Analista britânico considera que
"vai ser difícil" levar a empresária Isabel dos Santos a julgamento
em Luanda. Entretanto, a ministra das Finanças de Angola diz que é preciso
"respeitar o trabalho dos órgãos judiciais".
O analista da consultora
britânica Economist Intelligence Unit (EIU) que segue a economia de Angola
considerou este sábado (25.01), em entrevista à Lusa, que "vai ser
difícil" às autoridades levarem a empresária Isabel dos Santos a
julgamento em Luanda.
"Isabel dos Santos
recentemente mudou a sua residência oficial para o Dubai, motivada pelo seu
desejo de manter os ativos longe das mãos das autoridades angolanas, e não
meteu o pé em Angola desde 2018", lembrou Nathan Hayes.
"O Governo disse que ia
tentar que ela fosse a julgamento em Luanda, mas vai ser difícil; ela tem
cidadania russa, o que pode impedir a extradição para Angola", disse o
analista, quando questionado sobre se acredita ser possível julgar a empresária
na capital angolana.
Questionado sobre se o processo
aberto pela Procuradoria-Geral da República de Angola contra Isabel dos Santos,
constituindo-a arguida, ajuda a convencer os investidores sobre as mudanças em
Angola no ambiente empresarial, Nathan Hayes respondeu que "os
investidores internacionais vão provavelmente ver os esforços em curso,
particularmente na separação da Sonangol e atribuição de licenças de exploração
de petróleo, como um passo na direção certa para garantir o crescimento do setor
privado e promover a diversificação económica".
O problema, acrescentou, é que
"muito pouco melhorou desde que José Eduardo dos Santos deixou o
poder", a começar na vertente económica, "com o país em recessão há
quatro anos, e a maioria da atividade económica no país a continuar focada no
setor petrolífero, com poucos impactos para a maior parte da população".
Além disso, destacou, apesar de a
família dos Santos ter saído do poder, "continua a haver muitos dirigentes
esquivos no poder, já que a elite governante é, na verdade, a militar, e o
impulso reformista de João Lourenço tem de ser cuidadoso para não agir
demasiado depressa contra estes interesses enraizados".
Assim, concluiu, "o ambiente
de negócios continua muito desafiante, e ainda há muito a fazer antes de Angola
ser um destino atrativo para investimentos, mas o Governo de João Lourenço está
a dar passos na direção certa".
Respeito à Justiça angolana
Entretanto, comentando a
investigação jornalística "Luanda
Leaks" e os esquemas que envolvem a filha do ex-Presidente José
Eduardo dos Santos, a ministra das Finanças de Angola, Vera Daves, afirmou, em
Davos, na Suíça, que é necessário "respeitar o trabalho dos órgãos
judiciais" nos casos de alegada corrupção em Angola, lamentando que
"apenas alguns" sejam mediáticos.
Em declarações à Euronews, e
citada pela Lusa, Vera Daves disse que as investigações "estão a acontecer
a tantos níveis que é uma pena que apenas parte sejam mediáticas".
"Acho que temos de respeitar
o trabalho dos órgãos judiciais e ver os resultados disso chegar à nossa
sociedade, com uma normalização da forma como os negócios são geridos, da forma
como os serviços públicos são providenciados, e a forma como os bens e serviços
são entregues aos nossos cidadãos", afirmou a ministra, acrescentando que
"os órgãos judiciais estão a fazer o seu trabalho, assegurando que quem
não respeitar a lei pague as consequências de não a respeitar".
Deutsche Welle | Agência Lusa, tms
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