Partindo do princípio que a
Rússia não extradita cidadãos seus, Isabel dos Santos pode escapar a um
possível julgamento em Angola ou na Europa. Portanto, em caso de desespero,
viver na Rússia poderá ser a sua salvação.
Isabel dos Santos disse numa
recente entrevista ao Financial Times que já se está a preparar para
responder judicialmente à decisão do arresto dos seus bens e do seu marido
Sindika Dokolo em Angola, estimados em cerca de dois mil milhões de euros,
segundo a própria.
Entretanto, a filha do
ex-Presidente José Eduardo dos Santos mudou de residência, vive agora no Dubai,
e assumiu a sua nacionalidade russa. Acredita-se que Isabel dos Santos viveu
nos últimos meses entre Lisboa e Londres, assumindo a nacionalidade angolana.
Auto-defesa
Para José Milhazes, especialista
em relações Rússia-PALOP, tudo não passa de uma medida preventiva por parte da
empresária.
"É uma forma de se tentar
defender face aos processos que lhe foram apresentados em Angola. Ela neste
momento está numa situação muito delicada, tem de enfrentar sob o ponto de
vista jurídico a justiça angolana, mas do ponto de vista político o
Presidente João Lourenço", diz Milhazes.
Mas politicamente a aposta da
empresária ainda é uma charada: "É claro que este assumir da nacionalidade
pode ser apresentado por Isabel dos Santos como um desafio, dizer que tem a
proteção do país onde nasceu, da Rússia, país que diz ter forte influência em
Angola. Dependendo do desfecho iremos ver se essa nacionalidade servirá para
mais alguma coisa ou não."
Fuga à justiça angolana e
portuguesa?
Mas a jogada de Isabel dos Santos
não visa apenas escapar aos tentáculos da justiça angolana: estar longe da
justiça europeia seria também a sua pretensão.
Afinal boa parte do seu império
no exterior está implantado em Portugal, onde inclusive a Polícia Judiciária já
estará a agir contra ela. Segundo o despacho-sentença de arresto, as
autoridades portuguesas terão impedido a transferência de 10 milhões de euros
para a Rússia, país para onde estará a transferir parte dos seus negócios.
Paulo Inglês é sociólogo e
cogita: "Vamos supor que em Portugal ou noutros países haja alguma ação
judicial contra, nesse caso ela pode invocar a sua nacionalidade russa. E não
havendo acordos judiciais com esses países ela se sentiria protegida, pode ser."
Residir num paraíso fiscal numa
altura em que o cerco se aperta cada vez mais para a "ex-princesa"
angolana mostra-se mais uma jogada de mestre, certamente bem assessorada.
E o sociólogo suspeita que
"a mudança [para o Dubai] pode ser um espaço de maior manobra para poder
movimentar os seus capitais sem se sentir coagida pelo sistema legal pelos
países ocidentais. Eu acho que ela está a jogar por antecipação."
Ai Rússia para que te quero...
E em caso de desespero, a Rússia
sempre será a cartada final de Isabel dos Santos. Segundo José Milhazes,
"claro que ajuda ter a nacionalidade russa, ela pode ir para a Rússia e aí
terá de ser aberto um processo de extradição e a Rússia parte quase sempre do
príncipio que não entrega os seus cidadãos, que eles podem ser julgados na
Rússia pelos crimes que cometeram, mas não são extraditados, dai que se isso é
uma defesa importante para Isabel dos Santos. E isso é de lei."
Nádia Issufo | Deutsche Welle, em
09.01.20
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