Martinho Júnior, Luanda
O ano de 2020, um ano eleitoral
nos Estados Unidos, será um ano radiográfico para melhor se perceber as cisões
internas na aristocracia financeira mundial, com reflexos da sua superstrutura
ideológica, na sua infraestrutura de sustentação e nos espectros republicano e
democrata no quadro dum eleitorado que se está a tornar cada vez mais
esclarecido.
As tensões internas da
aristocracia financeira mundial, não acabaram, antes se têm vindo a agudizar,
desde os actos eleitorais que levaram à vitória de Donald Trump,…
À escala global este ano de
2020 é propício ao incremento da IIIª Guerra Mundial, com um crescendo de
riscos não previsíveis, que podem rapidamente conduzir a escaladas militares e
de tensões de toda a ordem.
Recorde-se “O império mexe-se com pés de barro” –
01- As tensões entre republicanos
estão não só a esbater-se no Congresso e no Senado dos Estados Unidos, mas
também no largo espectro dos meios de comunicação massivos, assim como nas
conjunturas internas dos dois partidos em época eleitoral, desde já na presente
fase primária em que há uma enorme base de mobilização popular, comunitária e
social.
Até que ponto os poderosos “lobbies” que
sustentam a aristocracia financeira mundial, que sustentam os dois partidos,
têm a mesma força que antes, em função das tensões típicas das rupturas?
Essa força incide similarmente
nas diversificadas comunidades estadounidenses, agrupadas nas culturas
anglo-saxónicas e nas de raiz latino-americana e afrodescendente?
Que reflexos as novas conjunturas
vão trazer não só para os actos eleitorais, mas também futuramente para o
exercício do poder a nível interno e nos relacionamentos internacionais?
Vai-se reforçar um novo quadro
para o exercício da globalização segundo critérios neoliberais (a pretexto do
protecionismo) visando a hegemonia unipolar, ou vai-se assistir ao esvaimento
desse tipo de tendências?
02- Acompanhar radiografando as
tensões que se distendem desde o fulcro da aristocracia financeira mundial,
permitir-nos-á avaliar o que se vai distender, dentro dos Estados Unidos, mas
também por todo o mundo, até por que em relação a essa crucial questão, não será
indiferente o manancial das mais de 800 bases militares espalhadas pelo “ultramar”,
500 das quais direccionadas contra a China, o Irão e a Coreia do Norte.
A China parece perfazer, para os
dois partidos-de-mão cúmplices do poder dos Estados Unidos, o inimigo a abater,
por parte dum estado que tanto necessita de inimigos para se autojustificar e
tentar justificar a própria imagem que dissemina nas brasas duma guerra psicológica
toda ela artificiosamente montada sobre um longo “conflito de
civilizações”…
Mas a China socorre-se de
aderências em cadeia, no seguimento do seu próprio programa revolucionário que,
se antes era essencialmente vocacionado sobre si mesma, agora ganha as asas da
continuidade por via dos arrojados projectos que dão corpo à Nova Rotada da
Seda, continente euro-asiático adentro, oceanos circunvizinhos adentro.
O proteccionismo segundo as
malhas tecidas pela administração de Donald Trump determina a imposição de 500
bases em trn da República Popular da China, Irão e República Popular e
Democrática da Co reia (Coreia d Norte), por que a afirmação dessas potências é
encarada com uma ameaça ao carácter hegemónico e unipolar do próprio
proteccionismo, incapaz de soluções aferidas às emergências e incapaz de
multilateralismo!
03- O quadro das primárias
vai-nos já dando a leitura das tendências, também por que os partidos,
republicano e democrata, não são cristalizados.
Os republicanos, parecem continuar
apostados na ementa proteccionista inaugurada com Donald Trump, pelo que
procurarão (assim o estão a indiciar), reforçá-lo no sentido da sua reeleição,
até por causa da tipologia humana de sua aderência (importante constatar os
estados que os suportam, a fim de recolher dados sobre a psicologia do seu
respectivo eleitorado, sobre os objectivos a que se propõem, sobre os processos
a que recorrem, etc.).
Os republicanos identificam-se
muito mais com linhas indexadas à ainda dominante cultura anglo-saxónica enraizada
no eleitorado rural, reforçado com o eleitorado suburbano das cidades onde a
decadência tem sido maior (devido às afectações resultantes do fecho de
indústrias, ou à drástica redução da sua produtividade).
O lastro do partido democrata vai
pouco a pouco espraiando-se com suporte em culturas de origem latino-americanas
e afrodescendentes, mais cosmopolita e menos tradicional, abarcando os estados
mais produtivos industrialmente e onde a concentração da riqueza é maior, agora
com a novidade duma muito maior atenção e vocação sobre as questões sociais.
Para qualquer deles e para o
exercício do poder de turno, é necessário não esquecer o domínio da
aristocracia financeira mundial, ciosa de sustentáculos aprimorados na e pela
vocação do papel-moeda (dólar), nos circuitos internacionais, nos títulos de
tesouro (em função da colossal dívida que não cessa de crescer), nos
poderosos “lobbies” da energia, do armamento, ou dos minerais,
fluentes da colossal indústria dos Estados Unidos.
É em subordinação a esse poder da
aristocracia financeira mundial que as ementas de uns ou de outros se vão ter
de posicionar “representativamente”, pelo que também aí será interessante
avaliar a maior ou menor flexibilidade, o seu grau de variabilidade e as
aptidões na busca de diálogo, ou de consensos, sabendo-se que está-se longe de
participação e de protagonismos.
04- Até ao final do ano o
exercício republicano de Donad Trump a nível internacional continuará a ser tão
fascista, ou anda mais fascista do que tem sido, com sinais evidentes em
regiões tão sensíveis como a Europa do Leste, o Médio Oriente Alargado e o
sudeste da Ásia, tendo em conta a antítese forjada que abarca a China, o Irão e a
Coreia do Norte.
A Turquia está agora a preencher
um papel de “gendarme” em “desespero de causa”, quer nas suas
implicações na direcção da Síria, quer naquelas em direcção à Ásia Central e
Ucrânia.
A gestão sobre os resíduos da Al
Qaeda na minguante bolsa de Idlib, a nordeste da Síria, uma bolsa que poderá
desaparecer durante o primeiro semestre deste ano, assim com as implicações da
Turquia na Líbia e na Ucrânia, são todos eles sinais de desespero tanto no
quadro da NATO, como no quadro do Pentágono, no que às suas distensões
artificiosas diz respeito.
Essas distensões fluem da
Irmandade Islâmica de que faz parte o clã Erdogan, com financiamentos e
inspirações ideológicas fundamentalistas provenientes das monarquias arábicas
wahabitas-sunitas e ainda com o “guarda-chuva” inteligente do
sionismo de Israel.
Todo esse “sistema em rede” actua
sob os auspícios da hegemonia unipolar e o petróleo das monarquias arábicas, são mesmo o esteio do dólar enquanto papel-moeda, assim como do carácter do suporte
dos “lbbies” da energia e d0 armamento nos Estados Unidos, em
particular nos vínculos de sustentação d partido republicano.
Se o poder nos Estados Unidos
está sob prognóstico reservado nos termos do seu bárbaro carácter e conteúdo,
ainda mais sob reserva estão os parâmetros assimétricos e de geometria variável
das implicações no exercício sulfuroso da hegemonia unipolar (IIIª Guerra
Mundial)!
Toda a atenção é pouca em 2020,
na radiografia do que se passa por dentro e em torno do poder da aristocracia
financeira mundial nos Estados Unidos!
Martinho Júnior -- Luanda, 13 de Fevereiro de 2020.
Imagens:
01- Amostra actualizada da
tendência de voto nos Estados Unidos, pondo a nu a polarização existente;
02- A presidente da Câmara
de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, rasga cópia do discurso
sobre o estado da nação, do Presidente Donald Trump, a 4 de Fevereiro de 2020;
03- Os candidatos democratas,
Bernie Sanders e Joe Biden e o candidato republicano, Donald Trump.
04- Trump continuará a ser tão fascista, ou anda mais fascista do que tem sido.
Consultas:
01- Se cierne una gran
tormenta sobre EEUU: ¿El fin de la era Trump? (I) – http://www.cubadebate.cu/opinion/2020/02/03/se-cierne-una-gran-tormenta-sobre-eeuu-el-fin-de-la-era-trump-i/#.XjvgKyZCdjo;
02- Se cierne una gran
tormenta sobre EEUU: ¿El fin de la era Trump? (II) – http://www.cubadebate.cu/opinion/2020/02/05/se-cierne-una-gran-tormenta-sobre-eeuu-el-fin-de-la-era-trump-ii/#boletin20200205;
03- Juicio político a Donald
Trump: El Senado de EEUU absuelve al presidente – http://www.cubadebate.cu/noticias/2020/02/05/juicio-politico-a-donald-trump-el-senado-de-eeuu-absuelve-al-presidente/#boletin20200205;
04- El discurso de la
Unión más espantoso que ojos humanos han visto – http://www.cubadebate.cu/especiales/2020/02/05/el-discurso-de-la-union-mas-espantoso-que-ojos-humanos-han-visto/#boletin20200205;
05- CONSTANTE NECESSIDADE DE
RADIOGRAFAR O IMPÉRIO – https://paginaglobal.blogspot.com/2020/01/constante-necessidade-de-radiografar-o.html
06- ¡Ahí está la III Guerra
Mundial! – https://frenteantiimperialista.org/blog/2020/01/11/ahi-esta-la-iii-guerra-mundial/
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