domingo, 28 de junho de 2020

CARES para o capital, não para o trabalho


Os EUA, a contas com uma das mais sérias crises internas da sua história, todos os dias vêm crescer o exército de desempregados. Mas vão suspender o magro subsídio atribuído a quem ficou desempregado no curso da pandemia, num quadro em que a insegurança alimentar duplicou, atingindo agora 38 por cento da população. O mais certo é os milhões de dólares que anteriormente teriam tido esse destino irem directamente para o grande capital.


Este domingo (14.6), o conselheiro da Casa Branca para os assuntos económicos, Larry Kudlow, anunciou que o presidente dos EUA não vai prolongar o subsídio extraordinário de 600 dólares mensais atribuído aos trabalhadores que ficaram desempregados durante a pandemia de COVID-19.

O subsídio em causa, parte do Decreto CARES, a maior injecção de dinheiros públicos na economia privada desde a Grande Depressão, cerca de quatro biliões de dólares, representava, para milhões de famílias, um bote de salvação num mar de miséria e fome. Desde o início da pandemia, a insegurança alimentar duplicou nos EUA, atingindo agora 38 por cento da população.


O objectivo de Kudlow é chantagear os trabalhadores em lay-off a regressar às fábricas sem a necessária protecção e segurança, mesmo nos 15 Estados onde os números de infectados e de mortos está a aumentar exponencialmente.

É o caso, a título de exemplo, da indústria do empacotamento de carne, em que os EUA somam 24 000 operários infectados e 87 mortos. Só no Kansas, os 3000 operários infectados representam 30 por cento do total do Estado.

A resposta dos trabalhadores desta indústria tem sido a greve: organizada quando possível, espontânea quando necessária. Na semana passada, metade de todos os operários da indústria do empacotamento de carne faltaram ao trabalho alegando estar doentes, uma táctica comum para fintar as leis que impedem a greve. Na indústria automóvel, estas estatísticas alcançam os 25 por cento.

Não é para menos: ao invés de, como exige o movimento sindical, reduzir a velocidade das linhas de montagem para permitir um maior distanciamento, há casos de fábricas em que os patrões desligam a ventilação para poupar electricidade. Simultaneamente, a indústria estado-unidense está a deixar paulatinamente de anunciar os números relativos aos contágios nas suas fábricas, impedindo os trabalhadores de conhecer os riscos que correm. A mensagem do capital é clara: se as medidas sanitárias de prevenção do contágio afectarem os lucros, elas não devem existir.

Termina assim abruptamente o subsídio extraordinário para os quase 14 por cento de trabalhadores desempregados nos EUA. Não se prevê, contudo, que os já mencionados 4 triliões de dólares previstos pela Casa Branca parem de chegar ao grande capital.


*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2429, 18.06.2020

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