são tão profundas que se torna impossível vislumbrar uma solução no curto-prazo. É todavia urgente evitar uma catástrofe de dimensões imprevisíveis. Para isso é crucial que os manifestantes radicais parem imediatamente com os atos absolutamente intoleráveis e inaceitáveis de vandalismo e violência.

Paralelamente, a polícia terá que mudar de atitude e exercer a força com mais contenção e proporcionalidade, nomeadamente quando lida com cidadãos ou jornalistas que nada têm a ver com os protestos violentos.

Da Caixa de Pandora, saíram demónios que agora ameaçam abrir as portas do inferno, infestando o ambiente com intolerância, vandalismo, extremar de posições, desinformação, abusos em nome da liberdade e abusos de poder. O recurso à violência é uma escolha consciente destes jovens, por muito que os grupos radicais venham argumentar que não têm outra opção. A banalização da violência alimentou um ciclo vicioso e doentio.


A vertigem niilista e autodestrutiva de um grupo minou um movimento que inicialmente tinha uma legitimidade cívica indiscutível, patente nas manifestações pacíficas de larga escala que tiveram lugar em junho.

A inaptidão governativa e a falta de liderança política complicaram a situação - e de que maneira - ao ponto de não haver sinais de poderem vir a ser dados passos para a redução das tensões. O anúncio da criação de uma comissão independente de inquérito à violência e incidentes surge assim como uma absoluta necessidade. É preciso também não esquecer que, além do restabelecimento da ordem pública, a saída desta crise passa por uma solução política de reconciliação, que terá que combinar a concretização - da forma mais inclusiva e abrangente possível - de dois artigos estruturantes da Lei Básica: 23º (segurança nacional) e 45º (sufrágio universal para eleição do Chefe do Executivo). Sem esquecer um horizonte de reforma substancial no sistema socio-económico.

O caminho do meio estreitou-se de tal forma que se encontra por um fio, pelo que - mais que nunca - é essencial manter o equilíbrio.

Sem comentários:

Mais lidas da semana