sexta-feira, 3 de abril de 2020

Portugal | Adiar a Páscoa para termos Natal


Manuel Molinos* | Jornal de Notícias | opinião

Nestes dias que ficamos em casa já sabemos que, depois de abrirmos a porta, o Mundo não será o mesmo. A economia, o trabalho, as nossas relações sociais.

Porém, a memória coletiva é sempre curta e, portanto, convém guardar algumas frases para que não se percam nos feeds das redes sociais e para que sirvam como o melhor tratamento e terapia para a pós-pandemia.

Que ninguém as esqueça. Umas porque foram levianas, imprudentes, atentatórias da vida. Outras porque nos enchem de orgulho. Das que nem vale a pena transcrever, como as inúmeras proferidas por Jair Bolsonaro, Donald Trump e Boris Johnson, que só nos fazem pensar como é que o Mundo está entregue a esta gente, até às do general Ramalho Eanes, que, do alto da sua imagem rígida e quase sem expressão, diz que "nós, os velhos, vamos ser os primeiros a dar o exemplo, se for necessário oferecemos o nosso ventilador ao homem que tem mulher e filhos". Não esqueceremos também o "puxão de orelhas" que António Costa deu ao ministro das Finanças holandês. Há muito tempo que não nos sentíamos tão orgulhosamente portugueses.

No fim desta crise, seremos aquilo em que nos transformamos, na certeza de que os exemplos nacionais que temos tido não nos envergonham. As medidas ontem anunciadas, que aumentam o confinamento dos portugueses no âmbito da renovação do estado de emergência, são duras, mas necessárias. A Páscoa será mais triste, sobretudo para os nossos emigrantes que regressariam para ver a família. Mas só com este esforço será possível ter toda a família reunida no próximo Natal. E também nos devemos orgulhar disso. No termo desta etapa, seremos ainda mais maduros. Mais nobres e mais generosos, porque finalmente todos percebemos que éramos felizes e não sabíamos.

* Diretor-adjunto

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