sábado, 24 de agosto de 2019

DESTRUINDO O BRASIL


Liszt Vieira | Carta Maior

Em 23 de agosto, o Presidente da França anunciou que não vai firmar o Acordo com o Mercosul. A imprensa alemã já pede boicote a produtos brasileiros. A Irlanda e a Finlândia já propuseram boicotes. O apoio oficial do Presidente brasileiro ao desmatamento e às consequentes queimadas estimulou os incêndios que devastam a Amazónia. A questão se tornou internacional, agravada pelos ataques insanos aos governantes da Alemanha, França, Noruega, e aos países árabes em geral.

Seria necessário um livro para enumerar todas as sandices e ilegalidades cometidas por Bolsonaro desde que assumiu a presidência. Ele trava uma guerra contra os princípios básicos da civilização e da democracia. Quer destruir tudo e nada propõe de construtivo.

Já se disse que ele tem a pulsão de morte. Suas iniciativas levam, se realizadas, a aumentar o número de mortes no país. Armas para todos, mudar regras de trânsito, apoiar chacinas como os assassinatos de favelados ou de índios, são alguns dos inúmeros exemplos. Pratica a necropolítica no quadro geral do que já se chamou de Tanatocracia.

Governar, para ele, é fazer guerra. Utiliza a guerra de guerrilha. Todo dia se movimenta, ataca uma frente e recua para atacar outra. O objetivo é destruir a educação, a ciência, a cultura, os recursos naturais do meio ambiente, os direitos humanos, as organizações da sociedade civil, a política externa independente etc.

Seu método é a mentira. Verdade é o que ele quer que seja verdade. Se os fatos da realidade não confirmam seus desejos e opiniões insanas, que se danem os fatos. Ele vem desenvolvendo uma guerra sem quartel contra a ciência, a educação, os direitos humanos, o meio ambiente, a. cultura, todos vistos como inimigos a serem abatidos. Tem o perfil típico do ditador absolutista incapaz de conviver com as instituições democráticas.

Brasil | Bolsonaro e a barbárie contra o público


Nossa recente experiência democrática esbarra na fragmentação do convívio. Universalização do ensino foi maior trunfo em abrigar distintas realidades sociais – mas presidente parece estar disposto a destruir tudo que nos une

Diogo Tourino de Sousa, na Revista Escuta | em Outras Palavras

A tragédia brasileira foi retratada com primor pelo ensaio de Kléber Mendonça Filho, O som ao redor (2012). No drama, um bairro de classe média da zona sul da cidade do Recife tem sua rotina alterada com a chegada de uma milícia de rua, que oferece segurança aos moradores em troca de remuneração. O grupo, liderado pelo indizível Clodoaldo, entra no bairro com a anuência do seu mandão local, “seu” Francisco, uma caricata e ao mesmo tempo real figura da sociedade brasileira: impune, infenso ao som dos outros, retratado no ambiente controlado e silencioso do seu apartamento, o homem nada na praia a despeito dos alertas sobre o risco de tubarões.

O bairro comporta o diverso. Da dona de casa que fuma maconha com o auxílio do aspirador de pó e se masturba com o movimento brusco da lavadora de roupas, sofrendo de forma épica com o latido do cachorro do vizinho, passando pelo playboy Dinho e seus pequenos furtos por diversão, até João, um corretor de imóveis algo banal, que alimenta uma relação de estranhos limites com a emprega doméstica. Mas o diverso que vive e sobrevive, nunca convive.

Isso até a chegada da milícia. Ao lado da promessa de ruas mais seguras num contexto em que a violência urbana impõe decisões fáusticas, o grupo de Clodoaldo promove o que não existia: a ligação entre o diverso. Os moradores, afundados na fragmentação do espaço público, confinados na lógica privatista de suas vidas, passam a ter entre si um elo de ligação, ainda que perverso.

É o grupo de Clodoaldo que “unirá”, eivado do barbarismo que o cenário impõe, as vidas esparramadas do bairro. Com ele tanto Bia, a dona de casa, quanto Gustavo, o corretor, ou mesmo Francisco, o mandão, interagem. Uma interação nunca horizontal, nem ao menos franca. Contudo, uma forma de interação que passou a ser comum nas cidades brasileiras.

Os êxitos da diplomacia russa no Médio Oriente


Thierry Meyssan*

As mudanças políticas que transformam o Médio Oriente desde há dois meses são a resultante não do esmagamento dos protagonistas, mas da evolução dos pontos de vista iraniano, turco e emiradense. Lá onde o poderio militar norte-americano falhou, a subtileza diplomática triunfou. Recusando pronunciar-se sobre os crimes de uns e de outros, Moscovo consegue lentamente pacificar a região.

Nos últimos cinco anos, a Rússia multiplicou as iniciativas para restabelecer o Direito Internacional no Médio Oriente. Ela apoiou-se em especial no Irão e na Turquia, dos quais não partilha, no entanto, a maneira de pensar. Os primeiros resultados deste paciente exercício diplomático redesenham as linhas de partilha no meio de vários conflitos.

Novas relações de força e um novo equilíbrio instalam-se discretamente no vale do Nilo, no Levante e na península Arábica. Pelo contrário, a situação bloqueia-se no Golfo Pérsico. Esta enorme e coordenada mudança toca diferentes conflitos aparentemente sem relação entre eles. É o fruto da paciente e discreta diplomacia russa [1] e, em certos dossiês, da relativa boa vontade dos EUA.

Ao contrário dos Estados Unidos, a Rússia não procura impor a sua visão do mundo. Ela parte, pelo contrário, da cultura dos seus interlocutores que, com o seu contacto, por pequenos passos modifica.

Petroleiro iraniano perseguido pelos EUA altera destino para porto da Turquia


A detenção do Adrian Darya - posteriormente libertado - em Gibraltar aumentou as tensões entre Washington e Teerão, depois de Donald Trump ter retirado unilateralmente os EUA do acordo nuclear do Irão com as potências mundiais.

Um petroleiro de bandeira iraniana perseguido pelos EUA alterou hoje o seu destino para um porto na Turquia, depois de a Grécia se recusar a recebê-lo após pressões de Washington.

A tripulação do Adrian Darya 1, anteriormente conhecido como Grace 1, atualizou o destino no seu Sistema de Identificação Automática (AIS, na sigla inglesa) para Mersin, uma cidade portuária do sul da Turquia, onde se localiza um terminal de petróleo.

No entanto, as tripulações podem introduzir qualquer destino no AIS, pelo que a Turquia pode não ser o verdadeiro destino do navio.

Mersin dista cerca de 200 quilómetros da Refinaria de Baniyas, na Síria, para onde as autoridades alegaram que o Adrian Darya se dirigia, antes de ser apreendido, em Gibraltar, no início de julho.

Nem as autoridades de Teerão, nem os responsáveis turcos, nem os órgãos de comunicação estatais iranianos reconheceram o novo destino declarado pelo Adrian Darya, que transporta 2,1 milhões de barris de petróleo bruto iraniano, no valor de cerca de 130 milhões de dólares americanos (117,1 milhões de euros).

Acidente nuclear: o que a Rússia tenta esconder?


Após a explosão numa área de testes na Rússia liberar radioatividade, estações de medição de um sistema de monitoração de testes nucleares saíram subitamente do ar. Especialistas afirmam que a coincidência é suspeita.

Acumulam-se os temores de que as autoridades russas tentam abafar as verdadeiras dimensões da explosão de 8 de agosto na zona militar de Nyonoksa, próximo a Severodvinsk, no noroeste do país. Como agora se sabe, as estações de medição do Sistema Internacional de Monitoração (IMS, na sigla em inglês) de testes nucleares estavam fora do ar.

A informação é da comissão, sediada em Viena, encarregada da implementação do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT). As autoridades russas reagiram, alegando terem ocorrido problemas de conexão com as unidades de medição. Mais tarde, o vice-ministro do Exterior Sergei Ryabkov declarou que a transmissão de dados das estações é "totalmente facultativa".

A Rússia é um dos 184 Estados signatários do CTBT e, ao contrário dos Estados Unidos, também o ratificou. No entanto o tratado não pôde entrar em vigor até o momento, pois outros países não o ratificaram, entre os quais Coreia do Norte e Irã.

Ainda assim, Moscou fechou com a Comissão Preparatória do Tratado de Proibição (CTBTO) um acordo para financiamento de suas estações de medição – por cuja operação, contudo, o Ministério russo do Exterior é responsável. Os níveis de radioatividade medidos pelas estações são transmitidos diretamente à CTBTO e a todos os seus membros.

Cimeira do G7 começa e já há protestantes detidos e policias feridos


Início oficial da cimeira do G7 começou hoje, em Biarritz, mas na sexta-feira à noite foram detidas pelo menos 17 pessoas e quatro policias ficaram feridos em confrontos registados na comuna francesa basca de Urrugne

Pelo menos 17 pessoas foram detidas e quatro polícias ficaram ligeiramente feridos na noite de sexta-feira, em confrontos registados na comuna francesa basca de Urrugne, ao redor de um acampamento contra a cimeira das grandes potências industriais (G7).

Uma porta-voz da comuna de Baiona, no país basco francês, disse hoje à agência EFE que parte das detenções tiveram origem em confrontos com a polícia durante uma manifestação que não havia sido solicitada.

Os manifestantes esconderam os seus rostos e recusaram-se a dispersar, apesar dos avisos da polícia, disse a porta-voz.

Brasil vive um clima de pré-nazismo enquanto a oposição emudece


O silêncio dos que deveriam defender a democracia pode acabar deixando o caminho aberto aos autoritários, que se sentem ainda mais fortes diante de tais silêncios

Juan Árias | El Pais | opinião

O Brasil está vivendo, segundo analistas nacionais e internacionais, um clima político de pré-nazismo, enquanto a oposição progressista e democrática brasileira parece muda. Somente nos últimos 30 dias, de acordo com reportagem do jornal O Globo, o presidente Jair Bolsonaro proferiu 58 insultos dirigidos a 55 alvos diferentes da sociedade, dos políticos e partidos, das instituições, da imprensa e da cultura.

E à oposição ensimesmada, que pensa que o melhor é deixar que o presidente extremista se desgaste por si mesmo, ele acaba de lhes responder que “quem manda no Brasil” é ele e, mais do que se desfazer, cresce cada dia mais e nem os militares parecem capazes de parar seus desacatos às instituições.

Há quem acredite que o Brasil vive um clima de pré-fascismo, mas os historiadores dos movimentos autoritários preferem analisá-lo à luz do nazismo de Hitler. Lembram que o fascismo se apresentou no começo como um movimento para modernizar uma Itália empobrecida e fechada ao mundo. De modo que uma figura como Marinetti, autor do movimento futurista, acabou se transformando em um fervoroso seguidor de Mussolini que terminou por arrastar seu país à guerra.

nazismo foi outra coisa. Foi um movimento de purga para tornar a Alemanha uma raça pura. Assim sobraram todos os diferentes, estrangeiros e indesejados, começando pelos judeus e os portadores de defeitos físicos que prejudicavam a raça. De modo que o nazismo se associa ao lúgubre vocábulo “deportação”, que evoca os trens do horror de homens, mulheres e crianças amontoados como animais a caminho dos campos de extermínio.

Talvez a lúgubre recordação de minha visita em junho de 1979 ao campo de concentração de Auschwitz com o papa João Paulo II tenha me feito ler com terror a palavra “deportação” usada em um decreto do ministro da Justiça de Bolsonaro, o ex-juiz Sérgio Moro, em que ele defende que sejam “deportados” do Brasil os estrangeiros considerados perigosos.

AS AGRESSÕES À AMAZÓNIA


As agressões à Amazónia intensificaram-se de forma bárbara no governo do sr. Bolsonaro, mas não tiveram início com ele.  No tempo da ditadura militar-empresarial, o governo do general Garrastazu Medici (1969-1974) promoveu o projecto absurdo da construção da rodovia transamazonica, com mais de 5000 km. 

Por sua vez, no governo da sra. Dilma Rousseff a ministra escolhida para a Agricultura foi uma latifundiária interessada em continuar a expansão do agro-negócio, ou seja, continuar a estender as fronteiras agrícolas através da desflorestação. 

Foi também no governo desta sra. Rousseff (dito "progressista") que tiveram início projectos de construção de hidroeléctricas na Amazónia – com as consequentes desflorestações e violações das reservas dos povos ancestrais que ali viviam, os índios.

A indignação com a tragédia que agora se verifica não deveria fazer esquecer o passado recente.  O culpado por este crime ambiental é, em última análise, o capitalismo.  

LEITURAS - Salazar, o fascista num museu


«Como é óbvio, não se trata de considerar impróprio um abstrato museu sobre o salazarismo. Creio que o ponto fundamental é outro: é que os museus têm contexto e estão inseridos num território. O discurso produzido no local – e a experiência da visita – ficará determinado pelo complexo memorial onde o museu se inscreve: a antiga escola, a casa e os seus objetos domésticos, os espaços onde o ditador se fez moço, a campa rasa para atestar a imagem desse político que se representou como antipolítico e como humilde e desinteressado servidor da nação.»

Miguel Cardina, Ainda a história do «Museu Salazar» 

******

«O sobrinho neto do ditador português, Rui Salazar, é o grande entusiasta da iniciativa. Conheci Rui Salazar há uns anos. Vive num mundo paralelo. Solitário, rodeado dos livros do tio, das garrafas que o tio guardava na adega, dos sapatos e roupas velhas do tio, dos relatórios e contas dos quase 40 anos que levou de presidente do conselho (números que sabia de cor). O homem era simpático e lunático. (...) Confesso que ao ouvir um autarca avançar com a ideia do Museu Salazar, nos mesmos moldes que o sobrinho defendera numa conversa comigo vinte anos antes, me arrepiei.».»

Luís Osório, Postal do dia

******

«Há sete anos, estive em Gori, na Geórgia, terra onde nasceu Estaline e se pode visitar um Museu que lhe é dedicado – grande, cheio de fotografias, documentos e objectos bem-apresentados. Mas, da primeira à última sala, passa-se por um verdadeiro «monumento» laudatório e glorioso, no mínimo aterrador e que me dispenso de descrever… (...) A maioria dos «filhos da terra», orgulhosos do seu herói, bem ao contrário dos outros georgianos que conheci, querem que o Museu e a casinha logo ao lado, onde Estaline nasceu e se guardam alguns dos seus pertences sem qualquer interesse, continuem a homenageá-lo como sempre.»

Joana Lopes, Museus de Ditadores

******

«Se o museu sobre Salazar em Santa Comba Dão se apresenta, como li, como um "centro interpretativo do Estado Novo", gostaria que os promotores me esclarecessem se: 1. Terá uma secção, explícita e sem rodeios, sobre as torturas e encarceramentos pela PIDE; 2. Terá uma secção, explícita e sem rodeios, sobre o corporativismo que reprimiu os sindicatos, e sobre o apoio dos e aos monopólios das grandes famílias empresariais; 3. Terá uma secção explícita sobre pobreza e analfabetismo, sem uma desculpa histórica, considerando que tais problemas não se verificavam em muitos contextos europeus de então; 4. Terá uma secção, explícita e sem rodeios, sobre o racismo oficial das primeiras décadas do regime, o trabalho obrigatório nas colónias, o estatuto do indigenato, e a guerra colonial; 5. Terá uma secção, explícita e sem rodeios, sobre o tratamento das mulheres como cidadãs de segunda, tuteladas em tudo por pais e maridos; 6. Terá uma secção, explícita e sem rodeios, sobre o tratamento de gays e lésbicas como doentes e criminosos, encaminhados para a Mitra ou para tratamentos psiquiátricos violentos; 7. Terá uma secção que contextualize a ditadura no mundo de então, no qual havia democracias perfeitamente funcionais. Outras questões se colocariam, mas creio que estas são suficientemente - como dizê-lo? - "interpretativas"...»

Miguel Vale de Almeida, O museu de Santa Comba dá? 

******

«É quando o discurso sobre o passado deixa de ser politicamente relevante que esse passado se pode repetir. A memória da nossa ditadura não é o único elemento que trava o crescimento da extrema-direita, mas conta. A democracia não sobrevive quando se instala a ideia que entre ela e a ditadura há apenas divergências de opinião. Não trata os seus inimigos da mesma forma que trata os seus aliados. Tem os seus códigos, os seus rituais, a sua iconografia e o seu discurso oficial. Que podem integrar os que não se revêm nela, mas não lhes dão dignidade simbólica. A tolerância democrática acaba onde começa a sua destruição. Não há temas e personagens tabu. Salazar deve ser estudado e revisitado. Mas um museu sobre o ditador não pode servir para celebrar, branquear e normalizar a ditadura.»

******

Daniel Oliveira, A democracia recorda a ditadura, não a normaliza

Postado por Nuno Serra em Ladrões de Bicicletas

O Diabo não vem aí, o Diabo já cá está


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

Sob a ameaça de recessão, alguns comentadores decidiram ressuscitar a imagem do Diabo tão apregoada pelo malogrado (politicamente) Pedro Passos Coelho. Segundo o antigo primeiro-ministro o Diabo estava a caminho e seria a ruína da tão odiada geringonça. Note-se que este profecia do Diabo era mais um desejo do que propriamente mera futurologia.

Agora e perante uma Alemanha a roçar perigosamente a recessão, perante as restantes economias europeias com um crescimento económico perto do zero, face ao resto do mundo, com a China à cabeça, a crescer muito menos e com uma guerra económica entre EUA e China como pano de fundo, desenterra-se o Diabo.

Na verdade, o Diabo não precisa que as marionetas do costume o desenterrem. Na verdade, ele já anda aí e há muito tempo, chama-se capitalismo. Ele não vem, ele já cá está, entre os crescimentos e as crises, entre os crescimentos cada vez mais irrisórios e à custa do próprio planeta, mas com ares de verdadeira recuperação por se seguirem a crises profundas.

Vivemos sob a batuta do Diabo e pior: já nem sequer conseguimos sonhar uma vida sem ele, havendo sempre quem se mostre disposto a dançar alegremente sob essa batuta.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

Portugal | A entrevista de Jerónimo de Sousa à Agência Lusa -- compacto


Compacto da entrevista de Jerónimo de Sousa concedida à Agência Lusa, de onde salientamos o referente a três focos importantes daquilo que o Secretário Geral do PCP abordou. (PG)

Jerónimo diz que foi preciso uma "paciência revolucionária" com Costa

O secretário-geral comunista resume a atual legislatura e negociações com primeiro-ministro, António Costa, outros ministros e o PS como quatro anos em que foi preciso uma "paciência revolucionária", dados os avanços e recuos dos socialistas.

Jerónimo de Sousa, em entrevista à agência Lusa e a pouco menos de um mês do arranque oficial da campanha eleitoral, pronunciou-se também especificamente sobre o seu homólogo "rosa": "é um PS, um homem, dirigente do PS, que tem um sentido de perspicácia e de inteligência, em relação ao diálogo, em relação a saber ouvir".

"António Costa tem a consciência de que nós [PCP] não falávamos de cor. Quando havia o reconhecimento dessa razão... Obviamente, é, no plano político, uma pessoa capaz de compreender o fundamental e não o acessório. Por isso, nessas relações que tivemos com António Costa, temos de reconhecer que teve sempre um papel de procura da solução e não do problema", afirmou.

O líder do PCP reiterou que não houve "um Governo de esquerda, nem uma maioria de esquerda", mas antes um "Governo minoritário do PS", com "políticas de direita", nomeadamente em matéria de legislação laboral, por exemplo, ou nos "constrangimentos, limitações e opções" a que o PS se curvou, em favor do "grande capital monopolista e da banca" e da "União Europeia e suas instituições".

"O PS, em relação a medidas positivas, concretizou-as e isso não pode ser escondido. Nas relações que tivemos com o PS sempre houve uma grande franqueza, de procura de fundamentação, de demonstração, de que era possível ir mais longe, garantir direitos. Da parte do PS, embora nalgumas matérias bastante renitente, onde, por vezes, quase era necessário uma paciência revolucionária - passe o termo -, fosse nas reformas, pensões ou manuais escolares, lá vinha sempre a preocupação em relação ao défice, à economia, com o Ministério das Finanças a ter ali um papel de negação ou de carimbo em relação àquelas medidas", descreveu.

Contudo, Jerónimo reconhece que "há um valor que tem de ser ponderado, da parte do PS, também com franqueza e sinceridade - às vezes com posições negativas -, [o PS] sempre acabou por contribuir para esses avanços, mas isto é claramente insuficiente" e "mal seria se o PS retrocedesse nesta perspetiva de que é possível avançar, valorizar o trabalho e os trabalhadores".

"Eu falei de paciência revolucionária com António Costa e com os ministros, com aquele trabalho de argumentação", explicou, quando questionado se a dose extra de complacência era devida ao secretário-geral socialista devido aos seus conhecidos dotes e qualidades de negociador.

"Uma coisa é o anúncio - nós queremos o aumento das reformas e das pensões. Vem logo o argumento 'ai, cuidado, com a Segurança Social'. Esse argumento hoje já nem colhe, tendo em conta o crescimento e situação financeira da Segurança Social, numa forma estável e em crescendo. Mas era um trabalho de grande exigência, de fundamentação, em que, nalgumas comissões e grupos de trabalho, quando o PCP dizia essas contas estão erradas. A primeira reação do PS era rebater tal tese. Passado uns tempos, era o próprio PS a dizer que se vocês acham que as contas estão erradas, o melhor é reconsiderar. Tivemos uma posição construtiva, mas determinada, muito firme, eram elementos de convencimento do PS", descreveu.

Notícias ao Minuto | Lusa

Portugal | PS "nunca iria tão longe se não fosse o PCP e a CDU" - Jerónimo


O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse hoje que o Governo do PS "nunca iria tão longe se não fosse o PCP e a CDU", em resposta a Carlos César que pediu "maioria clara" nas eleições legislativas.

"Hoje um dos dirigentes máximos do PS declarava que existe a necessidade de uma maioria clara, seja lá o que isso for, para que o PS não tenha de se sujeitar às exigências de outros", disse o secretário-geral do PCP durante um jantar na Feira de Agosto, em Grândola, no distrito de Setúbal.

Perante uma plateia de mais de duas centenas de pessoas, Jerónimo de Sousa não deixou de questionar a quem se referia o presidente e líder parlamentar do PS.

"Quem são os outros e quais são as exigências?", questionou, para acrescentar algumas das conquistas do PCP e da CDUao longo da legislatura.

Neste âmbito exemplificou com "a gratuitidade dos manuais escolares, a evolução das carreiras e dos salários, e o estatuto dos trabalhadores da administração pública e das forças de segurança, s necessidade de considerar no Orçamento do Estado (OE) 1% para a Cultura ou a redução dos passes intermodais".

Trump intensifica guerra comercial com a China com elevação generalizada de impostos


A decisão do presidente dos EUA ocorre horas após ele "ordenar" às empresas norte-americanas que deixem de fabricar no gigante asiático

Macarena Vidal Liy | Antónia Laborde | Pequim, Washington | El Pais

confronto entre a China e os Estados Unidos chegou na sexta-feira a um novo nível quando Donald Trump “ordenou” às empresas norte-americanas — sem afirmar se irá tomar medidas legais — que fechem seus negócios no gigante asiático e procurem uma alternativa à fabricação de seus produtos. Anteriormente, a China anunciou novas taxas alfandegárias sobre produtos norte-americanos e causou a ira de Trump. A disputa entre as duas potências ocorre às vésperas da reunião do G7 e leva o debate sobre o protecionismo ao epicentro da reunião.

O anúncio de Pequim é a resposta aos impostos adiantados por Washington no começo do mês. Mas mesmo esperada, a resposta provocou um novo terremoto nas Bolsas e entre a comunidade empresarial norte-americana.

Em uma bateria de publicações no Twitter, Trump afirmou que as multinacionais norte-americanas devem procurar “uma alternativa à China, incluindo trazer de volta para CASA nossas empresas e fabricar nossos produtos nos EUA”. Em sua opinião, “as grandes quantidades de dinheiro feito e roubado pela China aos EUA, ano após ano, durante décadas, devem ACABAR e acabarão”, afirmou o mandatário. “Não precisamos da China e, na verdade, estaríamos melhor sem eles”, disse. Na explosão de publicações, Trump não hesitou em incluir o presidente da Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jay Powell. “Minha única pergunta é: qual é nosso maior inimigo, Powell ou Xi [Jinping, presidente chinês]?”. Trump quer que Powell baixe os juros para baratear o dólar.

Navio dos EUA navega pelo estreito de Taiwan apesar das tensões com a China


Um navio de guerra da Marinha dos EUA navegou pelo estreito de Taiwan na sexta-feira (23) apesar das tensões entre Pequim e Washington que se intensificaram nas últimas semanas.

As tensões entre Pequim e Washington agravaram-se depois da proposta de venda de dezenas caças norte-americanos para Taiwan e a inquietação que a proposta gerou em Pequim.

Os navios de guerra norte-americanos navegam regularmente pelo estreito de Taiwan que separa a China continental e a ilha de Taiwan, que Pequim considera ser sua província separatista.

"O trânsito do navio pelo estreito de Taiwan demonstra o empenho dos EUA em um Indo-Pacífico livre e aberto", disseram os militares dos EUA em comunicado à agência de notícias Reuters.

O navio foi identificado como sendo o USS Green Bay, um navio anfíbio da classe San Antonio.

Putin ordena tomada de 'medidas simétricas' após testes de mísseis dos EUA


O presidente da Rússia, Vladimir Putin, convocou uma reunião urgente com o Conselho de Segurança em meio aos últimos testes de mísseis dos EUA.

Na reunião urgente, o presidente encarregou o Ministério da Defesa da Rússia e o Ministério das Relações Exteriores de analisarem o nível de ameaça à Rússia, criado pelas ações dos EUA.

"Além disso, tendo em conta as circunstâncias atuais, eu encarrego o Ministério da Defesa da Rússia, o Ministério das Relações Exteriores e outras instituições especiais de analisarem o nível da ameaça criada ao nosso país pelas ações mencionadas dos EUA e de tomarem as medidas necessárias de preparação de resposta simétrica."

O teste mais recente foi realizado pelos EUA em 18 de agosto. Trata-se de um míssil de cruzeiro de baseamento terrestre com alcance de 500 quilómetros, o que seria proibido pelo tratado INF.

Os EUA deixaram o tratado INF no início de agosto, tendo anunciado a saída ainda em outubro. Em julho, Vladimir Putin também anunciou a suspensa da participação da Rússia no acordo.

Sputnik | Foto: © Sputnik / Aleksei Nikolsky

Instalação de mísseis russos na Venezuela em resposta aos dos EUA no Pacífico


Em resposta à implantação de mísseis estadunidenses na região da Ásia-Pacífico, Rússia poderia considerar a implantação de seus próprios sistemas na Venezuela.

De acordo com Aleksandr Sherin, primeiro-vice-presidente do Comité da Duma de Estado para a Defesa, isso seria uma resposta dura, mas eficaz.

"EUA e os líderes deste país ao longo de toda a sua história, infelizmente, demonstraram apenas que a linguagem da comunicação sensata e adequada, dos acordos, não funciona com eles. Infelizmente, os EUA só entendem a força bruta e grosseira. Basicamente, eles só entendem aquilo que eles mesmos utilizam. A implantação dos nossos sistemas na Venezuela, por exemplo, [é possível] como opção, isso poderá ser denominado como uma segunda Crise do Caribe, mas foi precisamente a Crise do Caribe que arrefeceu o ímpeto dos Estados Unidos por muito tempo", disse Sherin.

"Se esta opção, Deus nos livre, tiver que ser considerada e colocada em prática, isso seria uma opção muito dura, mas muito eficaz", ressaltou o parlamentar.

Mais lidas da semana