Lisboa, 01 jan 2020 (Lusa) - A
Rússia é um dos Estados que tem mostrado interesse em ser observador associado
da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), estatuto que registou um
crescimento "exponencial", disse à Lusa o secretário-executivo da organização.
"Temos tido contactos com a
Federação Russa, exploratórios, sobre essa possibilidade. Mas até agora não
houve nenhuma formalização", afirmou o diplomata Francisco Ribeiro Telles,
quando questionado sobre a possibilidade de o país vir a ser observador
associado da CPLP.
Numa entrevista à Lusa, a
propósito do seu primeiro ano de mandato como secretário-executivo, falou de
"um interesse internacional crescente" pela organização e disse que
vários Estados têm manifestado vontade e feito contactos no sentido de saberem
o que faz a CPLP para estudarem uma eventual candidatura a observador
associado.
O interesse destes e o
crescimento, que considerou "exponencial", do número de países que
hoje já são observadores associados, demonstram como a CPLP desperta atenções a
nível internacional.
Em 2014, lembrou, a CPLP tinha
três países observadores associados, hoje tem 18 e mais uma organização
internacional (a Organização dos Estados Ibero Americanos - OEI).
Na próxima cimeira de chefes de
Estado e de Governo, previsivelmente em julho, em Luanda,
"possivelmente" serão aprovadas as candidaturas, já formalizadas, de
pelo menos mais seis países observadores: Roménia, Grécia, Qatar, Peru, Costa
do Marfim e Estados Unidos da América, acrescentou.
Outra candidatura que pode
avançar também é a de Espanha, que entregou, em dezembro, a carta formal de
manifestação de interesse para ser observador associado, explicou.
Face a "este crescimento
exponencial dos observadores associados", Ribeiro Telles reafirmou que a
organização vai ter de refletir "até que ponto a CPLP lhes pode ser útil e
eles podem ser úteis à CPLP".
Segundo o secretário-executivo,
que tomou posse a 15 de dezembro de 2018, mas assumiu funções a 01 de janeiro
de 2019, esta reflexão conduzirá a uma proposta que deverá ser levada já à
próxima cimeira de Luanda.
Em março ou abril, haverá uma
reunião com os países observadores, para debater o novo papel que estes poderão
ter na organização, apontou.
Até essa reunião, "está a
ser feito um trabalho interno, no sentido de se saber exatamente o que propor
aos países associados", explicou, considerando que há várias hipóteses em
discussão.
Segundo o secretário-executivo da
CPLP, há Estados-membros que falam num pagamento de quotas pelos países
observadores. Mas, sublinhou: "Não sei se será esse o caminho".
Para Ribeiro Telles, "outro
caminho", mais provável, "poderá ser os países observadores
interessarem-se por projetos da própria CPLP, e financiarem-nos, isto é, numa
cooperação trilateral, que passa pela CPLP, pelo Estado recetor e pelo país
observador".
"Não estou a falar em termos
de quotas, obviamente que não. Estou a falar em eles poderem participar em
projetos que sejam do interesse de Estados-membros da CPLP, o que são coisas
completamente diferentes".
Para o diplomata, os interesses
dos países que pretendem ser observadores associados da CPLP são diversos.
Para alguns, a organização é
vista "como uma plataforma linguística", como é o caso dos que têm
uma comunidade de falantes de português e "querem estabelecer um contacto
mais estreito com a CPLP, no sentido de desenvolverem a língua portuguesa
nesses países".
O embaixador lembrou que há uma
explosão demográfica em África, que "vai criar uma nova centralidade para
a língua portuguesa no continente africano", e os Estados "estão
atentos a isso", afirmou.
Para outros, a organização é
olhada no "plano político", porque a "CPLP tem tido sucesso
também na área da diplomacia internacional", sublinhou Ribeiro Telles,
apontando como exemplos os contributos que a organização deu para a eleição de
António Guterres para secretário-geral das Nações Unidas e do italo-brasileiro
José Graziano para a FAO (Organização das Nações para a Alimentação e
Agricultura).
Os países já se aperceberam que a
"CPLP funciona como um bloco em determinadas organizações
internacionais" e acham que "vale a pena estar junto" dela,
porque pode funcionar também para a eleição dos seus dirigentes, explicou.
Já no plano diplomático, Ribeiro
Telles disse: "Tenho sentido que há países que se aproximam da CPLP porque
não têm uma rede de embaixadas bastante completa em África, sobretudo na África
Austral, e sentem que a CPLP é uma plataforma para chegar a esses países. Estou
a falar sobretudo de países do Leste europeu", referiu o diplomata.
Depois, ainda "há,
obviamente", os Estados que olham para a CPLP como "uma plataforma
para estabelecer negócios e parcerias económicas com outros países, nomeadamente
africanos", concluiu o secretário executivo.
ATR // JH
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