domingo, 29 de dezembro de 2019

Ativista da Guiné Equatorial detido há três semanas sem acusação


O ativista equato-guineense Luís Nzó está detido há mais de três semanas sem acusação e sem que as autoridades do país tenham dado resposta a um "habeas corpus" entretanto interposto, denunciaram os seus advogados em declarações à Lusa.

"Ele regressava a casa com os seus filhos no passado dia 6 ao fim da tarde quando foi abordado pela polícia. Levaram-no primeiro à Presidência e daí ao comissariado central da Polícia, que chamam Guantánamo, e aí o têm detido até hoje, mas não o acusam de nada", disse Angél Obama, um dos advogados de Luís Nzó.

Até agora, o ativista não foi conduzido a um juiz ou submetido a qualquer interrogatório formal, indicou por outro lado, Maria Jesus Bikene Obiang, também advogada de Luís Nzó.

Isto mesmo foi confirmado à Lusa por Jerónimo Ndong Mesi, secretário-geral da União Popular, entretanto afastado da função pela justiça guineense. Jeronimo Ndong, amigo pessoal de Luís Nzó, tem visitado o ativista todos os dias e confirmou à Lusa que o ativista "foi detido no dia 6 e até hoje não lhe disseram nada".

"O grave no país é que se sequestre pessoas e não se diga nada", sublinhou Angél Obama. "Por isso interpusemos o 'habeas corpus'. Se se detém alguém não só tem que haver um argumento judicial, como a pessoa detida tem que ser apresentada a um juiz".

"Na atual situação, Luís Nzó está sequestrado. A intenção deste 'habeas corpus' foi a de forçar a acusação ou a libertação após mais de 72 horas de detenção", mas ninguém dá qualquer resposta. Nada!", disse a mesma fonte.

"Ele está detido num comissariado da polícia. Não houve qualquer interrogatório formal. Após uma detenção, a polícia deve fazer um atestado, também não o fez", explicou Angél Obama.

"O grave é que ninguém sabe o que vai acontecer com ele. Não se sabe até quando vão mantê-lo detido. Estamos em período de férias judiciais até 15 de janeiro, mas numa situação destas, como a do caso do Luís, isso não pode ser argumento para a ausência de decisão", defendeu ainda.


No momento da interpelação, Nzó terá sido questionado pela polícia sobre duas mensagens que tinha no seu telemóvel. Numa delas dava conta de que o chefe de Estado, Teodoro Obiang, não iria participar na Cimeira do Clima, realizada no início do mês em Madrid; e na outra dava voz ao rumor de que o Presidente equato-guineense tinha assistido pessoalmente à tortura de sequestrados, envolvidos na alegada tentativa de golpe de Dezembro de 2017.

"Os agentes perguntaram-lhe como sabia que o Presidente tinha assistido à tortura dos sequestrados e como sabia que não iria a Madrid e ele disse que o sabia pelas redes sociais, que eram rumores. Mas aqui é sempre assim, nunca se sabe nada, só há rumores", explicou Bikene Obiang.

Angél Obama e Jerónimo Ndong Mesi confirmam a alegada razão da detenção.

O advogado equato-guineense Ponciano Mbomio Nvó denunciou no final de novembro último a detenção de quatro opositores ao regime do Presidente Teodoro Obiang, adiantando que tinham sido "sequestrados" no Sudão do Sul e levados para cadeias na Guiné Equatorial.

Entre esses quatro elementos da oposição sequestrados, "dois são ex-militares do Exército espanhol, guineenses, mas com nacionalidade espanhola", disse também.

As mensagens encontradas no telemóvel de Luís Nzó, segundo o que a polícia terá transmitido ao próprio, referir-se-iam a estes quatro opositores, que teriam sido "torturados na presença" do próprio chefe de Estado, de acordo com os relatos coincidentes das três fontes contactadas pela Lusa.

Jerónimo Ndong Mesi acrescentou ainda que Nzó terá sido detido quando seguia para casa com os seus filhos, que "seguiam à frente", no final do trabalho.

"Ele sobrevive como vendedor ambulante, trazia a carreta com as mercadorias e eles levaram-no com tudo. Agora, a mulher está a tentar que lhe deem as coisas, para continuar a vender e alimentar os filhos, mas nem isso", relatou.

Notícias ao Minuto | Lusa

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