Vox em terceiro, Podemos cai,
Cuidadanos afunda
Um líder que não consegue maioria
para governar pela segunda vez em meio ano, depois de ter atirado o seu partido
para as quartas eleições gerais em quatro anos, que perde três deputados, mas
que é o mais votado, pode ou não ser considerado um vencedor? E o que vai fazer
com essa vitória? Em Espanha, o bloqueio continua.
Para o presidente do governo em
funções, agora é "sim ou sim" para "um governo
progressista". A multidão respondeu "com Iglésias sim, Casado
não", perante o indisfarçável incómodo do seu líder. Aos apoiantes junto à
sede do PSOE, em Madrid, Sanchez prometeu chamar para dialogar com vista à
tentativa de formação de um governo "todos os partidos, menos aqueles que
semeiam o ódio e a antidemocracia".
Os 120 deputados eleitos pelo
PSOE (menos três que após as eleições de 28 de abril) obrigam o líder
socialista (prontamente felicitado por António Costa, mal saíram as projeções)
a um exercício negocial superior àquele que não foi capaz de levar a cabo na
primavera. Agora, para governar, precisa não apenas do apoio do Unidas Podemos
(que também desceu de 42 para 35 deputados) mas também do apoio de partidos
independentistas (o apoio de partidos autonómicos mas não independentistas é
insuficiente). Mesmo com o apoio de Unidas Podemos e Mas Pais (o dissidente do
Podemos, Inigo Errejon conseguiu eleger três) ficaria com 158 (muito distante
da maioria). Se ainda somarmos o Partido Nacionalista Vasco (PNV), a Coligação
Canária, Navarra Plus, Bloco Nacionalista Galego, Partido Regionalista da
Cantábria e o Teruel Existe (movimentos de cidadãos da província de Aragão,
símbolo da Espanha vazia, desertificada, que elegeu um deputado, o arquiteto
Tomás Guitarte e ficou à frente do PSOE e PP), ficaria não obstante, a três
deputados da maioria absoluta.
Para que tal governo não
aconteça, mas, sim, um executivo de esquerdas, Pablo Iglésias invoca uma
"necessidade histórica" para travar a extrema-direita, após "a
constatação de uma irresponsabilidade", que imputa ao PSOE por ter conduzido
o país a eleições que tornaram Espanha num dos países europeus com uma
"extrema-direita mais forte". Iglésias tem razão quando diz que
"se dorme pior com mais de 50 deputados do Vox do que com uns ministros do
Unidas Podemos". O Vox de Santiago Abascal aumentou a presença no
Parlamento de 24 para 52 deputados, conseguindo três milhões e meio de votos e
tornando-se a terceira força do país. "Em menos de 11 meses", lembrou
Abascal perante o espetacular resultado. Mais extraordinário é se pensarmos
que, há quatro anos, a extrema-direita nacionalista, racista e misógina
espanhola não chegava a 1% das intenções de voto. Antes disso, estava escondida
dentro do PP de Aznar e depois Rajoy. A sentença do Procés catalão, a reação
violenta do independentismo à "violência" (no sentido da dureza) da
decisão judicial e a recente exumação dos restos mortais do ditador Franco
(finalmente retirado do "convívio" com as vítimas da ditadura e da
guerra civil no Vale dos Caídos) podem ajudar, pelo menos parcialmente, a explicar
a subida.
O Cuidadanos de Albert Rivera já
nem no top 5 figura, tal foi o descalabro de uma descida de 57 para 10
deputados, atrás dos 13 da Esquerda Republicana da Catalunha, que será a quinta
maior força do Congresso. Na verdade, o independentismo catalão reforçou a sua
presença no Parlamento do país do qual quer sair. E esta vai continuar a ser a
grande questão política do país. Como tratar a questão subnacional? Com o
artigo 155 aplicado de forma implacável como o Vox defende, ou avançando para
uma discussão séria e abrangente sobre a atualidade - ou falta dela - dos
preceitos constitucionais que impedem o exercício do direito à autodeterminação
ou uma federalização do país? Quatro eleições em quatro anos e... não há
solução à vista. O PSOE vence as eleições, mas com menos vantagem do que na
primavera e, mais uma vez, não vai ser fácil encontrar uma solução de governo
estável. O bloqueio continua.
Ricardo Alexandre | TSF
Na imagem: Eleitores voltaram às
urnas em Espanha | © Salas/EPA
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