Inês Cardoso | Jornal de
Notícias | opinião
Não temos respostas únicas ou
seguras, mas é tempo de refletirmos sobre como lidamos com o novo coronavírus
sem deixar que ele mate a presença e o contacto de proximidade com aqueles que
queremos proteger, particularmente os mais velhos.
É um caminho novo, que se faz a
apalpar terreno, mas à medida que os dias passam torna-se particularmente
penoso ver a imensa solidão a que muitos idosos estão expostos.
Não se trata apenas de quem vive
em lares ou outras respostas institucionais. Há pessoas de 70 e 80 anos, ativas
e habituadas a uma vida preenchida, que há dois meses não veem filhos e netos.
Acontecerá em meio urbano, mas mais ainda nalguns ambientes rurais, quando as
famílias estão separadas por centenas de quilómetros e à distância física se
juntaram as barreiras psicológicas.
Nos tempos de incerteza que
cruzamos, todas as reações são legítimas e compreensíveis. Mas importa refletir
que o afastamento absoluto, única forma de prevenir o risco de covid, acarreta
outros danos. Mais difíceis de medir, mas corrosivos. Os especialistas têm
vindo a apontar sugestões concretas para um convívio em segurança. Um
piquenique ou uma mesa colocada num quintal ou pátio são opções para refeições
em família, sem que isso implique expor os outros a riscos. Há cuidados a ter,
claro, mas nenhum é impeditivo de retomar contacto.
Importa ainda recordar que
proteger os mais velhos pressupõe ouvi-los. Na ânsia de decidirmos por eles,
acabamos por os menorizar e desrespeitar. Proteger não é decidir por alguém que
tem plena capacidade para o fazer. Poderia parecer muito cómodo manter os
grupos de risco isolados até que haja uma vacina. Mas seria uma absurda
restrição da sua liberdade e vontade. Os nossos pais e avós precisam de
particular cuidado, mas não que os infantilizemos. Ou que os abandonemos meses
a fio, fechados numa redoma que não escolheram.
* Diretora-adjunta
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