Homens armados desconhecidos
atacaram a vila de Mocímboa da Praia, na província moçambicana de Cabo Delgado.
Analista ouvido pela DW está preocupado com avanço dos "insurgentes".
Homens armados atacaram
a vila de Mocímboa da Praia por volta das 04h30 desta segunda-feira
(23.03). Segundo o Comando Geral da Polícia, os "malfeitores atacaram
inclusive o quartel das Forças de Defesa e Segurança, criaram barricadas nas
principais entradas daquela vila e içaram [uma] bandeira".
Durante a tarde, o
comandante-geral da Polícia da República de Moçambique, Bernardino Rafael,
garantiu que as forças de segurança estavam a fazer tudo ao seu alcance para
restabelecer a ordem.
"Continuamos a travar
combates com os malfeitores na vila sede de Mocímboa da Praia", afirmou.
"As coisas ficam cada vez
mais complicadas"
Informações provenientes de
Mocímboa da Praia indicam que a vila despertou esta segunda-feira num ambiente
de terror e medo. Algumas pessoas teriam conseguido abandonar a vila, mas
outras viram-se obrigadas a ficar em casa.
Os ataques na província de Cabo
Delgado duram desde outubro de 2017. Mais de 300 pessoas morreram e dezenas de
milhares foram afetadas pela violência.
Para o analista Alexandre Chiure,
a situação é bastante alarmante: "A cada dia que passa, as coisas ficam
cada vez mais complicadas."
"Cabo Delgado tem 16
distritos e a informação que nós temos é que nove desses distritos já estão
afetados por esses ataques. É uma situação cuja solução não está à vista",
afirma Chiure em entrevista à DW África.
Insurgentes "mais
atrevidos"
O analista destaca o empenho
pessoal do Presidente Filipe Nyusi na procura de uma solução para o
problema, incluindo as deslocações ao terreno das operações com vista a
moralizar as forças governamentais. Por diversas vezes, Nyusi já veio a público
manifestar disponibilidade para dialogar com o grupo de atacantes, até ao
momento sem rosto.
Mas, segundo Alexandre Chiure, é
preocupante que os atacantes estejam a ficar "um pouco mais
atrevidos".
"Antes, os insurgentes
atacavam nas aldeias recônditas, mas desta vez atacaram a vila de Mocímboa da
Praia", diz.
Mocímboa da Praia fica a 90
quilómetros a sul de Palma, distrito onde estão a ser construídos megaprojetos
internacionais de exploração de gás natural.
O comandante-geral da polícia,
Bernardino Rafael, deixou esta segunda-feira um apelo: "Pedimos à
população da vila sede de Mocímboa da Praia para se manter calma e ademais ser
muito vigilante, pois os malfeitores podem querer misturar-se com a população e
fazer mal à mesma."
"Trágico
fracasso"
O diretor-adjunto da Amnistia
Internacional, Muleya Mwananyanda, classificou a escalada da violência em
Mocímboa da Praia como “o culminar de um trágico fracasso do Governo
moçambicano” na tentativa de proteger o povo da região. Uma nota da organização
destaca os três anos de “sofrimento humano incalculável” da população.
Mwananyanda considera que os
ataques contínuos são agravados pelo fato do governo “proibir jornalistas,
investigadores e observadores estrangeiros de acederem à área para avaliar a
situação”. O diretor da Anistia pede medidas imediatas e eficazes para proteger
as pessoas, reforço das medidas de segurança legais e a realização de
investigações para levar os suspeitos à justiça".
Leonel Matias (Maputo) | | Deutsche Welle
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