Duas notas sobre a “visão” que
tem caracterizado sucessivos governos. Uma o caso da TAP privatizada, com o
Estado a ficar responsável por 50% de empresa e 100% da dívida, mas, se um dia
der lucro, o Estado receberá 5%. Outra as preocupações com a “coesão
territorial,” com o “interior” quase à beira-mar.
Fernando
Pacheco Torgal * | opinião
O caderno de Economia do Expresso
é um sítio onde sempre se aprendem coisas interessantes e importantes. Há
algumas semanas atrás alguém lá revelava a brilhante estratégia nacional para a
TAP (aquela empresa que agora é liderada por um engenheiro civil brasileiro,
que no mesmo ano em que deu 180 milhões de prejuízo, pagou prémios de
desempenho a alguns dos seus visionários e esforçados directores, prémios esses
que nalguns casos atingiram 110 mil euros e que convém relembrar saíram do
bolso dos contribuintes Portugueses) da seguinte forma: “O Governo conseguiu a
notável proeza de ficar responsável por 50% da empresa, por 100% da dívida,
caso um dia a TAP venha a dar lucro, terá direito a uns módicos 5% do resultado
liquido”.
E ontem um interessantíssimo artigo
publicado no referido caderno do Expresso com o título “Incentivos para o
interior dão para viver na praia” iniciava-se da seguinte forma:
“Não é preciso rumar em direcção à fronteira com Espanha para beneficiar da dezena de incentivos que a ministra da coesão territorial, Ana Abrunhosa, acaba de lançar para atrair mais empresários e trabalhadores para o interior. A uma família lisboeta, por exemplo, basta descer pouco mais de 50 quilómetros até Setúbal…instalar-se numa das muitas praias da costa Alentejana. Aí já beneficiará de vários subsídios a fundo perdido destinados aos territórios do interior”.
O artigo é complementado com um
engraçado mapa, onde até mesmo a zona de Sagres é considerada interior de
Portugal! Em face disto eu acho que todas as pessoas do verdadeiro Interior de
Portugal, junto a Espanha, deviam ter um rasgo de inteligência e ir viver para
as praias Alentejanas, as tais a 50 quilómetros de Lisboa, beneficiando ainda
dos acima referidos “vários subsídios a fundo perdido” que incluem 4827 euros
para os trabalhadores e também subsídios para empresários, que podem chegar a a
82.000 euros “caso a empresa seja recente, o projecto seja de empreendedorismo
social ou o trabalhador contratado tenha algum tipo de incapacidade, venha de
uma família monoparental…”
E porque é que o Governo não
aplica às pessoas que vivem a menos de 50 km da fronteira com a Espanha, isso
sim o verdadeiro Interior profundo (excluindo obviamente a região Algarvia) as
mesmas tabelas de IRS que aplica nos Açores? Será que alguém no Governo sabe,
quanto é que gasta, unicamente em portagens, um residente de uma localidade
junto à fronteira com Espanha, quando pretende ir até Lisboa?
Fonte:
https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/02/o-interior-profundo-de-portugal-50-kms.html
*Publicado em O Diário.info
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