Dívidas acumuladas também
impediram a contratação de serviços para limpar roupa hospitalar em hospitais
de Trás-os-Montes e Alto Douro.
As dívidas acumuladas do Centro
Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, que inclui os hospitais de Santa
Maria e Pulido Valente, levaram o Tribunal de Contas a chumbar a compra de dois
medicamentos para um cancro na medula óssea.
A razão não é nova, mas desta vez
afetou uma compra, no valor de 2,7 milhões de euros, de Lenalidomida e
Talidomida, dois fármacos para o mieloma múltiplo (também designado
simplesmente como mieloma), uma doença oncológica com origem nos plasmócitos da
medula óssea.
O acórdão fechado em dezembro
pelo Tribunal de Contas, mas só agora divulgado, explica que o contrato com a
farmacêutica, única a vender estes medicamentos, foi assinado em setembro para
vigorar até ao final de 2019.
No entanto, a decisão do tribunal
só foi fechada em dezembro e acabaria por recusar dar o visto à compra pois o
Centro Hospitalar tem fundos negativos de 54,6 milhões de euros, estando
impossibilitado, essas dívidas acumuladas, de cumprir a chamada Lei dos
Compromissos e Pagamentos em Atraso que impede os serviços públicos de
avançarem com contratos se não tiverem verba disponível para os pagar em três
meses.
Os juízes que assinam o acórdão dizem que o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte pediu em julho, ao Ministério da Saúde, um aumento temporário dos fundos disponíveis, mas meses depois continuava sem resposta.
A TSF contactou o Centro
Hospitalar com várias perguntas sobre a falta de reforço de fundos pela tutela,
sobre como acabaram ou não por comprar estes medicamentos e sobre como estão a
resolver o chumbo do contrato, mas a resposta foi curta.
Fonte oficial adianta por
escrito, apenas, que "os doentes seguidos têm e sempre tiveram acesso aos
fármacos em causa" e, "sem entrar em pormenores processuais, o Centro
Hospitalar sublinha que nunca existiu qualquer limitação na disponibilização
destes medicamentos, garantindo aos seus utentes toda a segurança e os
tratamentos mais adequados".
Medicamentos essenciais
Vítor Veloso, oncologista e dirigente da Liga Portuguesa contra o Cancro, detalha que os medicamentos Lenalidomida e Talidomida são um tratamento de "primeira linha", "essenciais" para a qualidade de vida do doente com mieloma múltiplo, uma doença oncológica que pode provocar metástases nos ossos.
"Há a medicação clássica ou
os transplantes de medula, mas numa fase mais avançada estes dois medicamentos
são essenciais para que exista uma sobrevivência bastante grande e sobretudo
uma qualidade de vida boa dos doentes durante os anos que vivem", refere o
especialista.
Dívidas também travam contrato para lavar roupa hospitalar
Além do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, também o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro viu, na mesma altura, pelas mesmas razões, um contrato recusado.
Dívidas também travam contrato para lavar roupa hospitalar
Além do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, também o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro viu, na mesma altura, pelas mesmas razões, um contrato recusado.
A culpa volta a ser da Lei dos
Compromissos e de um saldo negativo de 49,5 milhões que segundo os juízes faz
com seja impossível ao centro hospitalar que reúne os hospitais de Chaves,
Lamego, Peso da Régua e Vila Real a assinar um protocolo que custaria 282 mil
euros.
A adjudicação foi decidida pelo
conselho de administração e tinha como objetivo recolher e tratar roupa
hospitalar, numa tarefa a atribuir ao Serviço de Utilização Comum dos Hospitais
(SUCH), uma associação privada sem fins lucrativos tutelada pelos Ministérios
da Saúde e das Finanças.
Para além de recusar o visto, o
Tribunal de Contas decidiu avançar com um processo para apurar as
responsabilidades financeiras de quem assinou o contrato pois o mesmo tinha
efeitos retroativos.
Contactada pela TSF, a
administração do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro garante que a
prestação do serviço previsto neste contrato chumbado "não foi posta em
causa" e que entretanto "foi aberto novo procedimento de concurso destinado à aquisição dos serviços em questão".
Noutro caso com contornos quase
iguais, mas que já foi alvo de um recurso cujos argumentos foram uma segunda
vez recusados pelo TC, também o Hospital de Guimarães viu recusado, recentemente,
o visto a um contrato, no valor de 2,9 milhões de euros, para comprar um
medicamento considerado "essencial".
Nuno Guedes | TSF | Imagem: Dívidas
afetam compra de Lenalidomida e Talidomida © Paulo Spranger /Global Imagens
Leia em TSF:
Sem comentários:
Enviar um comentário