quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Umaro Sissoco Embaló promete conciliação na Guiné-Bissau


No primeiro discurso de vitória, Presidente eleito da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, disse ser um "homem de concórdia nacional" e apelou ao fim das divergências. "Sou um Presidente de todos os guineenses", prometeu.

"Vamos trabalhar para promover a união entre os nossos irmãos guineenses que estão hoje de costas voltadas por nossa causa", disse esta quarta-feira (01.01) Umaro Sissoco Embaló perante os seus apoiantes e candidatos derrotados na primeira volta, que apoiaram a sua candidatura na segunda volta das presidenciais.

No seu primeiro discurso como Presidente eleito, na capital guineense, Embaló falou na unidade nacional e pediu desculpas a todos os que se sentiram ofendidos durante a campanha para as presidenciais. "Durante a campanha eleitoral, quer nós, os candidatos, quer os nossos colaboradores e apoiantes, no calor da caça aos votos, é bem possível que tenham utilizado voluntariamente linguagem menos apropriada, pelo que quero pedir as minhas sinceras desculpas a todos aqueles que se tenham sentido ofendidos por mim e aproveito para da minha parte perdoar todos aqueles também que se dirigiram com palavras insultuosas contra a minha pessoa", afirmou.

Numa longa comunicação, o novo Presidente da Guiné-Bissau prometeu combater o tráfico de droga: "Todas as instituições da República devem congregar esforços para debelar os fenómenos do tráfico da droga, da corrupção que ocorrem na sociedade. As reformas institucionais que se acharem oportunas devem avançar para o reforço do nosso sistema democrático."

Umaro Sissoco Embaló também quer estreitar a cooperação com as organizações internacionais, nomeadamente A Comunidade Económica de Estados de África Ocidental (CEDEAO), a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), a União Africana (UA), as Nações Unidas, a União Europeia (UE) e O Grupo África, Caraíbas e Pacífico (ACP), porque a Guiné-Bissau "ainda precisa desse apoio associado aos nossos esforços de relançamento do desenvolvimento do país."


Simões Pereira pondera impugnar resultados

Segundo os resultados provisórios apresentados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), Umaro Sissoco Embaló, apoiado pelo  Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15) venceu o escrutínio da segunda volta com 53,55% dos votos, enquanto Domingos Simões Pereira, apoiado pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), conseguiu 46,45%.

O candidato derrotado pondera recorrer à Justiça para impugnar os resultados anunciados pela CNE. Domingos Simões Pereira lamentou que perante as "evidências que foram produzidas e que questionam a verdade democrática" e dos resultados que foram divulgados, a plenária da Comissão Nacional de Eleições não os tenha tido em conta.

Simões Pereira citou também supostas irregularidades na segunda volta das presidenciais. "Alguns apoiantes do candidato adversário decidiram fazer campanha eleitoral no dia da votação à frente das assembleias de voto, beneficiando de um aparato militar de proteção. É um atentado à liberdade de escolha que deve poder ser exercido no momento da votação", criticou.

Em relação ao próprio ato eleitoral, Simões Pereira disse que "há ciclos eleitorais em que o somatório dos votantes ultrapassa o número dos inscritos". E sublinhou que "é demasiado flagrante para isso escapar à atenção da entidade que está a apurar esses dados."

Até ao momento, a CNE não comentou as supostas irregularidades apresentadas pelo candidato do PAIGC.

O desafio de unir os guineenses

Comentando as declarações do candidato derrotado, o sociólogo guineense Miguel de Barros lembra que qualquer ação terá de ter uma base legal e partidária. "Todo o tipo de contestação eleitoral deverá ter não só uma base política, mas legal e ao mesmo tempo salvaguardar o mecanismo de apresentação de reclamações e de contestação", independentemente das consequências dessa iniciativa, afirma.

Depois de uma campanha marcada por "bastante polarização", sublinha o sociólogo guineense, "o futuro Presidente da República terá o desafio de unir os guineenses" e, por isso, "é importante mobilizar os guineenses para uma reconciliação nacional e de estabilização do regime."

Para Miguel de Barros, os resultados da segunda volta das eleições presidenciais na Guiné-Bissau devem-se à conjugação de vários fatores. "Mostra, em primeiro lugar que, independentemente das alianças que foram feitas, as eleições aconteceram também num contexto de enorme contestação social", elementos críticos que, lembra, "levaram também, de algum modo, ao desgaste do Governo que é suportado pelo partido que também apoiou o candidato Simões Pereira."

Por outro lado, o sociólogo aponta "a questão da confluência de fatores que vem dessas alianças", sobretudo quando se olha para os resultados por região. Dá como exemplo Cacheu, onde o Presidente cessante José Mário Vaz ganhou a primeira volta "e a tendência do voto confirmou essas alianças", e a própria vitória na região de Quinara e Tombali, sul do país, que não tinha acontecido na primeira volta - são redutos que contam com apoio de Nuno Gomes Nabiam.

Fátima Tchumá Camará (Bissau) | Deutsche Welle

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