Relatório surge em meio a um
conflito entre a França e o resto da aliança, que irrompeu depois de Macron
questionar publicamente a relevância da OTAN.
Um think tank (organização de
influência social e política), sediado em Londres, afirmou que as forças
britânicas e da OTAN seriam completamente "ultrapassadas" em um
eventual conflito com a Rússia.
O Instituto Real de Serviços
Unidos (RUSI, na sigla em inglês), uma entidade britânica líder em questões de
defesa e segurança, elaborou um relatório sobre as tendências da tecnologia de
fogo e os efeitos destes sistemas em um futuro campo de batalha.
Uma anotação no
site do RUSI afirma que "a crescente densidade e sofisticação do Sistema
Integrado de Defesa Antiaérea da Rússia promete assaltar o apoio aéreo das
forças terrestres da OTAN nas primeiras semanas de qualquer conflito de alta
intensidade no Leste Europeu".
Se for esse o caso, as forças terrestres da OTAN teriam de contar com a força
da sua artilharia, que neste momento tem "menos munições, alcance inferior
e menos armas" se comparada à artilharia da Rússia, sugere o relatório.
O relatório deverá ser publicado
na íntegra em um evento na Rua Whitehall, na sexta-feira (29). Em trechos
publicados pela BBC, o think tank adverte que o Reino Unido também teria
"menos armas e alcance, deixando a artilharia inimiga livre para avançar
suas missões de fogo impunes".
"Isto deve, em última
análise, paralisar e suprimir as armas e os elementos de manobra britânicos e,
assim, levar a uma derrota total das unidades britânicas."
RUSI escreveu ainda que isso
significa que o governo britânico deve investir em estoques de munições guiadas
com precisão ou descontinuar seus compromissos sob a Convenção de Oslo, que
proíbe o uso e aquisição de bombas de fragmentação.
O governo minimiza as
preocupações
O Ministério da Defesa do Reino
Unido respondeu ao relatório dizendo que a Grã-Bretanha "não está sozinha,
mas ao lado dos seus aliados da OTAN, que trabalham em estreita colaboração
através do ar, mar, terra, energia nuclear e cibernética para dissuadir ameaças
e responder a crises".
A Defesa britânica ainda
acrescentou que seu Exército está "bem equipado para assumir um papel de
liderança no combate às ameaças e na garantia da segurança do povo britânico,
tanto a nível interno como externo".
Financiamento e falta de pessoal
Os dados mais recentes do
ministério mostram que o número de militares britânicos formados a tempo
inteiro diminuiu em nove anos consecutivos, com todos os ramos combinados
apresentando um déficit de 7,6% entre o número de tropas necessárias e as
efetivamente alistadas. Um relatório separado do The Guardian descobriu em agosto
que as unidades de combate da linha da frente do Reino Unido estão operando em
40% abaixo de sua força ideal.
No início deste ano, o órgão de
controle das despesas parlamentares descobriu que o Ministério da Defesa
britânico tinha um déficit de financiamento de pelo menos US$ 9 bilhões (cerca
de R$ 38 bilhões) no seu plano decenal para equipar suas Forças Armadas, e que
esse déficit poderia duplicar até 2028.
O Reino Unido continua sendo o
maior gastador com defesa da OTAN na Europa, embora se estime que esteja atrás
da França em termos de força militar total.
Cerca de 900 militares britânicos
estão instalados em rotação na Estônia e na Letônia, que fazem fronteira com a
Rússia, e nas vizinhas Lituânia e Polônia, como parte da política de reforço
dos flancos orientais da OTAN, que tem sido duramente criticada pela Rússia como sendo prejudicial às
relações internacionais.
Emmanuel Macron, presidente da
França, terceiro maior país gastador com defesa da OTAN, pôs há pouco tempo
abertamente em causa a relevância da aliança. Em uma entrevista bombástica,
declarou que a OTAN está sofrendo "morte cerebral", citando uma falta
de coordenação entre seus membros, como foi o caso da invasão turca de outubro
no nordeste da Síria.
Sputnik | Imagem: © Reuters /
Ints Kalnins
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