Víctor Silva | Jornal de Angola |
opinião
O exercício da liberdade de
expressão, além de outras liberdades, tem sido uma marca do actual ciclo
político, respeitando-se principios básicos de um Estado de Direito
Democrático, cujos alicercers estão a ser consolidados entre o emaranhar de
problemas financeiros, económicos e sociais que o país conhece.
São problemas reais, que afectam
as pessoas, as familias, as empresas e que, em alguns casos, levantam a
incredibilidade pela diferença entre o potencial de riqueza e a vida dificil
que a maioria dos angolanos leva.
Problemas que merecem a máxima atenção de todos, independentemente das opções políticas ou quaisquer outras, porque só unidos conseguir-se-á encontrar a sua solução, mesmo que os recursos não abundem, como é o caso.
A pandemia do novo coronavírus veio acentuar uma crise que já se estava a reflectir ao nível da economia e das finanças, retraindo uma série de iniciativas e medidas que estavam em marcha para lhes fazer face num horizonte de tempo definido, apesar das variáveis fora do controlo interno. Com a crise sanitária aberta com a Covid-19 muitos planos estão congelados dada a imprevisibilidade do avanço entre nós da peste e das medidas que entretanto tiveram de ser adoptadas para impedir males maiores, como as cercas sanitárias nacionais e a Luanda e as limitações impostas pelo Estado de calamidade pública.
Nota-se, e disso tem-se dado estampa, um esforço assinalável da parte de muitos
empresários, nos mais variados ramos e sectores, em manter acesa a esperança da
possibilidade da produção nacional ir substituindo as importações, o que, como
é evidente, não passa apenas pelo aumento da produção, para o qual são
necessários estímulos que nem sempre chegam no momento certo, aos beneficiários
certos e nas quantidades ajustadas. O excesso de burocracia e outros males
herdados do passado recente impedem que os prometidos apoios cheguem
efectivamente a quem deles precisa, impondo-lhes obstáculos que geralmente
acabam no condicionamento ao suborno e a partilha do que ainda nem se produziu.
A estagnação da economia, as dificuldades de tesouraria e a pandemia da Covid-19 estão a fomentar uma crise social que está a afectar todos, sem excepção, fazendo até que muitas famílias que se situariam num patamar de alguma estabilidade estejam a abeirar-se da franja dos mais vulneráveis, aumentando assim assustadoramente o número de necessitados, como aliás, se verfica até em muitas sociedades do chamado primeiro mundo.
Já muito se falou e escreveu sobre a reunião de auscultação do Presidente da República com a sociedade civil, partidos políticos e associações empresariais e profissionais sobre as saídas pós-Covid, das muitas vozes que queriam falar e o seu formato não permitiu. Tratou-se de um exercício de reconhecimento de que o saber e a solução não residem exclusivamente entre quem governa e que há, efectivamente, necessidade de engajar todos na busca de caminhos que levem à mudança do actual quadro, independentemente do preço do barril de petróleo estar na estratosfera ou ao desbarato.
Todos devemos abraçar a causa da reconstrução e enfrentar as adversidades de uma realidade dura e sacrificada para a maioria. Mas há uns tantos que gostam de se colocar em bicos de pés para arremessar culpas e responsabilidades, lavando as mãos qual Pôncio Pilatos, como se também eles não estivessem implicados no que hoje se vive e, pior, como se no exercício dos muitos cargos que desempenharam e desempenham tivessem agregado algum valor diferenciado, além do activismo revanchista que abraçaram por terem sido apeados da mesa do banquete.
Esses mesmos que aproveitam a liberdade de expressão que reprimiram o mais que puderam para vir a público apresentar-se como os maiores democratas de barriga cheia, reclamando por direitos que negaram coercivamente a outros, só porque, na altura, não se curvavam aos seus caprichos e ambições. E então é vê-los desiludidos com tudo e com todos, reclamando debates cujos resultados até estão escritos e são públicos, mas que ignoram propositadamente para surgirem como os salvadores da Pátria, ou recorrendo a metáforas para ver repetidas internamente as suas mentiras e fantasias do milagre da multiplicação que estão a ser destapadas lá fora.
É o que dá levar à letra a “liberdade de expressão” que abominavam e a que agora recorrem em gestos incoerentes, que só surpreendem quem os não conhece, para se alvorarem a ser mais do que as aves de rapina ou de gaiola que sempre foram. Substituindo moinhos por pipelines ou títulos monárquicos por foragidos, a “liberdade de expressão” ainda lhes permite serem lidos ou escutados para mostrarem a sua frustração, descaramento e ingratidão, coisa que no alto das democracias que dirigiram eram impossíveis de acontecer.
Ele há vidas!
Sem comentários:
Enviar um comentário