O líder histórico timorense
Xanana Gusmão considerou hoje não ter “capacidade” para se aproximar dos
líderes civis e militares que hoje governam Timor-Leste, recusando assim um
pedido de diálogo feito pelo chefe das Forças Armadas.
Xanana Gusmão respondeu com
ironia a uma carta enviada pelo comandante das Forças de Defesa de Timor-Leste
(F-FDTL), Lere Anan Timur, a vários líderes do país, incluindo o atual presidente
do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Xanana Gusmão, que
identifica como “comandante em chefe” das Falintil, o braço armado da
resistência timorense.
Nessa carta, obtida hoje pela
Lusa, Lere Anan Timur pediu “coragem” aos líderes históricos do país para que
ajudem a ultrapassar as divergências, pessoais e partidárias ou institucionais
que estão a gerar desilusão, desmotivação e “muita preocupação”, inclusive
entre os militares.
Lere refere uma lista de “efeitos
negativos” na população, onde tem crescido “um sentimento de desilusão,
desmotivação e muita preocupação face ao futuro”.
Em reposta, numa carta a que a
Lusa também teve acesso, Xanana Gusmão, ironiza e diz ter feito um “esforço
para tentar entender a carta de sua excelência, que demonstrou um pensamento
muito elevado”.
E depois repetiu as acusações que
lhe têm sido feitas por vários partidos de que ele próprio e o seu partido nos
anos entre 2007 e 2016 em que lideraram o Governo, não souberam governar, foram
corruptos e têm autonomistas nas suas fileiras.
“Eu, em nome do CNRT; posso dizer
que é verdade que de 2007 a
2016 não houve nenhum desenvolvimento, só houve corrupção e muitos membros do
Governo foram presos”, disse.
“O povo viu que o desenvolvimento
de Timor-Leste, só começou em 2017, 2018, 2019 até 2020. Nesses quatro anos em
que todos os timorenses sentiram verdadeiramente o desenvolvimento”, afirmando,
referindo-se, também com ironia, aos anos de contração económica e crise
política.
Procurando desvalorizar o seu
próprio papel na luta pela libertação, e recordando que devolveu ao Estado uma
medalha que lhe foi conferida pelo país, Xanana Gusmão diz que é o “segundo
Suharto” de Timor, numa referência a uma comparação feita pelo então Presidente
da República, Taur Matan Ruak, atual primeiro-ministro.
“Peço com humildade para não me
chamar comandante em chefe para não trazer vergonha às forças de libertação
nacional perante as quais me vergo, com todo o respeito… porque elas mandaram
embora o inimigo para libertar Timor-Leste”, escreve Xanana Gusmão.
“Em nome do partido CNRT, ‘que
não sabe governar e que está cheio de autonomistas e corruptos’ eu tenho que
reconhecer e de aplaudir o facto real de que só desde 2017 até agora é que
surgiu o desenvolvimento, com a liderança de líderes inteligentes, e de membros
do Governo qualificados de alto perfil que sabem governar este Estado de
Direito democrático”, afirmou.
Motivo pelo qual, explica: “Tremo
perante personalidades com a capacidade intelectual” dos atuais líderes do
país.
“Portanto eu criei um partido
novo e pequeno que é o CNRT para ser presidente do partido e poder roubar
dinheiro do Estado democrático e peço desculpa porque não tenho nível para me
aproximar dos outros líderes nacionais que o senhor ex-general referiu na sua
carta”, escreve Xanana Gusmão.
“Eu só sou aluno de liceu. Tenho
que ter distanciamento social destes doutores, porque eu tenho a cabeça vazia,
não posso aproximar-me destes doutores tão inteligentes”, conclui.
Plataforma | Lusa - em 12.06.2020
Sem comentários:
Enviar um comentário