Jesus Santrich, ex-comandante das
FARC, Maio 2019
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Maurice Lemoine [*]
… os dois homens [Macron e
Duque], infelizmente, não tiveram tempo de evocar os 7 milhões de deslocados
internos colombianos, nem os 462 dirigentes sociais, comunitários, indígenas,
camponeses e defensores dos direitos humanos assassinados no país, de janeiro
de 2016 a
fevereiro de 2019 (incluindo 172 em 2018), a crer no Provedor de Justiça
(Ombudsman) Carlos Negret, nem os 133 ex-guerrilheiros executados (assim como
34 membros das suas famílias), depois de haverem deposto as armas, confiantes
na palavra do Estado.
Em visita oficial à França, o
presidente colombiano, Iván Duque, foi recebido, em 19 de junho, no Palácio do
Eliseu. Na ocasião, o presidente Emmanuel Macron recordou o empenhamento de
Paris no pleno êxito dos acordos de paz, assinados em 24 de novembro de 2016,
entre o poder e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), "acordos
financeiramente apoiados numa base bilateral, com a intermediação da União
Europeia", realçou ele. No que lhe diz respeito, Duque evocou
sobretudo "a sua preocupação com as consequências na Colômbia da
crise migratória venezuelana". Em linha com o seu interlocutor –
Paris e Bogotá reconheceram o "imaginário presidente"venezuelano,
Juan Guaido, e invocaram o Tribunal Penal Internacional (TPI) para julgar o
legítimo chefe de Estado, Nicolás Maduro, que, obstinadamente, se recusa a
deixar-se derrubar – Macron anunciou que a França irá duplicar este ano sua
contribuição para o Alto Comissariado da ONU para os refugiados (ACNUR) e para
o Comité Internacional da Cruz vermelha (CICV), colocando sobre a mesa 1 milhão
de euros para ajudar os migrantes e deslocados venezuelanos.
Com uma agenda manifestamente muito carregada, os dois homens, infelizmente, não tiveram tempo de evocar os 7 milhões de deslocados internos colombianos [1] , nem os 462 dirigentes sociais, comunitários, indígenas, camponeses e defensores dos direitos humanos assassinados no país, de janeiro de2016 a fevereiro de 2019
(incluindo 172 em 2018), a crer no Provedor de Justiça (Ombudsman) Carlos
Negret, nem os 133 ex-guerrilheiros executados (assim como 34 membros da sua
família), depois de haverem deposto as armas, confiantes na palavra do
Estado [2] .
Para não deixar o campo aberto a uma possível e leve sensação de desconforto, o ministro da Transição Ecológica, François Henri Goullet de Rugy ("macronista" de fresca data, tendência "o verde está no fruto" [3] ), assinou um acordo bilateral de cooperação para a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais com o seu homólogo Ricardo Lozano, que fazia parte da delegação colombiana. Também aí, por uma questão de equilíbrio e de não ingerência nos assuntos internos de um Estado soberano, foi assumido não mencionar a autorização dada por Bogotá para a exploração não convencional, por fraturação hidráulica (" fracking "), do petróleo e do gás de xisto presentes no subsolo colombiano; as primeiras experiências vão arrancar continuamente em33.915 quilómetros quadrados, nos departamentos
de Santander, César, Bolívar e Antioquia [4] .
Caro ao presidente francês – como este recordou por ocasião da assinatura de um
acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercado Comum do Sul
(Mercosul) – a implementação do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas
encontrar-se-á, sem dúvida, muito facilitado...
Paradoxalmente, foi dos Estados Unidos que, para o presidente de extrema-direita Iván Duque, vieram as contrariedades. Com efeito, em 18 de maio, numa manchete de uma " primeira página " muito notada, o New York Times afirmou: "As novas ordens do exército colombiano para matar preocupam" [5] . Baseada em documentos oficiais e testemunhos anónimos de oficiais de alta patente, a investigação revelou as instruções do comandante-em-chefe das forças armadas nomeado por Duque, em dezembro de 2018, o general Nicacio Martínez, exigindo das suas tropas que duplicassem o número de "capturas" e de "eliminação de criminosos". A injunção recorda a sinistra prática dos "falsos positivos" que, para "fazer número", levaram à execução de civis apresentados como guerrilheiros mortos em combate – 2.248 vítimas, entre 1988 e 2014 (oficialmente), dos quais, mais de 90% durante os dois mandatos do mentor de Duque, Álvaro Uribe (2002-2010).
Com uma agenda manifestamente muito carregada, os dois homens, infelizmente, não tiveram tempo de evocar os 7 milhões de deslocados internos colombianos [1] , nem os 462 dirigentes sociais, comunitários, indígenas, camponeses e defensores dos direitos humanos assassinados no país, de janeiro de
Para não deixar o campo aberto a uma possível e leve sensação de desconforto, o ministro da Transição Ecológica, François Henri Goullet de Rugy ("macronista" de fresca data, tendência "o verde está no fruto" [3] ), assinou um acordo bilateral de cooperação para a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais com o seu homólogo Ricardo Lozano, que fazia parte da delegação colombiana. Também aí, por uma questão de equilíbrio e de não ingerência nos assuntos internos de um Estado soberano, foi assumido não mencionar a autorização dada por Bogotá para a exploração não convencional, por fraturação hidráulica (" fracking "), do petróleo e do gás de xisto presentes no subsolo colombiano; as primeiras experiências vão arrancar continuamente em
Paradoxalmente, foi dos Estados Unidos que, para o presidente de extrema-direita Iván Duque, vieram as contrariedades. Com efeito, em 18 de maio, numa manchete de uma " primeira página " muito notada, o New York Times afirmou: "As novas ordens do exército colombiano para matar preocupam" [5] . Baseada em documentos oficiais e testemunhos anónimos de oficiais de alta patente, a investigação revelou as instruções do comandante-em-chefe das forças armadas nomeado por Duque, em dezembro de 2018, o general Nicacio Martínez, exigindo das suas tropas que duplicassem o número de "capturas" e de "eliminação de criminosos". A injunção recorda a sinistra prática dos "falsos positivos" que, para "fazer número", levaram à execução de civis apresentados como guerrilheiros mortos em combate – 2.248 vítimas, entre 1988 e 2014 (oficialmente), dos quais, mais de 90% durante os dois mandatos do mentor de Duque, Álvaro Uribe (2002-2010).