Extremistas de direita semeiam
ódio nas ruas e na internet. Diante de seu número crescente e dos assassinatos
que abalam a Alemanha, órgãos de segurança estão finalmente aprendendo a lição,
opina Marcel Fürstenau.
A lista do terror está ficando
cada vez mais longa: no estado alemão de Hessen, um suposto neonazista matou o
político local Walter Lübcke; e na cidade de Halle, na Saxônia-Anhalt,
um atentado fracassado à sinagoga repleta de fiéis fez duas vítimas.
Todos os dias, em algum lugar da
Alemanha, cidadãos são insultados e agredidos devido à cor de sua pele, sua
religião ou orientação sexual. O Departamento Federal para a Proteção da
Constituição (BfV), serviço secreto interno alemão, classifica agora 12,7 mil extremistas
de direita como de orientação violenta.
Em comparação: em 2011, quando
foi descoberto o grupo terrorista Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU),
que cometia assassinatos em todo o país, havia apenas 9,8 mil.
Por falar da NSU: "fracasso
estatal completo" foi a conclusão devastadora de uma comissão de
investigação do Parlamento alemão. O foco das críticas recaiu, com razão, sobre
a polícia e o BfV, que por muito tempo não quis ver qualquer motivação racista
por trás da série de assassinatos e atentados, apesar das provas claras.
Autoridades e políticos
prometeram melhorias. Mas as trocas de pessoal nas chefias dos órgãos de
segurança e as mudanças organizacionais se mostraram fundamentalmente
ineficazes.
As opiniões divergem quanto às
razões e os responsáveis por essa ineficácia. Uma explicação é certamente a
longa fixação no terrorismo de cunho islâmico. Após o atentado a um mercado de
Natal de Berlim, em dezembro de 2016, as autoridades de segurança devem ter
visto confirmada, sua avaliação da situação, de maneira francamente macabra. No
entanto, elas têm que aceitar a acusação de negligenciar a ameaça proveniente
da extrema direita.
No caso do serviço secreto
doméstico alemão, os críticos viram uma conexão com Hans-Georg Maassen,
ex-presidente do órgão, substituído em 2018. Alguns o acusaram de simpatizar
com a legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que
descambava cada vez mais para a cena nazista e de ultradireita.
Fundada seis anos atrás, no
início de 2019 a AfD foi parcialmente declarada pelo sucessor de Maassen,
Thomas Haldenwang, como "caso suspeito" – um estágio preliminar para
a vigilância pelos órgãos de inteligência.
O mais tardar desde essa
compreensível decisão, não há mais motivo para duvidar da determinação do BfV
na luta contra o extremismo de direita. Pois está claro que o serviço secreto
doméstico alemão considera alguns líderes e tendências da AfD como agitadores
ideológicos.
Finalmente lá se vão os dias em
que o perigo da direita era minimizado com referências a supostos infratores
individuais. "Para mim, existem agora casos individuais em demasia",
aponta Haldenwang, presidente do BfV, com clareza tão digna de nota quanto
atrasada.
No entanto, falar claramente é
uma coisa, agir de acordo é outra. Mas Haldenwang merece elogios também nesse
aspecto: desde meados do ano corrente, novas equipes do BfV se ocupam do
extremismo de direita. Com 300 vagas adicionais no órgão de segurança, passará
a ser fortalecida a expertise científica, entre outras.
Aparentemente também pertence ao
passado a falsa consideração concedida aos extremistas de direita nas próprias
fileiras do BfV. O mesmo se aplica ao Departamento Federal de Investigações
Criminais (BKA), cujo presidente Holger Münch segue o mesmo caminho de seu
colega da inteligência doméstica alemã.
Em breve, um "retrato da
situação do extremismo de direita" deverá abordar todo o serviço público
na Alemanha, com seus cerca de 4,7 milhões de funcionários. Isso inclui a
Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha), que foi motivo de pavorosas manchetes
em 2017, com a suposta rede extremista de direita do soldado Franco A.
No entanto, é um bom sinal que se
ouçam, das autoridades de segurança alemãs, tons cada vez mais autocríticos.
Quando a polícia e o BfV se ocupam dos próprios erros, seus esforços contra
todos os inimigos da democracia soam muito mais credíveis – algo que fez falta
durante muito tempo. Por vezes, os extremistas de direita deviam se sentir até
encorajados diante da pouca – na pior das hipóteses, nenhuma – pressão de
perseguição.
O ministro alemão do Interior,
Horst Seehofer, responsável pela polícia e pelo serviço secreto doméstico do
país, resumiu: "Era preciso ter levado isso a sério mais cedo!" Ele
se referia à "trilha de sangue" iniciada pelo grupo terrorista NSU em
2000 e que infelizmente não deverá terminar com o ataque à sinagoga em Halle em
2019.
Mas todos estão mais atentos no
setor por que ministro do Interior é politicamente responsável. As autoridades
subordinadas a Seehofer estão finalmente vigilantes para com o extremismo de
direita.
Marcel Fürstenau | Deutsche Welle
| opinião
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