O FMI piorou esta segunda-feira
(29.06) as previsões de crescimento para todos os Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa, agravando a recessão em todos. Mas há uma
exceção: Moçambique deverá crescer 1,2% este ano.
Moçambique deverá ser o único dos
Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) a manter um crescimento
positivo. Deverá crescer 1,2% este ano, apesar da pandemia da Covid-19.
A afirmação é do Fundo Monetário
Internacional (FMI) e consta no relatório de atualização das Previsões
Económicas para a África subsaariana, divulgadas esta segunda-feira (29.06) em
Washington nos Estados Unidos.
Mas ainda assim a expansão da
atividade económica foi revista em baixa: de 2,2% para 1,4% este ano, e de 4,7%
para 4,2% em 2021. Segundo o relatório, os restantes países lusófonos estarão
todos numa recessão mais profunda este ano do que se previa em abril.
Destaque para a Guiné Equatorial,
que deverá enfrentar um crescimento negativo de 8,1%, mas recuperando para
terreno positivo já no próximo ano, com uma expansão de 2,5%, segundo as
previsões do FMI.
Angola melhora só em 2023
Angola, uma das maiores economias
africanas e a maior entre os países de língua portuguesa no continente, terá um
crescimento negativo de 4% este ano. Reflete assim a descida na produção e nos
preços do petróleo e as dificuldades financeiras do país.
O relatório do FMI exemplifica
que em Angola, Nigéria e África do Sul "o PIB real deverá regressar aos
níveis de crescimento pré-crise [de Covid-19] só em 2023 ou 2024".
"A recuperação em 2021 será
mais lenta que a recuperação da economia global porque os apoios políticos
lançados pelos países da África subsaariana para facilitar a recuperação são
consideravelmente mais pequenos do que aqueles que foram implementados em
muitas economias emergentes", lê-se no relatório.
Covid-19 aumentou recessão
O relatório do FMI prevê uma
recessão de 3,2% para a África subsaariana, anulando dez anos de
desenvolvimento. Das 45 economias da região, 37 têm uma previsão de crescimento
pior que o projetado pelos analistas do FMI em abril e "o PIB da região
vai ser 243 mil milhões de dólares menor que o projetado em outubro de
2019", lê-se no documento.
A atualização mostra a severidade
da pandemia da Covid-19 empurrou a África subsariaana para o crescimento
económico negativo mais profundo das últimas décadas.
O PIB per capita deverá quebrar
em 5,4% este ano, prevendo-se uma recuperação de apenas 1,1% em 2021, "o
que vai fazer com que o PIB per capita fique sete pontos percentuais abaixo do
nível projetado antes da pandemia da Covid-19, em outubro, e quase ao nível dos
valores de 2010".
"O crescimento na região
deverá apenas recuperar gradualmente, assumindo que a pandemia se esbate e o
desconfinamento continua durante a segunda metade de 2020. O crescimento deverá
ser de 3,4% em 2021, o que é 0,6 pontos percentuais mais baixo que a projeção
de abril", lê-se no documento, que argumenta que a estimativa de
recuperação devido a vários fatores.
Setor informal da economia
A pandemia deverá também empurrar
para a pobreza entre 26 e 39 milhões de pessoas, "com a desigualdade nos
rendimentos a agravar-se devido ao efeito desproporcional que o confinamento
tem no setor informal, afetando os trabalhadores das pequenas e médias empresas
no setor dos serviços".
O diretor do departamento
africano do FMI disse esta segunda-feira (29.06) que a informalidade da
economia do continente dificulta o apoio dos Estados. "As autoridades na
África subsaariana enfrentam um desafio distinto na ajuda àqueles que mais precisam;
cerca de 90% do emprego não agrícola é no setor informal, onde os participantes
não estão geralmente cobertos por uma rede de segurança social", explicou
Abebe Aemro Selassie.
"Além disso, uma grande
parte destas atividades centra-se no fornecimento de serviços, que foram
particularmente afetados pela crise; os trabalhadores informais tipicamente têm
poucas poupanças e acesso limitado a serviços financeiros, por isso ficar em casa
não é uma opção, o que complica os esforços das autoridades para manterem um
confinamento eficaz", acrescentou o responsável.
A prioridade imediata, apontou,
deve ser a preservação da saúda e das vidas, mas com a reabertura gradual das
economias, os esforços de apoio público devem desviar-se do geral para
"alvos mais específicos e políticas mais direcionadas, concentradas em
particular nos agregados familiares mais pobres e nos setores que foram mais
atingidos pela crise".
Negociar a dívida africana
O FMI defendeu também que os
governos africanos devem tentar renegociar a dívida pública com os credores
oficiais e também com os credores da dívida privada, mesmo arriscando descidas
no rating, para ganharem espaço para combater a pandemia.
Os países da África subsaariana,
em particular, devem também "explorar todas as opções disponíveis de apoio
internacional", diz o FMI, lembrando que em 16 de junho já tinha
aprovado um alívio do serviço da dívida a 28 países, 21 dos quais nesta região
africana, até outubro deste ano, admitindo estender a ausência de pagamentos
durante dois anos.
Entre os 35 países de baixo
rendimento para o qual há classificações de 'rating' preparadas pelo FMI, nove
estavam em risco de dívida problemática e sete estavam já nessa categoria,
dizem os analistas do Fundo, notando que os níveis de dívida pública já estavam
numa trajetória de degradação mesmo antes da pandemia, "mas um salto
significativo em todos eles é agora já uma certeza".
Este fim de semana, o analista da
Moody's que segue a economia de Angola apontou, em entrevista à Lusa, que a
consequência automática de uma reestruturação da dívida angolana aos credores
privados é uma descida no 'rating' e explicou que a adesão à DSSI implica a
colocação do 'rating' do país que aderir em revisão para descida, argumentando
que isso pressupõe um aumento do risco de incumprimentos para com os credores
privados.
Deutsche Welle | Lusa
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