domingo, 15 de dezembro de 2019

Angola | Os casos de subnutrição


Jornal de Angola | editorial

Os casos de subnutrição no país são preocupantes, a julgar pelo quadro clínico hospitalar das pessoas, sobretudo crianças de tenra idade, que dão entrada nos hospitais.

Embora a malária, na maior parte dos casos, seja o motivo da ida aos hospitais e centros de saúde, muitas vezes em fase avançada e complicada, o aspecto nutricional de grande parte das crianças determina também os numerosos casos de internamento.

Na quinta-feira, a Rádio Nacional de Angola noticiou que dos 100 casos que deram entrada no Hospital Pediátrico de Luanda vinte e cinco podiam falecer por causa da subnutrição, um alerta que deve servir para a tomada de medidas. Embora se trate de um caso, eventualmente pontual, atendendo ao contexto, não há dúvidas de que se está perante um quadro completamente preocupante. Afinal, os casos de subnutrição que acabam por ser fatais lembram, a todos nós, a necessidade de tomada de medidas que incidam sobre a vida antes, pouco depois do nascimento até aos cinco anos, fase encarada, muitas vezes, como de elevada vulnerabilidade.

Sabemos todos que há um grande esforço da parte das unidades hospitalares no sentido de superarem, nas condições que laboram, os problemas que envolvem situações de subnutrição, nas crianças do zero aos cinco anos de idade.

Na verdade, para muitos hospitais e centros hospitalares os problemas de subnutrição, chegados a essas unidades, muitas vezes, em fase muito avançada, são problemas que transcendem a capacidade dos mesmos em resolvê-los. Os caos de desnutrição, situação que necessariamente envolve os agregados familiares, devem ser superados à montante, pelas famílias e não directamente pelas unidades hospitalares. É verdade que não faltarão vozes que se vão levantar, defendendo que as famílias estão sem recursos para fazer face aos desafios relacionados com o quadro de desnutrição que, algumas vezes, vivem as crianças de tenra idade. Estamos todos de acordo porque é verdade que a situação por que passam as famílias, sobretudo no que a saúde dos mais novos, portanto, os mais vulneráveis, diz respeito, é da responsabilidade primária do Estado.

A garantia para a efectivação daqueles direitos, a começar com as condições de habitabilidade, acesso à água potável, com a melhoria do poder de compra das famílias, entre outros, tem de ser salvaguardada pelo Estado.

Mas do mesmo modo como é, naturalmente, questionável a responsabilidade do Estado em assegurar determinados direitos, deve ser igualmente questionável a forma como as famílias materializam os seus deveres para com os mais novos. Não é segredo para ninguém que muitos com responsabilidades paternais, homens e mulheres, se furtam a cumprir com as suas responsabilidades e como exemplo podíamos citar os casos de fuga à paternidade. Não são poucas as mães que, praticamente sozinhas, dependendo de si mesmas e muitas vezes desempregadas, acorrem à pediatria com os filhos enfermos sem um único apoio do pai da criança. Isto além dos casos em que os progenitores com filhos de tenra idade dividem-se entre a compra de bebidas alcoólicas e a aquisição de bens alimentares capazes de afugentar o espectro da subnutrição, optando pelo primeiro. E nestes casos, para muitos, a perspectiva da culpa e da responsabilidade do Estado prevalecem independentemente da negligência e da irresponsabilidade dos pais nos casos de internamento que envolvem subnutrição.

Sem comentários:

Mais lidas da semana