sábado, 24 de agosto de 2019

Portugal | A entrevista de Jerónimo de Sousa à Agência Lusa -- compacto


Compacto da entrevista de Jerónimo de Sousa concedida à Agência Lusa, de onde salientamos o referente a três focos importantes daquilo que o Secretário Geral do PCP abordou. (PG)

Jerónimo diz que foi preciso uma "paciência revolucionária" com Costa

O secretário-geral comunista resume a atual legislatura e negociações com primeiro-ministro, António Costa, outros ministros e o PS como quatro anos em que foi preciso uma "paciência revolucionária", dados os avanços e recuos dos socialistas.

Jerónimo de Sousa, em entrevista à agência Lusa e a pouco menos de um mês do arranque oficial da campanha eleitoral, pronunciou-se também especificamente sobre o seu homólogo "rosa": "é um PS, um homem, dirigente do PS, que tem um sentido de perspicácia e de inteligência, em relação ao diálogo, em relação a saber ouvir".

"António Costa tem a consciência de que nós [PCP] não falávamos de cor. Quando havia o reconhecimento dessa razão... Obviamente, é, no plano político, uma pessoa capaz de compreender o fundamental e não o acessório. Por isso, nessas relações que tivemos com António Costa, temos de reconhecer que teve sempre um papel de procura da solução e não do problema", afirmou.

O líder do PCP reiterou que não houve "um Governo de esquerda, nem uma maioria de esquerda", mas antes um "Governo minoritário do PS", com "políticas de direita", nomeadamente em matéria de legislação laboral, por exemplo, ou nos "constrangimentos, limitações e opções" a que o PS se curvou, em favor do "grande capital monopolista e da banca" e da "União Europeia e suas instituições".

"O PS, em relação a medidas positivas, concretizou-as e isso não pode ser escondido. Nas relações que tivemos com o PS sempre houve uma grande franqueza, de procura de fundamentação, de demonstração, de que era possível ir mais longe, garantir direitos. Da parte do PS, embora nalgumas matérias bastante renitente, onde, por vezes, quase era necessário uma paciência revolucionária - passe o termo -, fosse nas reformas, pensões ou manuais escolares, lá vinha sempre a preocupação em relação ao défice, à economia, com o Ministério das Finanças a ter ali um papel de negação ou de carimbo em relação àquelas medidas", descreveu.

Contudo, Jerónimo reconhece que "há um valor que tem de ser ponderado, da parte do PS, também com franqueza e sinceridade - às vezes com posições negativas -, [o PS] sempre acabou por contribuir para esses avanços, mas isto é claramente insuficiente" e "mal seria se o PS retrocedesse nesta perspetiva de que é possível avançar, valorizar o trabalho e os trabalhadores".

"Eu falei de paciência revolucionária com António Costa e com os ministros, com aquele trabalho de argumentação", explicou, quando questionado se a dose extra de complacência era devida ao secretário-geral socialista devido aos seus conhecidos dotes e qualidades de negociador.

"Uma coisa é o anúncio - nós queremos o aumento das reformas e das pensões. Vem logo o argumento 'ai, cuidado, com a Segurança Social'. Esse argumento hoje já nem colhe, tendo em conta o crescimento e situação financeira da Segurança Social, numa forma estável e em crescendo. Mas era um trabalho de grande exigência, de fundamentação, em que, nalgumas comissões e grupos de trabalho, quando o PCP dizia essas contas estão erradas. A primeira reação do PS era rebater tal tese. Passado uns tempos, era o próprio PS a dizer que se vocês acham que as contas estão erradas, o melhor é reconsiderar. Tivemos uma posição construtiva, mas determinada, muito firme, eram elementos de convencimento do PS", descreveu.

Notícias ao Minuto | Lusa



CDU vai manter campanha clássica, mas dispensa o "lombo assado"

O chefe do maior partido da Coligação Democrática Unitária (CDU), que junta comunistas e ecologistas, assumiu enfado com carne assada nas jornadas e ações de esclarecimento pelo país, mas garante uma campanha eleitoral nos cânones clássicos.

Em entrevista à agência Lusa, Jerónimo de Sousa defendeu as "arruadas", comícios, almoços e jantares com militantes, prestes a lançar-se, pela quinta vez desde que é secretário-geral do PCP, numa disputa eleitoral legislativa em quase 15 anos de mandato, para umas eleições legislativas que se disputam dentro de um mês e 12 dias.

Num coisa reconheceu convergência com o presidente do PSD, Rui Rio, a fartura face à quantidade de vezes com que se depara com lombo assado "em centenas" de refeições das diversas iniciativas partidárias até porque "Portugal tem coisas muito boas", as quais o deixam "embevecido", com alguns manjares com que vai enganando a fome ao longo dos longos percursos estrada fora.

"Às vezes, coisas simples, naquele Alentejo, na região autónoma da Madeira, nos Açores, em Braga, tenho encontrado coisas de grande valor que existem neste país e, particularmente, mesmo no plano gastronómico. E, por isso, é que não vamos alterar significativamente a forma de campanha. Há uma questão que é central: uma campanha de massas, junto das pessoas, onde não se fique pelo 'slogan', pela proclamação. No contacto direto, ouvindo, aprendendo, sem perder esta característica própria de estarmos perante umas centenas de comunistas, ecologistas, independentes, democratas que se identificam com a CDU e de podermos ouvir, mas, simultaneamente também, enviar a nossa mensagem, transformando quem está a ouvir, de certa forma, num candidato, na defesa e alargamento da CDU", regozijou-se.

Jerónimo de Sousa admitiu que, hoje em dia, "com a evolução tecnológica, há meios e formas espantosas de realizar campanhas eleitorais".

Todavia, "podem chamar arcaico, mas a política é para quê?", questionou.

"A política tem de ser direcionada para as pessoas. Tem de se chegar às pessoas. Não pela via do Facebook, embora também o Facebook tenha importância para nós. Mas é profundamente criador e de grande atualidade - não é arcaico - continuar a manter uma linha de contacto direto, esclarecimento, aprendizagem também. Essa linha, que alguns contrariam, até classificando de uma forma de apoucamento, é uma das maiores riquezas que pode haver na vida política nacional. Existirão outros que vivem muito dependentes da comunicação social e olham para estes nossos comícios e sessões um pouco como aquela estória da fábula da raposa e das uvas: 'estão verdes, não prestam'. Nós vamos manter esta perspetiva de uma campanha ligada ao povo", prometeu.
Para o líder comunista, "não é uma questão de moda".

"É uma questão de fundo, tendo em conta a natureza do nosso projeto, que, também nas campanhas eleitorais, se mantenha essa profunda ligação aos trabalhadores e ao povo. Foi sempre a chave da nossa vida de partido, ao longo de quase 100 anos. Sempre em situações, às vezes difíceis, de repressão, cerco, perseguição, tortura e até assassinato. Havia sempre uma palavra de ordem: é preciso ir para junto dos trabalhadores e do povo'. Também se aplica no quadro das eleições e processos eleitorais, é preciso continuar sempre ligado aos trabalhadores e ao povo e disso não abdicamos", garantiu.

Há quatro anos, a CDU foi a quarta força política mais votada com 08,3%, um total de 445.980 votos, equivalentes a 17 mandatos no hemiciclo de São Bento, imediatamente atrás do BE (10,2%), sendo que PSD e CDS-PP também concorreram coligados.

Desde que Jerónimo de Sousa é o líder dos comunistas (novembro de 2004), a CDU conseguiu sempre ir aumentando o número de deputados no parlamento: 14 em 2005, 15 em 2009, 16 em 2011 e 17 em 2015.

Notícias ao Minuto | Lusa


O "Governo atuou de forma rude" na greve dos motoristas. PCP não hesitou

O secretário-geral do PCP defende que nunca houve qualquer hesitação dos comunistas no apoio à greve dos camionistas, apesar do empenhamento de forças da extrema-direita inorgânica para radicalizar aquela luta através de "processos mais sinuosos" com objetivos políticos.

Em entrevista à agência Lusa, no âmbito das legislativas de 06 de outubro, Jerónimo de Sousa considera que o Governo agiu "de forma rude, pondo em causa o direito à greve", com "dois pesos e duas medidas", mas sublinha que da parte do PCP "nunca houve qualquer hesitação" em afirmar a solidariedade para com "aqueles que lutavam com razão".

"Obviamente, fizemo-lo com um grande sentido de solidariedade, mas também de responsabilidade - aquilo que estava em causa eram direitos justos que estavam a ser negados aos motoristas - com necessidade de ter muita sensibilidade relativamente às populações", afirma, recordando: "Na história do movimento operário e de processos grevistas - e isto é uma experiência pessoal - sempre procurámos fazer greve para atingir objetivos em relação às entidades patronais e não em relação às populações, é dos livros é da experiência".

Na opinião do líder comunista, "quando, num setor de uma área tão sensível se declara greve por tempo indeterminado, ou tudo ou nada, geralmente corre-se sempre o risco que não se conseguir os objetivos".

A este respeito, Jerónimo de Sousa aponta o dedo ao "empenhamento de certas forças que, não indo lá pelo voto, vão por processos mais sinuosos, com forças e protagonistas que procuram chamar a atenção e radicalizar, procurando assim objetivos que não são claros, mas fundamentalmente objetivos políticos".

Comentando os chamados movimentos inorgânicos de protesto, desligados dos partidos ou das centrais sindicais, o secretário-geral do PCP enquadrou-os na direita ou extrema-direita que não encontra lugar nos partidos políticos.

"Eu creio que há aí uma evolução em relação à direita ou extrema-direita inorgânica, que não encontra resposta nos partidos, na direita orgânica, se assim se pode dizer, e que procura de uma forma que eles próprios classificam de cívica, tentar desvalorizar aquilo que, do nosso ponto de vista, resulta na necessidade de, havendo um conflito, entrar em processo de negociação", afiançou.

Jerónimo recorda que o PCP "valoriza muito a contratação coletiva", que "é em si mesma um compromisso", defendendo que "nunca se consegue tudo" mas, "enfim, consegue-se esse compromisso que é a contratação coletiva".

"[É preciso] não fazer a luta pela luta, não fazer a luta sem considerar que não tem fim", salienta, voltando a puxar da sua "experiência pessoal". "Quando se diz 'ou vai ou racha', geralmente a tendência é para rachar e não para ir", argumenta.

O líder comunista admite que o alcance dos serviços mínimos decretado pelo Governo na paralisação dos motoristas de matérias perigosas, que nalguns casos atingiu 100%, pode "abrir um precedente", embora reconheça que, porventura, algumas medidas eram necessárias.

No entanto, antecipa que "nunca serão medidas administrativas que eliminarão o recurso à greve"

"Os governos não podem, não devem procurar desvalorizar ou secundarizar este direito fundamental que chegou a estar inserido no capítulo dos direitos, liberdades e garantias da Constituição da República", defende.

Notícias ao Minuto | Lusa

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