Manuel Carvalho Da Silva
– Jornal de Notícias | opinião
O tempo que vivemos é de exceção
e de emergência. Ninguém sozinho, nenhuma família, nenhuma empresa, nenhuma
organização está por si só em condições de responder aos desafios com que se
depara.
A resposta tem de vir da ação
solidária de todos os cidadãos e de todas as organizações. As medidas que agora
se adotam têm de responder às premências e prioridades de hoje e salvaguardarem
condições para se reconstruir a normalidade.
Hoje preocupamo-nos em primeiro
lugar com a proteção reforçada dos mais velhos, com a proteção na doença a
todos, com o abastecimento de bens e serviços indispensáveis, com o melhor
funcionamento possível da economia. Entretanto a pandemia está a gerar mudanças
múltiplas, outros tipos de "vírus" e novas fragilidades que nos
poderão tolher o futuro se, agora, não adotarmos precauções.
Temos a obrigação de tudo fazer
para que a crise pandémica não se transforme numa crise social sem precedente.
Urge combater o "vírus" da permissividade perante o despedimento, da
complacência com o desemprego e as precariedades, da tolerância face ao não
pagamento dos salários e à perda de rendimento dos trabalhadores
"independentes". A generalidade das empresas não se aguenta entregue às
regras do mercado. Será uma violência contra quem trabalha e contra o
desenvolvimento da sociedade, o trabalho e o emprego ficarem entregues às
regras vigentes do "mercado de trabalho" e a decisões discricionárias
de empregadores.
São acertadas as medidas que
procuram evitar uma escalada de falências. Os milhares de milhões de euros em
linhas de crédito às empresas de alguns setores, em benefícios fiscais e em
garantias diversas é significativo mas, por certo, vão ter de ser feitos
esforços financeiros ainda maiores: o país deve recorrer a tudo o que for
possível para manter as empresas vivas ao longo da quarentena, por forma a que
estas consigam regressar à atividade com pujança, quando os impactos da
Covid-19 o permitirem. Mas os apoios públicos - dinheiro de todos - não devem
ser concedidos sem a contrapartida de salvaguarda dos postos de trabalho.
A situação que a maioria dos
empresários portugueses experimenta é, sem dúvida, extraordinariamente difícil
e complexa. Muitos deles, se assumirem a solidariedade que a situação impõe,
poderão ter de recorrer a ganhos amealhados ou até ao seu património. Contudo,
há que pensar que grande parte dos que perdem o emprego ficam despidos em
absoluto de rendimentos e até de dignidade. E a recuperação das empresas e do
normal funcionamento da sociedade vai precisar de trabalhadores saudáveis e
motivados. É imperioso um apelo a todos os empregadores, desde os grandes
grupos económicos até aos empregadores domésticos: resistam à tentação de
despedir aqueles de que momentaneamente não precisam.
O Governo tem de adotar os mesmos
compromissos na Administração Pública, de garantir uma proteção social a todos
e de dar mais atenção a debilidades existentes nas relações de trabalho. O
crédito não pode substituir a proteção social. E as medidas adotadas na
proteção social jamais substituem a responsabilidade de pagamento de salários e
de salvaguarda do emprego.
A excecionalidade que estamos a
viver apela a que se adote legislação e todas as medidas possíveis e
imaginárias que travem os despedimentos.
*Investigador e professor
universitário
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