Chanceler federal alemã condena
ataques em Hanau que resultaram em 11 mortes. Procurador-geral diz que suspeito
deixou mensagens de conteúdo "profundamente racista". Presidente
lamenta "ato terrorista".
A chanceler federal alemã, Angela
Merkel, condenou nesta quinta-feira (20/02) os dois
ataques a tiros ocorridos na noite anterior em Hanau, no oeste do
país, deixando um total de 11 mortos, incluindo o atirador.
"É um dia muito triste para
o nosso país", afirmou Merkel, manifestando compaixão com as vítimas
dos ataques e seus familiares.
Ela disse haver indícios de que o
autor dos ataques agiu com motivação de extrema direita e racista, "por
ódio contra pessoas de origem, fé ou aparência diferente". "O racismo
é um veneno, o ódio é um veneno. E este veneno existe na nossa sociedade. E já
foi culpado por crimes demais", afirmou.
O presidente da Alemanha,
Frank-Walter Steinmeier, também lamentou o que chamou de "ato de
violência terrorista".
"O meu profundo pesar e
minha compaixão vão para as vítimas e para seus familiares. Desejo aos feridos
uma rápida recuperação. Estou do lado de todas as pessoas ameaçadas pelo ódio
racista. Elas não estão sozinhas", afirmou o presidente.
A Procuradoria Geral alemã
assumiu a investigação dos ataques, ocorridos em bares de narguilé de Hanau,
devido a seu "significado especial", e um porta-voz disse haver
indícios de que o crime teve motivos xenófobos.
Peter Beuth, secretário estadual
do Interior de Hessen, onde fica Hanau, anunciou que a Procuradoria Geral alemã
investiga os assassinatos como suposto terrorismo.
O procurador-geral
alemão, Peter Frank, afirmou que foram mortas nove pessoas de origem estrangeira.
Seis outras pessoas foram feridas, uma delas, gravemente. Os
investigadores agora tentam descobrir se o suposto criminoso teve apoio de
cúmplices ou ajudantes.
Frank afirmou que o suspeito
deixou "mensagens em vídeo e uma espécie de manifesto" em seu
site. No material, segundo o procurador-geral, o homem expressa "pensamentos
confusos e teorias da conspiração obscuras" em que
é exposta "uma perspectiva profundamente racista".
O suposto autor dos ataques, um
alemão de 43 anos, foi encontrado morto em sua casa ao lado do corpo de sua
mãe na manhã desta quinta-feira. Segundo Frank, aparentemente os dois
foram mortos por tiros. Ao lado do homem, havia uma arma de fogo.
Segundo o tabloide Bild, o
suposto autor agiu por motivos de extrema direita. O homem é um alemão, de
acordo com o veículo. Ele possuía uma licença de caça, tendo permissão para
portar armas legalmente. Ainda conforme o jornal, foram encontradas munições no
automóvel do suspeito.
Os ataques ocorreram em dois
bares de narguilé – também conhecido como shisha, um tipo de cachimbo de
água. Policiais e veículos de imprensa informaram que os primeiros tiros
foram disparados por volta das 21h (horário local) no bar Midnight, no centro
da cidade. Testemunhas dizem ter ouvido cerca de oito a nove disparos.
Em seguida, o agressor fugiu do
local em um carro escuro, segundo a polícia. Houve então um segundo ataque num
outro bar de narguilé chamado Arena Bar & Café, no bairro de Kesselstadt,
no oeste de Hanau.
Segundo a imprensa local, três
pessoas foram mortas em frente ao primeiro bar, e cinco pessoas, em frente ao
segundo. A polícia disse que outras cinco pessoas ficaram
feridas. Durante a madrugada, uma das pessoas gravemente feridas nos
ataques morreu, elevando o número de vítimas para dez.
Os bares de narguilé são lugares
onde as pessoas se reúnem para fumar tabaco com sabor em cachimbos de água,
prática associada ao Oriente Médio. Algumas das vítimas parecem ser turcas,
segundo a agência de notícias Associated Press
"Foi uma noite terrível, que
com certeza ainda permanecerá connosco por muito, muito tempo, como uma triste
memória", afirmou o prefeito da cidade, Claus Kaminsky.
"Nossos pensamentos nesta
manhã estão com as pessoas de Hanau, no meio de quem foi cometido um crime
horrível", escreveu o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, no
Twitter.
O ministro alemão do Exterior,
Heiko Maas, também se disse chocado com o ocorrido. "Após esta noite
terrível, nossos pensamentos estão com os mortos, suas famílias e parentes.
Desejamos aos feridos uma rápida recuperação", acrescentou Maas.
Hanau, no estado de Hesse, possui
cerca de 100 mil habitantes e fica a aproximadamente 25 quilômetros de
Frankfurt.
A Alemanha foi alvo de uma série
de ataques terroristas nos últimos anos, um dos quais matou 12 pessoas em um
mercado de natal no coração de Berlim em dezembro de 2016. Os ataques de
extrema direita tornaram-se uma preocupação particular das autoridades alemãs.
Em outubro de 2019, um homem
armado tentou invadir uma sinagoga na cidade de Halle, no leste alemão, durante
o Yom Kippur, principal feriado judaico. Ele matou duas pessoas nas
proximidades e feriu outras duas perto de uma lanchonete turca.
O agressor transmitiu todo o
ataque ao vivo pela internet, enquanto fazia declarações misóginas e xenófobas.
Ao confessar o crime, ele admitiu ter motivações antissemitas e de extrema
direita.
Em junho passado, o político
conservador Walter Lübcke foi assassinado em sua casa. O extremista de
direita Stephan Ernst confessou o crime, alegando que resolveu matar o chefe do
conselho administrativo do distrito de Kassel devido a seu posicionamento
simpático a imigrantes e refugiados.
Na semana passada, a polícia
prendeu 12
suspeitos de integrar uma célula terrorista de extrema direita
que estaria planeando atentados contra mesquitas, políticos e refugiados em
vários estados.
Deutsche Welle | MD/dpa/afp/ap/rtr
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