segunda-feira, 13 de abril de 2020

O BRASIL PANDÉMICO DE BOLSONARO


É triste enxergar, aqui do outro lado do Atlântico, as indecências de um homem que ocupa o cargo de chefe de Estado do nosso Brasil.

Fernanda Zuccaro | Público | opinião

Saí do Brasil em novembro de 2016. Por opção, decidi que me iria tornar produtora de vinhos no Douro. Deixei minha carreira, família e toda uma vida para recomeçar do zero no Douro. Minha paixão por Portugal é antiga. Escolhi que no Douro eu iria viver. Fiz as malas, fechei o container com o recheio de casa e vim. São três anos trabalhando e construindo uma empresa de vinhos. 

No momento que iniciamos as vendas, as entregas dos vinhos para a restauração, distribuição nacional e exportação o mundo é assolado pela covid-19. Paramos tudo. Estamos em quarentena. Enquanto assistimos às tragédias em Itália, Espanha e China, a minha pátria, Brasil, é desgovernada, diariamente, por um ser que pode ser tudo menos um chefe de Estado. O Brasil sofre de pandemia de Bolsonaro há dois anos.

Desde que decidi sair do Brasil, sinto-me uma exilada política. Recuso-me a aceitar um chefe de Estado que defenda o período da Ditadura Militar no Brasil; que saúda torturadores; que incentive discursos de ódio e muitas outras coisas. Não compactuo com os “achismos” de um irresponsável chefe de Estado que desrespeita, minuto a minuto, o Estado de direito.


É triste enxergar, aqui do outro lado do Atlântico, as indecências de um homem que ocupa o cargo de chefe de Estado do nosso Brasil. São descabidas suas falas. Suas opiniões são “achismos” de um senso comum deprimente. Tudo o que é vomitado de sua boca são palavras ao vento de uma cabeça vazia. Como pode o povo brasileiro ter eleito este senhor? Pode, pois, ele é, em parte, representação do que uma parcela da população brasileira é.

Não vamos nos iludir. O recall que ele carrega, desde a eleição até os dias de hoje, são a base que o sustenta. Frágil ou não, há uma parcela considerável de brasileiros que compactuam com os pensamentos do Presidente.

É assim: os representantes que tomam decisões por nós nos representam. No Brasil o voto é obrigatório. Mesmo assim, na última eleição presidencial, em 2018, houve uma abstenção de 21,30%, que é alta. Jair Bolsonaro foi eleito com 55,13% dos votos válidos.

De acordo com a última pesquisa DataFolha de 3 de abril, o Governo Bolsonaro mantém uma aprovação de 33%, consideram o Governo regular 25%; 39% desaprovam seu Governo, 2% não sabem e 1% não respondeu.

O que temos que analisar são os 25% de brasileiros que não sabem o que dizer sobre a administração do capitão. Alguns respondem “não saber” por se sentirem envergonhados de concordar, lá no fundo, com o que Bolsonaro pensa e faz; outros nem sabem quem ele é, falta-lhes comida no prato, água encanada e o esgoto jorra na porta do barraco; e uma parcela está no que chamamos limbo: estado de migração do gostar para o não gostar, isso porque esta é a tendência da curva do gráfico.

Parece-lhe mal os números, para o Presidente do Brasil, não é? Pois não são, de todo. Com toda a pandemia que é o Governo Bolsonaro desde o dia 1 de janeiro de 2019, ele mantém cativo e seguro 30% da população brasileira sob seu carisma lunático.

Para os indignados, como eu, só resta resistir, de dentro de casa, aqui do Douro, com um copo de vinho!

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