terça-feira, 30 de junho de 2020

Jovens propõem soluções para a Angola pós-Covid


A juventude angolana debate-se com muitas dificuldades, desde o desemprego à habitação. Associações e jovens ouvidos pela DW África apontam caminhos para a resolução dos seus problemas.

Manter os jovens ocupados é uma questão essencial para Mauro Mendes, secretário-executivo provincial de Luanda do Grémio Juvenil de Angola (GREJA), no planeamento do contexto pós-Covid-19 no país.

"Criaremos estratégias para satisfazer as necessidades dos jovens, criando encontros de reflexão e a materialização de projetos sociais para manter os jovens ocupados", afirma.

Este é o caminho que as organizações terão de percorrer para ajudar na resolução dos problemas da juventude, considera Mauro Mendes.

A juventude é a maior franja da sociedade angolana. Segundo os últimos dados do Censo Geral de Habitação e População, realizado em 2014, mais de 60% da população em Angola é jovem.

Fazer cumprir as leis para a Educação

A faixa etária debate-se com vários problemas, como o acesso ao sistema de ensino. Este ano, houve mais de 30 mil candidatos para cerca de 5 mil vagas disponíveis da Universidade Agostinho Neto, uma das instituições do ensino superior público do país.

"Teremos de pressionar o Governo a fazer cumprir aquelas que são as recomendações do forúm internacional sobre educação realizado no Senegal", diz Francisco Teixeira, responsável do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA). No fórum, realizado em abril do ano 2000, "Angola assumiu que deveria atribuir dois dígitos para o sector da educação", lembra.

Além dos problemas de acesso às instituições de ensino, a juventude também tem dificuldades em deslocar-se para frequentar as aulas. Angola regista escassez de transportes públicos como autocarros e comboios. O MEA, explica Francisco, vai também pressionar o Estado, através do Ministério dos Transportes, a implementar o passe do estudante, uma luta que leva anos.

"A questão dos transportes públicos para os estudantes está na lei base da Educação. Depois da Covid-19, vamos voltar a fazer pressão para se fazer cumprir a lei", garante.

Sem emprego, sem casa

Mesmo com formação, os jovens têm muitas dificuldades em encontrar o primeiro emprego. Segundo dados divulgados em 2019 pela diretora-adjunta do Instituto Nacional de Estatística (INE), Ana Paula Machado, mais de 50% dos jovens estão desempregados.

"Depois da Covid-19, o Governo tem de cumprir com as promessas eleitorais feitas. Dar os 500 mil empregos. Deve-se tirar a ideia do papel e pô-la em prática", frisa Arante Kivuvu, um dos promotores de manifestações de rua em Angola contra o desemprego.

"É preciso que o Estado adote políticas claras sobre, por exemplo, o funcionamento da zona económica, para poder criar mais vagas nas fábricas", diz o ativista, referindo-se à Zona Económica Especial Luanda-Bengo, um espaço com uma grande concentração industrial em processo de privatização. São mais de 170 fábricas.

Outro problema é o acesso a habitação. Muitos jovens, mesmo com emprego, não conseguem materializar o sonho da casa própria, devido aos preços elevados. Recentemente, um grupo de líderes juvenis partidários da UNITA e PRS endereçou uma carta ao Presidente angolano, João Lourenço, para lhe relembrar a promessa feita, há um ano, de acesso a casas nas centralidades por parte da juventude.

O Estado tem levado a cabo um conjunto de projetos de fomento à habitação. Em Luanda, surgiram projetos habitacionais como Luanda Sul, Zona de Reassentamento do Panguila, Zangos, Calemba 2, Sapú e, recentemente, os projetos das centralidades, recorda João dos Santos, jovem arquiteto e presidente da cooperativa habitacional "Minha Casa". "Três destes projetos, o Executivo definiu apenas 7% para a juventude como forma de mitigar os problemas dos jovens. O que não foi levado em consideração é que as famílias angolanas são constituídas maioritariamente por jovens", explica.

"Hoje, podemos considerar que mais de metade da juventude em Angola vive em condições de habitabilidades precárias e em zonas com problemas de saneamento básico e níveis de criminalidade elevada", revela o arquiteto.

E depois da pandemia?

João dos Santos não acredita que após a Covid-19 o Estado terá como prioridade a construção de mais habitações, por causa do impacto negativo da pandemia e da crise económica e financeira que assola o país resultante, em grande medida, da baixa do preço do petróleo no mercado internacional.

Para ajudar a juventude, o presidente da cooperativa "Minha Casa" apela à criação do denominado PIM H – Plano Integrado Municipal Habitacional, cujo objetivo "seria a constituição e implementação de cooperativas que serviriam como parceiras das administrações locais como um interlocutor credível da juventude local".

"Depois de cadastrados através das representações do CNJ, órgão de tutela das massas juvenis, cada jovem inscrito receberia um lote de terreno, projeto arquitetónico e o acompanhamento técnico de jovens recém-formados dos cursos de engenharia civil e arquitetura", explica.

Para este jovem especialista, esta via "seria também uma maneira ideal para que aqueles jovens que não têm aulas práticas nas suas instituições de ensino obtivessem experiência de trabalho, bem como servir de estágio curricular para os mesmos".

João dos Santos acredita que os projetos de cooperativas habitacionais poderão resolver o problemas da habitação no seio da juventude no contexto pós-Covid. O jovem lembra ainda que foi o meio usado na sociedade colonial.

"80% das habitações construídas no período colonial e pós-colonial foi com base na criação de cooperativas habitacionais de trabalhadores. Por exemplo, bairros como Alvalade, Terra Nova, Vila Alice, Prenda, Precol, Bairro Operário, Bairro Popular, são exemplos mais práticos de que uma mudança de paradigma será o melhor método para o problema em questão", conclui.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

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