A
juventude angolana debate-se com muitas dificuldades, desde o desemprego à
habitação. Associações e jovens ouvidos pela DW África apontam caminhos para a
resolução dos seus problemas.
Manter
os jovens ocupados é uma questão essencial para Mauro Mendes,
secretário-executivo provincial de Luanda do Grémio Juvenil de Angola (GREJA),
no planeamento do contexto pós-Covid-19 no país.
"Criaremos
estratégias para satisfazer as necessidades dos jovens, criando encontros de
reflexão e a materialização de projetos sociais para manter os jovens
ocupados", afirma.
Este
é o caminho que as organizações terão de percorrer para ajudar na resolução dos
problemas da juventude, considera Mauro Mendes.
A
juventude é a maior franja da sociedade angolana. Segundo os últimos dados do
Censo Geral de Habitação e População, realizado em 2014, mais de 60% da
população em Angola é jovem.
Fazer
cumprir as leis para a Educação
A
faixa etária debate-se com vários problemas, como o acesso ao sistema de
ensino. Este ano, houve mais de 30 mil candidatos para cerca de 5 mil vagas
disponíveis da Universidade Agostinho Neto, uma das instituições do ensino
superior público do país.
"Teremos
de pressionar o Governo a fazer cumprir aquelas que são as recomendações do
forúm internacional sobre educação realizado no Senegal", diz Francisco
Teixeira, responsável do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA). No fórum,
realizado em abril do ano 2000, "Angola assumiu que deveria atribuir dois
dígitos para o sector da educação", lembra.
Além
dos problemas de acesso às instituições de ensino, a juventude também tem
dificuldades em deslocar-se para frequentar as aulas. Angola regista escassez
de transportes públicos como autocarros e comboios. O MEA, explica Francisco,
vai também pressionar o Estado, através do Ministério dos Transportes, a
implementar o passe do estudante, uma luta que leva anos.
"A
questão dos transportes públicos para os estudantes está na lei base da
Educação. Depois da Covid-19, vamos voltar a fazer pressão para se fazer
cumprir a lei", garante.
Mesmo
com formação, os jovens têm muitas dificuldades em encontrar o primeiro
emprego. Segundo dados divulgados em 2019 pela diretora-adjunta do Instituto
Nacional de Estatística (INE), Ana Paula Machado, mais de 50% dos jovens estão
desempregados.
"Depois
da Covid-19, o Governo tem de cumprir com as promessas eleitorais feitas. Dar
os 500 mil empregos. Deve-se tirar a ideia do papel e pô-la em prática",
frisa Arante Kivuvu, um dos promotores de manifestações de rua em Angola contra
o desemprego.
"É
preciso que o Estado adote políticas claras sobre, por exemplo, o funcionamento
da zona económica, para poder criar mais vagas nas fábricas", diz o
ativista, referindo-se à Zona Económica Especial Luanda-Bengo, um espaço com
uma grande concentração industrial em processo de privatização. São mais de 170
fábricas.
Outro
problema é o acesso a habitação. Muitos jovens, mesmo com emprego, não
conseguem materializar o sonho da casa própria, devido aos preços elevados.
Recentemente, um grupo de líderes juvenis partidários da UNITA e PRS endereçou
uma carta ao Presidente angolano, João Lourenço, para lhe relembrar a promessa
feita, há um ano, de acesso a casas nas centralidades por parte da juventude.
O
Estado tem levado a cabo um conjunto de projetos de fomento à habitação. Em
Luanda, surgiram projetos habitacionais como Luanda Sul, Zona de Reassentamento
do Panguila, Zangos, Calemba 2, Sapú e, recentemente, os projetos das
centralidades, recorda João dos Santos, jovem arquiteto e presidente da
cooperativa habitacional "Minha Casa". "Três destes projetos, o
Executivo definiu apenas 7% para a juventude como forma de mitigar os problemas
dos jovens. O que não foi levado em consideração é que as famílias angolanas
são constituídas maioritariamente por jovens", explica.
"Hoje,
podemos considerar que mais de metade da juventude em Angola vive em condições
de habitabilidades precárias e em zonas com problemas de saneamento básico e
níveis de criminalidade elevada", revela o arquiteto.
E
depois da pandemia?
João
dos Santos não acredita que após a Covid-19 o Estado terá como prioridade a
construção de mais habitações, por causa do impacto negativo da pandemia e da
crise económica e financeira que assola o país resultante, em grande medida, da
baixa do preço do petróleo no mercado internacional.
Para
ajudar a juventude, o presidente da cooperativa "Minha Casa" apela à
criação do denominado PIM H – Plano Integrado Municipal Habitacional, cujo
objetivo "seria a constituição e implementação de cooperativas que serviriam
como parceiras das administrações locais como um interlocutor credível da
juventude local".
"Depois
de cadastrados através das representações do CNJ, órgão de tutela das massas
juvenis, cada jovem inscrito receberia um lote de terreno, projeto arquitetónico
e o acompanhamento técnico de jovens recém-formados dos cursos de engenharia
civil e arquitetura", explica.
Para
este jovem especialista, esta via "seria também uma maneira ideal para que
aqueles jovens que não têm aulas práticas nas suas instituições de ensino
obtivessem experiência de trabalho, bem como servir de estágio curricular para
os mesmos".
João
dos Santos acredita que os projetos de cooperativas habitacionais poderão
resolver o problemas da habitação no seio da juventude no contexto pós-Covid. O
jovem lembra ainda que foi o meio usado na sociedade colonial.
"80%
das habitações construídas no período colonial e pós-colonial foi com base na
criação de cooperativas habitacionais de trabalhadores. Por exemplo, bairros
como Alvalade, Terra Nova, Vila Alice, Prenda, Precol, Bairro Operário, Bairro
Popular, são exemplos mais práticos de que uma mudança de paradigma será o
melhor método para o problema em questão", conclui.
Manuel
Luamba (Luanda) | Deutsche Welle
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