Os EUA, a contas com uma das mais
sérias crises internas da sua história, todos os dias vêm crescer o exército de
desempregados. Mas vão suspender o magro subsídio atribuído a quem ficou
desempregado no curso da pandemia, num quadro em que a insegurança alimentar
duplicou, atingindo agora 38 por cento da população. O mais certo é os milhões
de dólares que anteriormente teriam tido esse destino irem directamente para o
grande capital.
Este domingo (14.6), o
conselheiro da Casa Branca para os assuntos económicos, Larry Kudlow, anunciou
que o presidente dos EUA não vai prolongar o subsídio extraordinário de 600
dólares mensais atribuído aos trabalhadores que ficaram desempregados durante a
pandemia de COVID-19.
O subsídio em causa, parte do
Decreto CARES, a maior injecção de dinheiros públicos na economia privada desde
a Grande Depressão, cerca de quatro biliões de dólares, representava, para
milhões de famílias, um bote de salvação num mar de miséria e fome. Desde o
início da pandemia, a insegurança alimentar duplicou nos EUA, atingindo agora
38 por cento da população.
O objectivo de Kudlow é
chantagear os trabalhadores em lay-off a regressar às fábricas sem a necessária
protecção e segurança, mesmo nos 15 Estados onde os números de infectados e de
mortos está a aumentar exponencialmente.
É o caso, a título de exemplo, da
indústria do empacotamento de carne, em que os EUA somam 24 000 operários
infectados e 87 mortos. Só no Kansas, os 3000 operários infectados representam
30 por cento do total do Estado.
A resposta dos trabalhadores
desta indústria tem sido a greve: organizada quando possível, espontânea quando
necessária. Na semana passada, metade de todos os operários da indústria do
empacotamento de carne faltaram ao trabalho alegando estar doentes, uma táctica
comum para fintar as leis que impedem a greve. Na indústria automóvel, estas
estatísticas alcançam os 25 por cento.
Não é para menos: ao invés de,
como exige o movimento sindical, reduzir a velocidade das linhas de montagem
para permitir um maior distanciamento, há casos de fábricas em que os patrões
desligam a ventilação para poupar electricidade. Simultaneamente, a indústria
estado-unidense está a deixar paulatinamente de anunciar os números relativos
aos contágios nas suas fábricas, impedindo os trabalhadores de conhecer os
riscos que correm. A mensagem do capital é clara: se as medidas sanitárias de
prevenção do contágio afectarem os lucros, elas não devem existir.
Termina assim abruptamente o
subsídio extraordinário para os quase 14 por cento de trabalhadores
desempregados nos EUA. Não se prevê, contudo, que os já mencionados 4 triliões
de dólares previstos pela Casa Branca parem de chegar ao grande capital.
-em O Diário.info
*Este artigo foi publicado no
“Avante!” nº 2429, 18.06.2020
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