Mansão que foi palco da
Conferência de Wannsee, na qual os nazis estabeleceram oficialmente o
extermínio em massa de judeus, ganhou nova exposição permanente. Protocolo do
encontro é um dos pontos altos do museu.
Em 20 de janeiro de 1942, um
grupo de funcionários do alto escalão do regime nazi reuniu-se numa bela
mansão às margens do lago Wannsee, num encontro que entrou para a história como
a Conferência de Wannsee. No palacete foi consolidado oficialmente o extermínio
em massa dos judeus na Europa.
Hoje, a mansão se transformou num
museu que retrata como foi desenhado um dos capítulos mais sombrios da história
da Alemanha. Recentemente, a exposição permanente do local passou por uma
reestruturação e foi reinaugurada há uma semana.
Um dos pontos centrais da nova
exposição interativa é o protocolo que documentou a reunião sobre "a
solução final para a questão dos judeus". Apesar de eu conhecer a
história, o documento foi um dos aspectos que mais me chamou a atenção na
visita. As 15 páginas revelam o grau de perversidade e a banalização do próximo
num nível extremamente chocante.
Os nazis reunidos naquela sala
discutiram o extermínio de um grupo de seres humanos e, em nenhum momento,
acharam que isso poderia ser um crime terrível do qual seria preferível não
deixar provas. Não, a conversa simplesmente foi protocolada, num ato
administrativo rotineiro de qualquer repartição pública, como se estivessem
falando de um problema banal.
Escrito por Adolf Eichmann, que
depois da guerra fugiu para se esconder na Argentina, o protocolo da
Conferência de Wannsee revela a burocratização do extermínio em massa e estampa
a apatia dos nazis pelos judeus, que simplesmente não eram mais percebidos
como seres humanos. Apenas uma cópia do protocolo sobreviveu à guerra.
Com a conferência, os nazis apenas oficializaram algo que já estava em curso há algum tempo e estabeleceram
normas administrativas para organizar oficialmente o Holocausto.
Embora seja centrada na
Conferência de Wannsee, a exposição aborda a perseguição e genocídio dos judeus
como um todo. Ela começa mostrando que a morte de judeus já era praxe antes
mesmo da reunião administrativa. Também traz relatos de vítimas e apresenta os
15 nazis que participaram no encontro e o destino de cada um deles.
Outro aspecto abordado é o
silêncio da população alemã. Sem esse consentimento, o Holocausto provavelmente
jamais seria possível. Além daqueles que fechavam os olhos para as barbaridades
cometidas contra seus próprios vizinhos ou para o sumiço deles, muitos alemães
inclusive lucraram com a perseguição aos judeus. Com o fim da guerra, o jargão
"eu não sabia de nada" tomou conta da Alemanha.
A exposição trata ainda do
trabalho de reflexão crítica sobre o Holocausto que ocorreu após o fim da
Segunda Guerra Mundial e relembra a importância de manter essa memória viva
para evitar que esse passado volte a repetir-se, principalmente em tempos de
ascensão do extremismo de direita pelo mundo.
A Casa da Conferência de Wannsee
fica na rua Am Großen Wannsee 56 – 58. A exposição gratuita é aberta ao público
de segunda a domingo das 10h às 18h.
Clarissa Neher | Deutsche Welle
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Clarissa Neher é jornalista da DW
Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim,
escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy. Siga-a
no Twitter @clarissaneher
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