A Marinha venezuelana divulgou,
sábado, um vídeo editado sobre a colisão entre o cruzeiro de bandeira
portuguesa 'Resolute' e uma embarcação da Marina da Venezuela, "Naiguatá
GC-23", ocorrido a 30 de março.
O vídeo, de dois planos, foi divulgado pelo comandante-geral da Marinha venezuelana, almirante Giuseppe Alessandrello Cimadevilla, que apresentou ainda, na televisão estatal, a captura de radares com a posição do 'Resolute' e reproduziu dois áudios com as conversas entre tripulantes das duas embarcações.
No vídeo vê-se o momento em que
um tripulante da 'Naiguatá GC-23' dispara, aparentemente para o mar, na direção do
'Resolute', enquanto uma voz masculina ordena "que parem as
máquinas".
No plano seguinte vê-se o que
seria a proa do 'Resolute' em ligeira colisão com o 'Naiguatá GC-23'.
As embarcações estabelecem
contacto em língua inglesa segundo o áudio da gravação,
identificam-se, com o 'Resolute' a indicar que está registado na Madeira, que
partiu de Buenos Aires (Argentina) para Willemstand, no Curaçau.
Indica ainda que tem 32
tripulantes e que ninguém lhes disse que precisavam de autorização para estar
onde estavam.
Uma voz masculina da 'Naiguatá GC-23'
ordena ao 'Resolute' que deve mudar a rota, recebendo como resposta que iriam
continuar com o curso previsto.
Segundo o almirante Giuseppe Alessandrello Cimadevilla,
nesse áudio o "Resolute reconhece a jurisdição da Venezuela e a
autoridade do guarda costeiro e nega-se a seguir as instruções.
No segundo áudio, há uma
conversa em espanhol, entre da 'Naiguatá GC-23' e um tripulante do
'Resolute', que informa que finalizaram a limpeza e que estão em rota para o Curaçau.
A Marinha dá instruções para que
siga para Isla Margarita. O 'Resolute' pergunta a razão dessa ordem,
recebendo como resposta: "Permanecer em águas jurisdicionais sem
autorização".
Do 'Resolute' pedem desculpa e
insistem que estão em rota para o Curaçau.
"Negativo, negativo. A
passagem inocente é sem autorização e para deter-se teriam que ter autorização
do país", respondem da "Naiguatá GC-23.
Do 'Resolute' sublinham que não
querem causar problemas e que vão para o Curaçau.
"Necessitamos que coopere,
caso contrário procederemos a fazer uso progressivo das nossas armas, segundo
as normativas internacionais estabelecidas", responde a Marinha
venezuelana.
"Por favor dê-me um momento,
estamos em pânico aqui. Estou apenas acordando o meu capitão, não queremos
nenhum problema", respondem do Resolute.
Neste áudio, segundo o
almirante Giuseppe Alessandrello Cimadevilla, o 'Resolute' reconhece
a jurisdição da Venezuela e autoridade do guarda costeiro, mas nega-se a seguir
as instruções.
Depois, "agride e atinge a
nave venezuelana", afirma.
A 31 de março, o Ministério
da Defesa da Venezuela (MDV) anunciou que uma embarcação da Marinha venezuelana
naufragou no dia anterior, após uma colisão com o cruzeiro de bandeira
portuguesa "Resolute", a norte da ilha de La Tortuga, localizada
a 181 quilómetros a nordeste de Caracas.
Segundo o MDV, pelas 00:45
de segunda-feira (05h45 em Lisboa), a lancha da Guarda Costeira "Naiguatá GC-23"
realizava "tarefas de patrulhamento marítimo" no mar territorial
venezuelano, quando "foi atingido pelo navio de passageiros
"Resolute".
A colisão ocorreu quando a
embarcação da Marinha "fazia um procedimento de controlo de tráfego
marítimo, o que gerou danos de grande magnitude" no barco da Guarda
Costeira venezuelana, explica-se no comunicado.
Por outro lado o Presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro, acusou o cruzeiro de bandeira portuguesa
'Resolute' de ter realizado um ato de "terrorismo e pirataria" contra
o navio da Marinha venezuelana.
Nicolás Maduro instou as
autoridades do Curaçau, território holandês, onde o navio está ancorado
neste momento, a investigar este "ato de pirataria internacional".
A 2 de abril último, a
empresa Columbian Cruise Services (CCS) garantiu, em um
comunicado, que o cruzeiro "Resolute" foi "objeto de um ato
de agressão" por uma embarcação da Marinha venezuelana em águas internacionais,
enquanto fazia a manutenção de um motor, em viagem para Willemstad, Curaçau.
Segundo a CCS "o
cruzeiro foi abordado por um navio da Marinha venezuelana que por rádio
questionou as intenções" da sua presença "e deu a ordem para o
acompanhar" até à ilha venezuelana de Margarita.
"Como o RCGS RESOLUTE
navegava em águas internacionais, o capitão queria reconfirmar esse
pedido específico, que resultava num sério desvio da rota", afirma-se.
Enquanto "o capitão
contactava o escritório central, foram feitos disparos de pistola" e o
barco da Marinha venezuelana "aproximou-se do lado de estibordo a uma
velocidade de 135° e colidiu deliberadamente" com o cruzeiro.
"A embarcação da Marinha
continuou golpeando o arco de estibordo, numa aparente tentativa de fazer virar
a cabeça do cruzeiro em direção às águas territoriais da
Venezuela", acrescenta-se na mesma nota.
Entretanto, o Ministério das
Relações Exteriores da Venezuela comunicou o sucedido à embaixada de Lisboa em
Caracas, através de uma nota verbal.
"Nós responderemos tão breve
quanto possível à nota verbal da Venezuela. Este incidente, qual quer que seja
a sua natureza é um incidente que não deve perturbar as relações de Estado a
Estado, entre a Venezuela e Portugal, quanto mais tratando-se de um navio
privado e de um incidente isolado cujas responsabilidades podem e devem ser
apuradas", disse Augusto Santos Silva.
Notícias ao Minuto | Lusa
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