domingo, 21 de junho de 2020

Trump não é polícia do mundo

Durante o discurso na cerimónia de formação da Academia Militar dos EUA, Trump disse o seguinte: “Não cabe ao exército americano resolver conflitos em países longínquos de que ninguém ouviu falar. Não somos a polícia do mundo”. 

David Chan | Plataforma | opinião

Não somos a polícia do mundo! Será este um comunicado de que os EUA não voltarão a interferir em assuntos internos de outros países? Com certeza que não, ou irá o país deixar de se envolver nas questões de Hong Kong e Taiwan, ou seja, assuntos internos chineses? Irá Trump finalmente desistir? Se quando diz “não somos a polícia do mundo” não está a falar de assuntos internos de outros países, qual o objetivo ao declarar que não é polícia do mundo?

Trump está na verdade a arranjar desculpas para a estratégia de saída militar, para, por exemplo, retirar o exército do Afeganistão. No dia 11 de junho o presidente acordou com o governo iraquiano a retirar parte de 52 mil militares. Recentemente anunciou também que iria ordenar o regresso de 9500 tropas sediadas na Alemanha, mas para tal precisava de uma razão, por isso arranjou a desculpa de que os EUA não são polícias do mundo.

Esta estratégia tem dois objetivos principais. O primeiro é reduzir a responsabilidade a nível internacional. Daqui para a frente o país não irá ser tão culpabilizado como polícia mundial, e por isso não valerá a pena pedir ajuda aos EUA. Não irão mais proteger outros países sem nada em troca, apenas os interesses nacionais importam. Quem quiser a proteção militar americana terá de pagar para tal. O segundo objetivo é alargar a estratégia de controlo chinês e russo. Os EUA abandonaram o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário e não aprovaram o Tratado de Interdição Completa de Ensaios Nucleares para poderem criar pequenas bombas nucleares e as usarem contra a China e a Rússia. Tal requer dinheiro, e por isso Trump espera assim conseguir reunir fundos suficientes para investir no controlo chinês e russo. Podemos presumir que o país continuará a lutar pela hegemonia, apenas não irá assumir tanta responsabilidade pelas respetivas ações. 

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