Jorge Rocha* | opinião
Ao terceiro dia o pardal
sentiu-se cada vez mais encurralado e decidiu fazer aquilo que os entalados
sempre procuram fazer: a fuga em frente ora incentivando os camionistas a
desrespeitaram a requisição civil e a dificultarem o aprovisionamento do país, ora
achando-se com poderes de convocar o governo e a Antram para local e hora, que
entendeu marcar.
Para os mais indignados com o
atrevimento do vilão e com a estúpida inocência de quem lhe bebe as palavras
como se fosse um oráculo, estaria na altura de o confrontar com as suas
responsabilidades no evidente apelo a que haja quem, por sua orientação,
pratique o crime de desobediência contra a autoridade do Estado, situação em si
passível de ser enquadrada num atropelo à legalidade. Nesse aspeto estranha-se
o silêncio da Ordem dos Advogados perante a conduta de um dos seus membros, que
atropela em cada declaração os princípios deontológicos de uma classe
profissional fadada a desprestigiar-se se, rapidamente, não vier a dissociar-se
dos seus métodos e conduta.
Acredito que o governo não reaja
de acordo com a minha indignação e de muitos milhares de portugueses, que
condenam a chantagem empreendida por tal figurão, transformado num chefe de
gangue mafioso. Porque prevalecerá o sentido de Estado será de crer que avançará
o alargamento da requisição civil a todo o país, se manterá a substituição de
quem opta por não acatá-la por militares e agentes policiais,
se garantirá a punição exemplar dos culpados dos crimes de
desobediência e aguardará que, a exemplo do hoje verificado, as defeções em
torno do núcleo duro de grevistas cresça e os isole cada vez mais.
O desafio para a reunião de
amanhã vem nesse sentido: o pardalão adivinha crescente insegurança em quem
ainda o segue. E procura agir em conformidade: perdida esta luta quem nele
acreditará para o representar no futuro? Qual Ícaro ele quis voar muito alto e
será de tão fatais alturas, que está condenado a despenhar-se.
Que Santana Lopes tenha querido
dar prova de vida visitando os grevistas compreende-se: os zombis tenderão
sempre a querer sair da cova onde foram enterrados. Que David Justino e a
direção do PSD não tenha percebido o que está em causa, vindo a público com uma
atrapalhada conferência de imprensa onde as contradições foram quase tantas
quantas as frases emitidas, diz bem da lamentável degradação em que caiu o
principal partido da oposição.
*jorge rocha | Ventos Semeados (ontem, 14/8)
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