quarta-feira, 25 de março de 2020

Profissionais imprescindíveis sem proteção, carenciados à míngua


Costa fala de barriga cheia com fartura de presunção e água benta

Já ontem dizíamos: “Estamos cansados deste covid-19”. Quem não está? Pois, mas lá vamos nós novamente lauda adiante. Paula Santos é a autora do Curto de hoje, escreve em referência sobre a confiança no sistema perante esta crise. Confiança? Sim, ‘ma non tropo’. De dia para dia são detetadas falhas relevantes, às vezes muito escandalosas. Fruto do desconhecimento sobre a ação do vírus, mas também por políticas erradas de pendor economicista. Irem aos dinheiros e bens de banqueiros e outros vigaristas é que não. Aí falam em justiça (deles) democracia (deles) e liberdade (deles). Aos povos, esses tais (eles) têm todo o direito de roubar, de vigarizar.

Disse ontem António Costa que "nada falta no SNS… nem vai faltar". Mentira. De barriga cheia com presunção e água benta é o que ele deve tomar todas as manhãs ao pequeno-almoço. Sorte, porque há portugueses que já nem o pequeno-almoço tomam porque não têm como. A dita Segurança Social tem travado o pagamento de baixas médicas, de subsídios de toda a espécie. Travado porquê? Por falta de pessoal? Essa é uma boa desculpa, mas não serve. Os testes não são para todos os que estão mais expostos e de quem muito deles dependem, pessoal médico, de enfermagem, auxiliares de saúde… Polícias e outros infetados por falta de proteção adequada para exercerem as profissões indispensáveis ao apoio e proteção dos portugueses. Afinal falta tanto, senhor Costa. O que comem e como se protegem os portugueses dependentes de baixas médicas se não lhes pagam a tempo e horas? E os que beneficiam de subsídios para lhes permitirem umas côdeas e umas latas de conservas? E como se protegem os profissionais a quem o material adequado falta? Ena, tanta coisa que falta… No SNS e nos cuidados que o Estado deve aos cidadãos, incluindo os mais carenciados. Não seja tão presunçoso, senhor Costa, e ponha o funcionamento de proteção devida aos que padecem das desigualdades que luzem em Portugal como milhentas árvores de desespero. Aqui, além, aqui, ali, ali, eu, nós, além aquela família, aqueles velhos, aqueles doentes oncológicos... etc. etc.

Descarado, foi o senhor Costa, naquele pronunciamento de tanta presunção e barriga cheia. Claro que os portugueses não opinam desfavoravelmente porque estão contidos pela esperança de que os “arquitetos” para a contenção do covid-19 em Portugal corrijam os erros que estão a cometer e os desleixos e desorganização que prolifera.

Eis a razão, eis o cristão pensamento, podia ser pior. Claro, partir uma perna é sempre melhor que partir as duas. Mas se não partir nenhuma é muito melhor. O que temos de fazer, de procurar a todo o transe, é mesmo não partir nenhuma.

Sejam mais comedidos, senhor primeiro-ministro e associados. O óptimo é inimigo do bom, diz-se e é verdade. A confiança dos portugueses, mostrada na sondagem que o Expresso divulga, refere-se a uma classificação sofrível, minimamente suficiente, e não a uma nota boa. Há muito a corrigir e a proceder aos conceitos e práticas eleiçoeiras, assim como ao abandono das práticas neoliberais do economicismo velhaco, pseudodemocrata e adversário dos povos que precisam de usufruir de justiça social e não de migalhas de justiça que chegam quase sempre tarde ou que nem chegam, apesar de estarem escritas ou ditas pelas bocas dos políticos, dos governantes.

Sobrevivemos a momentos difíceis, todos nós. Os políticos, os poderes de decisão também, mas se não protegermos os profissionais de saúde instala-se o caos e milhares de mortes. Se não protegermos os profissionais de segurança é igualmente o caos… E assim sucessivamente. Mas as vítimas das desigualdades também devem ser protegidas. Ao menos a fornecer-lhes uma bóia de salvação a tempo e horas. A todos esses que este neoliberalismo “centenado” hostiliza e distribui (quando distribui) migalhas. Tardias e insuficientes, como as realidades demonstram.

O Curto a seguir. Leia atento e perceba que estamos num período de elevado grau de ação psicossocial do sistema de manipulação. De mentiras. Sabemos que não é por dizerem muitas vezes as mentiras que elas se tornam verdades…

O melhor dia possível para todos nós, habitantes deste planeta tão ameaçado.

MM | PG 



O valor da confiança e que o céu não nos caia na cabeça

Paula Santos | Expresso

Bom dia.

É sobretudo um voto de confiança.

O Expresso e a SIC quiseram medir a relação entre os portugueses e as instituições que estão a gerir a crise provocada pelo covid-19.

E o resultado não podia ser mais claro. Os portugueses confiam nas instituições.

Em primeiro lugar nas Forças Armadas, Polícia e GNR (79%). A seguir, na Direção-Geral de Saúde (77%) depois no primeiro-ministro (75%) e no Presidente da República (74%). Acima de tudo, confiam.

Os resultados do estudo coordenado pelo ICS/ISCTE revelam valores que não estamos habituados a ver em sondagens, sinais de um considerável consenso. São resultados que têm em conta o universo dos inquiridos. Se mergulharmos nos detalhes, aqui sublinhados no texto da Ângela Silva, podemos verificar algumas diferenças, consoante o eleitorado que responde se assuma de esquerda ou de direita.

Há certezas que merecem ser sublinhadas.

Seja qual for o cenário, António Costa supera sempre Marcelo Rebelo de Sousa em níveis de confiança na gestão da epidemia aos olhos dos portugueses, o que é absolutamente inédito. E revelador do impacto que a distância (quarentena) do Presidente teve aos olhos dos portugueses. Mas partiu do Chefe do Estado a decisão que recolhe a maioria esmagadora das reações favoráveis: a declaração do Estado de Emergência, apoiada por 95% dos portuguesas.

Fortes doses de confiança são naturalmente acompanhadas por elevadas expectativas em relação ao futuro e esse é o grande desafio que se coloca agora às instituições.

E já agora também a todos nós, já que outra parte da sondagem fala disso mesmo – do fator tempo nas nossas vidas – e de quando pensamos que tudo isto vai ser ultrapassado. A previsão dos portugueses não é otimista.

A sondagem foi efetuada nos últimos dias, entre 20 e 22 de março, os primeiros dias depois das medidas mais duras terem entrado em vigor.

AINDA O CORONAVÍRUS

Já lá vamos aos números atualizados, ao resumo tradicional do que sabemos sobre os efeitos do covid-19 em Portugal e às discussões sobre o tema.

Começo pelo alerta lançado por três ordens profissionais. Médicos, enfermeiros e farmacêuticos decidiram escrever uma carta ao primeiro-ministro porque entendem que António Costa faltou à verdade quando disse na entrevista à TVI que até agora não faltou nada nos serviços de saúde. Costa referia-se, entre outras coisas, a equipamentos básicos de proteção. Os bastonários das três Ordens têm informações em sentido contrário e não gostaram das declarações do chefe do Governo.

Tempo de conferir os (últimos) dados oficiais que vão ser atualizados daqui a uma horas.

Há 2362 de casos infetados com o covid-19 em Portugal. Mais 15% do que no dia anterior (aqui é importante sublinhar que se regista um abrandamento).

203 pessoas estão internadas e registaram-se 33 mortos – mais 10 do que na véspera.

E há agora números que caracterizam a faixa etária dos óbitos. Tome nota dos detalhes do retrato atual do país em relação à Pandemia e não perca estes mapas e gráficos , com a assinatura do Jaime Figueiredo e da Sofia Rosa, que são a melhor forma de decifrar o que se passa no país. Pode ver, por exemplo, qual é a situação no seu Concelho.

Estamos a aproximarmo-nos, como conta a Vera Lúcia Arreigoso, da fase de mitigação da doença. É a fase mais crítica. Saiba o que muda a partir desta quinta-feira.

Há mais dois balanços a registar: 274 estabelecimentos comerciais foram encerrados e 27 pessoas detidas. São as contas mais recentes do Ministério da Administração Interna em relação à fiscalização ao abrigo do Estado de Emergência.

Já sabemos que nestes dias há quem tenha querido lucrar com a ansiedade de outros. A SIC denunciava ontem casos de especulação no mercado farmacêutico. Os números são arrepiantes. Termómetros quase a 100 euros e garrafões de gel desinfetante quase a 80.

Há um lar de idosos que vai ser evacuado em Vila Real. Contam-se 20 casos de infeção, segundo a agência Lusa e cerca de 60 utentes vão ser transferidos para o hospital militar de Braga, entregue à Cruz Vermelha. Esta, diria eu, é a grande questão dos dias que correm e dos que se aproximam. O levantamento do que se passa nos lares portugueses, frágeis perante um vírus que não dá tréguas junto da população de risco.

No primeiro debate quinzenal depois do Estado de Emergência ser decretado ficámos a saber que o Governo admite o recurso aos hotéis para compensar a falta de camas hospitalares (para doentes menos graves) que aguarda pelo quadro legislativo que permita aos bancos regularem as moratórias nos empréstimos e que as férias da Páscoa podem muito bem vir a ser o início… das férias de fim do ano letivo. Como o Expresso adiantou no sábado.

Tudo isto é evolutivo e depende dos efeitos de uma pandemia que ninguém consegue prever.

Foi um debate diferente. Apesar de alguns partidos terem levantado questões sobre as opções em matéria de saúde, na dúvida, o voto de confiança… vai (como na sondagem) para o Governo, numa espécie de oposição suave para tempos excecionais, como sublinha o Miguel Santos Carrapatoso.

Não foi só no estilo e no conteúdo do debate que se notaram as diferenças num Parlamento em dia de debate quinzenal, como pode conferir nesta reportagem da Mariana Lima Cunha nos bastidores da Assembleia da República.

O debate foi ainda marcado por um momento insólito.

Subitamente, o líder do maior partido da oposição retirou-se do debate parlamentar.

Decorria a intervenção do PSD com o deputado Ricardo Batista Leite à conversa com o primeiro-ministro quando Rui Rio, em resposta a uma intervenção de Ferro Rodrigues, anunciou que aproveitava para se retirar e dar o exemplo perante uma bancada que considerou estar demasiado cheia.

O PSD defende que, por estes dias, o Parlamento deva reunir o número mínimo de deputados (apenas a comissão permanente) e Rio não gostou que esse não tivesse sido o caminho da Conferência de Líderes. Mas gostou ainda menos que os deputados da sua bancada tivesse excedido (para o dobro) o número de deputados que devia estar presente.

Um recado em jeito de puxão de orelhas, para dentro, revelado em público.

A Câmara de Lisboa decidiu suspender o pagamento de rendas de 24 mil habitações sociais. A medida abrange cerca de 70 mil pessoas. O pacote de apoio, que inclui outras decisões, vai ser anunciado esta quarta-feira.

Efeitos do coronavírus na economia: Tal como em 2008, as startups também vão sofrer com a falta de investimento.

Há investigadores do Instituto Superior Técnico a pôr mãos à obra para ajudar a proteger os profissionais de saúde. Primeiro surge a ideia, juntam-se impressoras 3D e o resultado pode muito bem ser este.

Entre os portugueses retidos em casa, há casos de saúde para os quais o isolamento trás preocupações acrescidas. É o que se passa com os pacientes vitimas de demências. A Helena Bento e o Tiago Soares falaram com um especialista que responde a algumas dúvidas.

OUTRAS NOTÍCIAS LÁ FORA

Em Inglaterra há um estudo a dar que falar. Revela que metade da população inglesa pode já estar infetada. Investigadores de Oxford calculam que o coronavírus pode ter chegado a território britânico um mês antes do que se admitia até agora. O Financial Times, que entrevistou a coordenadora do estudo faz outra revelação: Donald Trump está a pedir ajuda à Coreia do Sul para conter o surto. A Organização Mundial de Saúde acredita que os Estados Unidos podem muito bem vir a ser o próximo foco central do vírus. O jornal revela ainda que a Goldman Sachs está agora a dizer aos clientes que chegou a altura de comprar ouro.

O covid-19 chegou à Índia. Com planos de isolamento no horizonte, as autoridades enfrentam grandes dificuldades. Como aplicar as medidas perante a densidade populacional do país.

Em Itália morreram mais 743 pessoas. O que parecia ser, nos últimos dias, uma diminuição ligeira no andamento dos números trágicos (uma taxa mais baixa de infetados), acabou por não se confirmar nos óbitos. A imprensa italiana faz o balanço: 6820 mortos, 69176 infetados.

De Espanha chegam relatos e retratos assustadores. Trago-lhe um deles, pela mão do correspondente do Expresso e é daqueles que se estivéssemos em televisão merecia um reparo: atenção às imagens sensíveis. Aqui não as vemos, mas nem isso nos alivia porque podemos adivinhá-las na escrita. Cenários de terror em lares de idosos, num país em que morreram 514 pessoas nas ultimas horas e surgiram mais de 6500 infetados.

Um gesto inédito das Igrejas de Portugal e Espanha. O bispo de Leiria/Fátima prepara-se para consagrar Portugal e Espanha ao Sagrado Coração de Jesus. A Rosa Pedroso Lima explica.

Cristiano Ronaldo e Jorge Mendes juntam-se aos gestos de solidariedade pelo mundo fora e fizeram saber que vão doar unidades de cuidados intensivos aos hospitais de Santa Maria e Pulido Valente em Lisboa e ao hospital de Santo António no Porto. As unidades ficam totalmente equipadas, aumentam o número de camas disponíveis em cada hospital e serão reconvertidas no futuro.

O modelo de financiamento levou a CMVM a chumbar a OPA do Benfica, mas o clube da Luz (que não concorda com os argumentos invocados para o chumbo) diz agora que quer desistir da operação. Por causa da crise provocada pelo coronavírus.


Na opinião Expresso, destaco Pedro Santos Guerreiro: lembra-se da bolha do imobiliário? Tome nota do que aí vem. “Depois do pico, será a pique”.

Coronabonds, prós e contras. “Já, mas com cuidado” é opinião de Francisco Louça.

Daniel Oliveira comenta a iniciativa do líder do CDS que se ofereceu como voluntário para as Forças Armadas para concluir que “o posto de um político e na política”.

Henrique Raposo comenta “a rebeldia dos idosos”. Devemos compreendê-la, sublinha.

FRASES

“Ninguém quer mentir a ninguém. Estamos todos a remar no mesmo sentido” – Marcelo Rebelo de Sousa no final do encontro no Infarmed que reuniu as principais figuras do Estado português, as autoridades da Saúde, líderes políticos e da concertação social.

“O PSD disse que tinha 16 e tem aqui um conjunto de deputados que não devia ter e eu vou ser o primeiro a sair para dar o exemplo àqueles que aqui estão e não deviam estar” – Rui Rio ao sair subitamente do Debate Quinzenal com o primeiro-ministro.

“Não digo que não tenha faltado nada aqui ou ali, digo é que não faltou nada de essencial para tratar doentes”. – António Costa no debate quinzenal.

Os nomes Albert Uderzo e René Goscinny talvez não digam muito a toda a gente, mas se lhe falar de Astérix e Obélix, já sabe do que se trata. Foi da imaginação e da arte destes dois homens, um escritor e outro ilustrador/desenhador que nasceram há 60 anos os irredutíveis gauleses.

Um deles, o escritor Goscinny morreu nos anos setenta. Esta terça-feira a família anunciou a morte do outro, Albert Uderzo. Tinha 92 anos. Não são muitas as pessoas que continuam tão intensamente vivas e presentes, depois da sua morte física. Quando a obra supera os criadores, é isso que acontece e há sempre uma história para recordar. Aqui, pela mão da Editora de Cultura da SIC, Graça Costa Pereira.

O QUE ANDO A LER

Sigo pela nota anterior como sugestão de leitura. Recordar os livros dos gauleses que enfrentaram os romanos numa luta de outros tempos, quando as guerras e as batalhas que confinavam a um espaço físico limitado e em que o adversário estava ali, a quilómetros, metros, centímetros de distância.

Mas, sendo realista, o que ando verdadeiramente a ler, tem a ver com o trabalho que exerço, mais do que isso, com os tempos que vivemos que suscitam dúvidas novas a cada momento. Acredito que me acompanhe nestas leituras: https://expresso.pt/coronavirus , aqui vai encontrar o guia prático do Expresso que procura responder às suas – nossas – questões.

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