Curadores e negociantes de arte
mantêm apoio ao empresário e colecionador de arte, o congolês Sindika Dokolo,
marido de Isabel dos Santos.
"Que eu saiba, Sindika não
era traficante de armas nem de droga. Que eu saiba, ele não geria empresas
nacionais [de Angola]. Até que surja algo de novo, o que retenho sobre ele é
que é alguém que faz avançar a arte contemporânea em África e por isso continuo
a ter todo o respeito pela sua atividade". As palavras são do curador de
arte Simon Njami, que durante muitos anos foi conselheiro de Sindika Dokolo,
que, tal como outros agentes do mundo da arte ouvidos pelo Le Monde recusam virar as costas ao empresário
congolês que está envolvido no caso Luanda Leakes, juntamente com a mulher,
Isabel dos Santos.
Uma investigação de dezenas de meios de comunicação
internacionais revelou, este domingo, 19 de janeiro, informações mostram o
esquema que permitiu a ascensão de Isabel dos Santos, filha do ex-presidente
angolano José Eduardo dos Santos, que durante 38 anos liderou os destinos de
Angola.
Apesar das suspeitas de desvio de
dinheiros públicos que recai sobre o casal após as revelações feitas pelo
Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, do qual o Le Monde faz
parte, o mundo da arte não vira as costas a Sindika Dokolo, continuando a
valorizar o seu papel na divulgação e promoção da arte africana.
Fundadora da revista Something
We Africanians Got, na qual Dokolo participou num número editado em 2016, a
franco-marfinense Anna-Alix Koffi também se mantém ao lado de Sindika Dokolo:
"Ele é um verdadeiro apaixonado pela arte, não tem a ver com oportunismo.
Conhece muitas pessoas que comprariam obras por centenas de milhares de euros para devolvê-las ao seu país? Ele é um defensor
da arte africana e, como tal, estou ao seu lado".
Fundação no Porto continua só no
papel
Com uma coleção de mais de três
mil peças, Sindika Dokolo é um dos maiores colecionadores africanos de arte
contemporânea. Tem uma fundação sediada em Luanda e a sede europeia deveria
estar já instalada em Portugal, no Porto.
Pelo menos era essa a
expectativa, em 2016, quando a empresa Supreme Treasure, ligada ao casal,
adquiriu à Câmara Municipal do Porto, em hasta pública, a chamada Casa Manoel
de Oliveira, desenhada para Souto de Moura. Um investimento de 1,58 milhões de
euros, mas o projeto nunca ganhou vida.
Antes, em 2015, a inauguração da
exposição You Love Me, You Love Me Not, na Galeria Municipal do Porto, nos
Jardins do Palácio de Cristal, com peças da coleção de Sindika Dokolo, era
vista como uma primeira aproximação entre o colecionador de arte e a cidade
portuguesa. Antes da inauguração, Dokolo recebeu mesmo a medalha de ouro da
cidade e, numa entrevista ao Sol, dizia que a instalação no Porto da sede
europeia da sua fundação tinha como objetivo o estabelecimento de "um eixo
cultural estratégico entre o Porto e Luanda".
Coleção feita em dez anos
Em menos de dez anos, Sindika
Dokolo destacou-se como colecionador e mecenas de arte africana, período
durante o qual já era casado com Isabel dos Santos. "Ficamos sempre encantados
pela África que prospera, temos fome de personalidade como a dele. Ele faz-nos
sonhar", conta Didier Claes, negociador de arte em Bruxelas e nascido no
Congo, que durante quatro anos fez negócios com o marido de Isabel dos Santos.
Com a crescente valorização da
arte africana na Europa, Sindika Dokolo tornou-se uma referência para a elite
mundial da arte, tornando-se um convidado VIP em diversas feiras de arte
contemporânea e até da mais recente gala de amigos do Museu de Arte Moderna de
Paris, em outubro de 2019.
No entanto, segundo o Le
Monde, citando fonte do mercado de arte, nos últimos dois anos Sindika Dokolo
terá parado de engrossar a sua coleção que, segundo os especialistas, contará
com cerca de 500 peças de grande qualidade entre as mais de três mil que a
constituem.
Lavagem de arte?
Será que Sindika Dokolo estava a
fazer "lavagem de arte"? "Não acredito", diz Didier Claes
ao Le Monde, que afirma que o empresário, nascido há 47 anos em Kinshasa,
no Zaire (atual República Democrática do Congo), pagava as obras de arte
através de empresas europeias oficiais.
Outros negociantes de arte
revelaram ao Le Monde que o milionário fazia as transações através de
uma empresa de construção registada no Congo. "Foi o dinheiro dele, não o
que ele teria em comum com Isabel dos Santos, que nunca interveio, e os preços
nunca foram inflacionados", disse um comerciante, que não se quis
identificar.
Correram rumores e levantaram-se
dúvidas no mercado de arte em torno das compras de Sindika Dokolo. Uma situação
classificada como usual por Didier Claes. "Há sempre burburinho em torno
de oligarcas africanos, com um fundo de racismo", afirmou o negociante.
Dúvidas que se dissipam quando a coleção é mostrada em público, como Dokolo fez
no Porto em 2015 e em 2019 no Museu Bozar, em Bruxelas, aponta Claes.
Plataforma | Imagem: Instagram oficial
Isabel dos Santos
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