As afirmações do titular da pasta
dos Assuntos Económicos são bem reveladoras do jogo do «nós» e do «eles» em que
Bruxelas se move. «Eles», os países que se submetem, e «nós», os que
definimos como devem viver esses países.
AbrilAbril | editorial
O comissário europeu Pierre
Moscovici admitiu que as previsões da Comissão Europeia para Portugal nos
últimos anos têm sido pessimistas mas que, tal como no jogo do Monopólio, «é
melhor que o erro da banca seja a nosso favor do que o inverso».
As afirmações do titular da pasta
dos Assuntos Económicos, esta quinta-feira, são bem reveladoras do jogo do
«nós» e do «eles» em que Bruxelas se move. «Eles», os países que (com as devidas excepções) se submetem e são obrigados a
cumprir a agenda neoliberal, e «nós», os que definimos como devem viver esses
países, em termos financeiros e, necessariamente, em termos sociais.
Embora não seja propriamente uma
novidade, o discurso dá uma ideia do jogo jogado pela União Europeia, onde a
soberania – monetária mas também orçamental – é coisa do passado, imperando os
dogmas da redução do défice tanto quanto possível, independentemente das consequências
para o desenvolvimento dos países e para a vida das populações.
Neste sentido, Pierre Moscovici
elogiou ontem o desempenho alcançado por Portugal em termos de crescimento
económico (obtido através de medidas como a reposição de rendimentos aos trabalhadores
e pensionistas, para as quais Bruxelas pede sempre muita cautela) e no tão
apreciado ajustamento orçamental, destacando como «muito boa notícia» a
previsão de que o País – consumido como está pela degradação dos serviços
públicos, de que a falta de pessoal nas escolas e no SNS tem sido exemplo – possa chegar a um défice zero
em 2020.
O que pelos vistos não pára de
baralhar as «contas certas» que Centeno proclama são as despesas com o Novo
Banco, que Bruxelas preferiu vender a pretexto da «estabilidade financeira e do
crescimento da economia e do emprego», mas que, a confiar no dinheiro público
que lá é injectado, só tinha que estar nas mãos do Estado e ao serviço do
País.
Entende a Comissão Europeia que,
se não fosse o banco herdado de Ricardo Salgado, Portugal teria já este ano um
excedente orçamental equivalente a 0,5% do PIB e de 0,4% em 2020. Dizem
os números que o excedente orçamental é já positivo há vários anos e que
só se converte em défice quando entra a parcela dos juros da dívida.
Uma dívida que se tarda em
renegociar nos seus montantes, juros e prazos, para que continuem a ser
drenados milhares de milhões de euros para o grande capital – o tal que tem em
Bruxelas e nos Moscovici's desta vida, os executores da sua cartilha,
aqueles que defendem os monopólios e jogam com a vida de quem trabalha e
trabalhou.
Na imagem: Pierre Moscovici elogiou ontem o desempenho alcançado por Portugal em termos de
crescimento económico | Olivier Hoslet / EPA
Sem comentários:
Enviar um comentário