Na Guiné-Bissau, há suspeitas de
que o dinheiro proveniente do crime organizado esteja a ser "lavado"
na campanha eleitoral. Partidos visados negam. Jurista pede leis para controlar
o dinheiro utilizado na campanha.
A campanha eleitoral, que termina
na próxima sexta-feira na Guiné-Bissau, é alvo de crítica por parte de vários
atores da sociedade guineense, não só pelos fracos
conteúdos dos discursos políticos, mas também pela ostentação de meios,
nomeadamente viaturas de alta cilindrada "zero quilómetros", na caça
ao voto.
A logística eleitoral de
"luxo" exibida pelos candidatos contrasta com a realidade da condição
de vida dos eleitores, num país onde a maioria da população enfrenta graves
problemas, sobretudo os que estão no interior do país. É fácil descobrir a
diferença de meios entre partidos que já passaram ou ainda estão no poder com
os que nunca estiveram na liderança na Guiné-Bissau.
"PAIGC com carros de luxo”
O antigo primeiro-ministro,
Carlos Gomes Júnior ("Cadogo"), candidato presidencial independente,
é uma das vozes contestatárias.
"O PAIGC [Partido Africano
para a Independência da Guiné-Bissau, no poder] hoje está na disposição de
carros de luxo, enquanto os funcionários não são pagos e os combatentes da
liberdade da pátria estão doentes, sem meios para se tratarem", referiu
Cadogo, que, em 2012, enquanto candidato e líder do PAIGC também foi alvo da
mesma crítica dos opositores.
O que mais tem merecido debate
são as origens dos fundos e meios da campanha, que nenhum dos doze candidatos
foi ainda capaz de explicar, nas diferentes ocasiões em que foram questionados
sobre a matéria.
Umaro Sissoco Embaló, candidato
apoiado pelo Movimento para a Alternância Democrática da Guiné-Bissau
(MADEM-G15), acusou em outubro o PAIGC de beneficiar do tráfico de droga
no país, devido aos meios que ostenta nas campanhas eleitorais.
O candidato presidencial do partido
no poder, Domingos Simões Pereira, rejeita as acusações: "Nunca me cruzei
com o tráfico de drogas. Eu e a droga nunca nos encontrámos. Os meios que
apresentamos demonstram a minha grandeza e a do PAIGC".
Mas as dúvidas continuam quanto à
origem do dinheiro da campanha. E o problema não é só de agora. A seguir às
campanhas, os partidos guineenses têm de apresentar um relatório de contas à
Comissão Nacional de Eleições, mas, depois das últimas legislativas de março
passado, só um partido o fez, o Partido de Unidade Nacional (PUN), liderado por
Idriça Djaló, também candidato à Presidência guineense.
Lei sobre financiamento eleitoral
No país, continua a não haver
limites legais para as despesas dos partidos durante a campanha eleitoral. E o
jurista Augusto Nhaga alerta para necessidade de adotar uma lei que regule o
financiamento da campanha eleitoral, para saber a origem do dinheiro dos
partidos.
"Temos que ter a coragem de
legislar sobre o financiamento das atividades das campanhas eleitorais, porque
estamos num vazio e ninguém é questionado sobre a origem do financiamento da
sua campanha. Não tendo mecanismos para controlar a origem dos fundos, as
atividades ilícitas que geram rendimento precisam de integrar nos circuitos
económicos e os 'branqueadores' procuram mecanismos para poderem integrar esses
fundos", disse Nhaga em entrevista à DW África.
Meios para compra de votos?
Entretanto, o Secretário
Executivo do Fórum Nacional da Juventude e População, Baite Badjana, apela aos
eleitores guineenses para não se deixarem influenciar pelo luxo ostentado nas
campanhas, ou por tentativas de compra de consciência.
"O nosso apelo vai no sentido
de a população ser mais consciente e não se deixar cair facilmente por bens
materiais". Seja por donativos de bicicletas, motorizadas ou arroz,
como tem acontecido nas campanhas.
Numa altura em que há acusações
entre os candidatos sobre o uso de meios de luxo na campanha, os mesmos
reconhecem, nos comícios e debates, as dificuldades de muitos guineenses para
terem acesso a serviços básicos, que devem ser assegurados pelo Estado.
Iancuba Dansó (Bissau), bd |
Deutsche Welle
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