Daviz Simango insurgiu-se contra
a estratégia apontada pela FRELIMO, partido no poder, para combater os ataques
de homens armados. O líder do MDM pede diálogo sobre a questão da violência em
Cabo Delgado.
Na madrugada desta terça-feira
(26.11) registou-se mais um ataque armado no povoado de Chibuto, distrito de
Gondola, em Manica, que matou uma pessoa. Um residente local foi torturado
pelos atores do ataque violento. O ataque ocorreu ao longo da Estrada Nacional
N1, a trinta quilómetros do cruzamento de Inchope.
O líder do Movimento Democrático
de Moçambique (MDM), segunda maior força da oposição, Daviz Simango, critica a
Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, e Resistência
Nacional Moçambicana (RENAMO), maior partido da oposição, pelo uso
das armas e pede uma solução pacífica para o conflito armado.
"Definitivamente ninguém
pode matar o outro, nós condenamos qualquer tipo de força maior que tira a vida
a um cidadão", sublinha Simango.
O líder do MDM afirmou ainda que
o acordo de agosto, assinado em Maputo, entre o Presidente moçambicano, Filipe
Nyusi e o líder da oposição, Ossufo Momade, não trouxe nenhum fruto: "Não
faz sentido que, depois de 6 de agosto, quando se assinou o acordo de paz de
Maputo, vais a uma votação e as armas tocam na mesa de votação. Não faz
sentido, depois de 6 de agosto, os carros serem queimados.
O país está a precisar duma nova ordem política e essa nova ordem política
tem de ser diferente da tradição".
Perseguição não é solução
Daviz Simango teceu este
posicionamento em resposta ao Presidente da República, Filipe Nyusi, que há
dias exortou as forças armadas a "usarem a força" para travar os
ataques e perseguir os responsáveis. "Não pode haver perseguição, seria
perseguir pessoas inocentes. Vamos continuar a destruir o país e, lembrem-se,
nenhuma pessoa conseguiu acabar com a guerrilha. Pode se cantar a vitória hoje
e amanhã voltar a cantar guerra", frisou Simango.
O presidente do MDM lembra que,
tanto para a guerra civil, que durou 16 anos, como para o conflito armado de
2013-2016, foi preciso uma negociação de paz que acabou por unir as ambas
partes. Por isso, sugeriu que o mesmo método seja implementado agora, antes
que se perca mais tempo com combates e perseguições, quer com a alegada Junta
Militar da RENAMO, quer com os homens armados, em Cabo Delgado.
Motivos dos ataques
"Quem é que está a matar em
Cabo Delgado? Mas aqueles são irmãos moçambicanos. Não sei que estrangeiros
encontraram a matar as pessoas, mas estão a matar porquê? Não é por causa da
exclusão? Os recursos como é que estão a ser geridos? Como é que aquela
gente iniciou aquele processo todo? Será que foi a belo prazer acordar de
manhã, fumar um charuto e dizer 'vamos começar a matar pessoas'? Há razões para
isso?", questiona o líder do MDM.
Desde as vésperas das eleições
gerais de 15 outubro que a região centro do país, concretamente as
províncias centrais de Sofala e Manica, tem sido palco de ataques armados.
Inicialmente, eram reivindicados pela Junta Militar da RENAMO, um grupo de
descontentes. Entretanto, após as eleições, há dificuldades em identificar os
atacantes, mas o Governo aponta o dedo acusador à RENAMO. No entanto,
o líder do partido Ossufo Momade nega, alegando ser o guardião da paz.
Na última semana, a Polícia da
República de Moçambique em Quelimane, centro do país, capturou seis homens
alegadamente ligados à autoproclamada Junta Militar da RENAMO, mas a Junta diz
desconhecer os detidos. Entretanto, os detidos acusaram alguns deputados
da RENAMO de serem os instigadores dos ataques. Essas acusações foram refutadas
pelos parlamentares.
"Eu, Sandura Vaz, não tenho
nada a ver com a Junta Militar. Não tenho, nunca tive e nunca vou ter. Mas
sim, tenho laços com os membros da RENAMO. Nunca e em nenhum dia financiei ou
dei dinheiro aos grupos de Mariano Nhongo para atos ou qualquer outra situação,
nunca. Nunca mandei nenhum dinheiro e não financio nenhum grupo da Junta
Militar", disse o deputado da RENAMO Sandura Vaz, um dos visados no
alegado financiamento dos dissidentes fiéis a Mariano Nhongo.
Arcénio Sebastião (Beira) |
Deutsche Welle
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