Isabel dos Santos diz que
Portugal tem um "preconceito" contra empresários angolanos e que há
uma "caça às bruxas" contra a sua família.
Isabel dos Santos rejeita que
alguma vez tenha sido favorecida pelo pai enquanto Presidente de Angola. A
empresária angolana afirma não foi escolhida pelo pai para liderar a
Sonangol, mas sim pelo governo angolano, que representa "várias
pessoas", apesar de durante 36 anos os sucessivos governos terem sido
presididos por José Eduardo dos Santos.
O Governo "não era presidido
pelo meu pai, era presidido pelo Presidente da República. Infelizmente,
que eu saiba, lá em casa ele só preside ao almoço. Porque é importante fazer
esta distinção. É preciso distinguir a pessoa da função", afirma
Isabel dos Santos em entrevista ao Observador. E
reforça: "Eu não tenho dúvidas que o trabalho que fiz na Sonangol foi um
trabalho extraordinário [...] um trabalho que marcou a diferença."
A empresária também não olha com
estranheza para o facto de quatro filhos de José Eduardo dos Santos terem
ocupado lugares em empresas-chave de Angola, durante o mandato. "Filho
você vai ser sempre. Mas você não é só filho, é muito mais do que filho. Além
de filho tem outras categorias, tem outros atributos", argumenta.
A mulher mais rica de Angola?
Isabel dos Santos reconhece que a
corrupção em Angola é um problema que tem de ser combatido, mas sublinha que
sempre trabalhou no setor privado, "muito pouco"com empresas
públicas. Também diz que "não sabe" se é a mulher mais rica de
Angola, como afirma a Forbes, nem quantas empresas do país detém. Apenas
reconhece que são "muitas".
Questionada sobre qual a
faturação de todas as suas empresas, a empresária também não sabe responder.
"Por uma questão muito simples: nós não somos um grupo empresarial único,
portanto os investimentos são investimentos separados", justifica.
Os números "são muito
grandes", diz Isabel dos Santos, revelando que grande parte das empresas
sobre as quais tem influência faz parte da lista dos grandes contribuintes do
Ministério das Finanças em Angola.
"Fazer esse somatório não é
um exercício que eu faça porque acho que não é um exercício útil."
O "preconceito"
português
Para Isabel dos Santos, Portugal
tem "preconceito" em relação aos investidores angolanos. E a SIC
mente quando diz que a empresária, o marido e a mãe são mencionadas no
relatório do Banco de Portugal que fala em problemas de controlo dos riscos de
branqueamento de capitais no banco BIC. "Essa informação que a SIC dá, não
corresponde com a verdade [...] Não há dúvidas que há aqui uma intenção
clara de denegrir a minha imagem."
A empresária, que detém 42,5% do
BIC alega que as fragilidades encontradas são uma herança do BPN. "Quando
se compra um banco, que é um banco que tinha graves problemas, obviamente que
esses problemas não desaparecem num dia", diz.
Também acusações da eurodeputada
Ana Gomes são falsas, fruto da uma estratégia política negativa sem provas,
condena a empresária.
Uma "caça às bruxas"
contra a família Santos
O que Isabel dos Santos diz
ser uma "caça às bruxas" contra a sua família não é exclusiva de
Portugal. A empresária diz que não vai a Angola desde 2018, não só devido à
elevada criminalidade do país, mas porque considera que pode ser um alvo.
"Não há dúvida de que há uma
tendência de fazer parecer que todos os males que havia na sociedade eram
responsabilidade de um grupo pequenino de pessoas, que era o Presidente e a sua
família."
O afastamento não nada a ver com
o processo aberto pela Procuradoria-Geral da República na sequência de queixa
de Carlos Saturnino relativa à Sonangol, garante. Não é uma questão política, é
uma questão pessoal. "Se me pergunta se há uma perseguição à família
do antigo Presidente dos Santos, sim, há, isso é claro."
Questionada sobre se tinha votado
em João Lourenço, em 2017, a empresária respondeu que votou no MPLA, mas não o
fará nas próximas eleições a menos que o partido mude de estratégia. "Não
acredito que com o programa que o MPLA está a fazer neste momento se consiga
sair da crise [...] Os últimos dois anos têm um balanço desastroso."
Carolina Rico | TSF | Imagem: © Eneias
Rodrigues/Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário