quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Moçambique | Milhares de idosos passam fome por falta de subsídios


Na província de Manica, mais de 24 mil idosos beneficiários do programa de subsídio social básico estão há cerca de quatro meses sem receber os seus valores. A falta de auxílio faz com que muitos deles passem fome.

O Instituto Nacional de Ação Social (INAS) alega não ter dinheiro para pagar aos idosos beneficiários do programa de subsídio social básico em Manica, centro de Moçambique. A diretora provincial de Género, Criança e Ação Social, Lurdes Daniel, não quis gravar entrevista, mas explicou à DW áfrica que a dívida provém do défice orçamental. O valor só chegou para pagar os subsídios até outubro de 2019.

São exatamente 24.074 idosos beneficiários do subsídio social básico. Um grupo expressivo de pessoas oriundo de oito distritos, nomeadamente, Chimoio, Mossurize, Machaze, Gondola, Sussundenga, Macate, Vanduzi e Manica.

Um grupo de idosos, que prefere manter o anonimato, disse à DW África depende desses subsídios para viver e descreveu as dificuldades que enfrenta devido à falta do subsídio. Desde novembro, estes idosos sobrevivem de apoios de pessoas singulares. A situação faz com que muitos busquem ajuda de desconhecidos pelas artérias da cidade, passando de loja em loja a pedir esmolas para poder colocar comida na mesa.


"Estamos a passar muito mal"

"São quatros meses sem subsídios, a partir de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. Nós estamos a passar muito mal, porque não temos o que comer e não temos outra forma de sobreviver", contam os beneficiários do programa, que falam sob anonimato por medo de represálias. E caso deixe de haver subsídios, os idosos deixam um apelo:  "É melhor que nos informem para ficarmos a saber e sem alimentar esperanças."

"E com essa época chuvosa, as casas estão a desabar e não temos o que fazer. O Estado prometeu ajudar-nos, mas não está a ajudar, se calhar já nos esqueceu", disse um dos idosos ouvidos pela DW África.

Outro entrevistado, que também não se identificou por medo de represálias, contou ainda que os seus filhos não possuem material escolar por falta daquele subsídio. "A esperança é a última coisa a morrer. Nada podemos fazer pois as nossas ideias já acabaram, o que nos resta é pedir ajuda nas lojas e pessoas de boa-fé. E paulatinamente vamos aguardando com serenidade e calma", relata.

O secretário do Estado na província de Manica, Edson da Graça Macuácua, que na semana passada efetuou uma visita de trabalho ao INAS, espera que o problema seja resolvido em breve. "Está-se trabalhar para isso, falamos da revisão de todos os procedimentos, que é para garantir que haja uma recessão com a necessária regularidade. E quando não há regularidade é necessário esclarecimento", declarou.

O governante promete continuar a "garantir que os cidadãos que carecem deste apoio do Estado possam receber subsídios e outros apoios que o Estado canaliza com a necessária celeridade."

Bernardo Jequete (Manica) | Deutsche Welle

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