quarta-feira, 25 de março de 2020

“É assustador”: enfrentar a pandemia sem seguro médico nos EUA


Mais de 27 milhões de pessoas não têm seguro nos EUA. Algumas optam por não ir ao hospital para não ter de pagar facturas de milhares. Se não aumentarem os apoios, aumentam os riscos de propagação da pandemia.

À Rádio Canadá, um habitante do estado norte-americano do Minnesota afirma que nem sequer coloca a questão: mesmo no caso de ter Covid-19, sem seguro, prefere correr o risco e ficar em casa a ter de ir a um hospital.

Ray Al Zubaydi, na casa dos vintes, estará sem cobertura até ao princípio de Abril. Para ajudar pessoas como ele a enfrentar a crise do coronavírus, o governo do estado do Minnesota criou um plano temporário acessível a todos durante um mês.

À Radio Canada, Ray mostra-se prudente e diz que precisa de conhecer os detalhes, lembrando que, depois de se passar por um hospital nos EUA, as despesas «se podem acumular rapidamente». «Só ficamos a saber o valor da factura depois de sair», precisa.

Recentemente, uma reportagem publicada na revista Time destacava que uma paciente sem seguro médico, infectada com Covid-19, foi confrontada com uma factura de quase 35 mil dólares, no estado de Massachusetts, depois de ter sido testada e tratada num hospital.

É este tipo de cenário que assustou um trabalhador independente do Texas. À reportagem, disse estar seguro de ter tido a doença (febre, fadiga e grande dificuldade em respirar durante 20 dias). Contudo, sem seguro de saúde, nunca lhe passou pela cabeça fazer um teste – algo que, revela a fonte, é comum a outros norte-americanos com os quais entrou em contacto.

Mesmo que Washington garanta a gratuitidade do teste, todos temem o valor das despesas médicas acessórias. «Isso assusta-nos, porque é uma dívida da qual a maior parte de nós não se conseguiria livrar», sublinhou uma residente na Califórnia, também sem seguro.

Ausência de seguro de saúde é obstáculo à despistagem da doença

«A menos que um médico o prescreva, não se pode fazer o teste à Covid-19», explica a californiana, acrescentando que «muita gente sem cobertura não pode pagar o acesso a uma médico».

Esta realidade constitui um risco para o conjunto da população num contexto de pandemia, disse Stan Dorn, do Families USA, organismo que defende cuidados de saúde de qualidade com maior cobertura e mais acessíveis.

O responsável alertou que os impactos económicos desta crise de saúde pública podem agravar os problemas associadas ao seguro médico, uma vez que, nos EUA, «quando as pessoas perdem o emprego, muitas vezes perdem o seguro» que lhe estava ligado.

Em seu entender, as medidas da administração norte-americana não são suficientes, porque a multiplicação de despedimentos e a consequente perda do seguro de saúde podem contribuir para a propagação do vírus. «As doenças não são detectadas e espalham-se mais facilmente. A recessão agrava-se, aumenta a perda de postos de trabalho e a epidemia alastra», disse Stan Dorn à Radio Canada.

Afirmou ainda que vai analisar o projecto de ajuda negociado pelo Congresso e que espera que os estados aumentem o acesso ao Medicaid, um seguro acessível a pessoas com menos recursos. «A história não é totalmente sombria; há uma parte do problema que nós podemos controlar», disse.

AbrilAbril

Na imagem: As despesas de saúde nos EUA são muito elevadas, proibitivas para quem não tem seguro, o que faz aumentar os receios de maior propagação da pandemia Créditos/ NPR

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