O
Parlamento angolano aprovou, na generalidade, o Orçamento Geral do Estado
revisto para este ano, na sequência da pandemia da Covid-19. Economista Alves
da Rocha alerta para o drama do desemprego e da pobreza no país.
Na
terça-feira (14.07), durante a discussão no Parlamento sobre o orçamento
retificativo para 2020, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA)
elogiou as medidas do Executivo para equilibrar as receitas orçamentais. O peso
da despesa financeira reduziu, por exemplo, de 60,7% para 55,9% do total do
Orçamento Geral do Estado.
Face
aos efeitos da pandemia na economia angolana, o líder parlamentar do MPLA,
Américo Kuononoka, apelou ao Governo de João Lourenço que prossiga "com
coragem e determinação o conjunto de ações preconizadas, de maneira a aliviar o
sofrimento dos concidadãos, especialmente os mais desfavorecidos."
No
entanto, o deputado Adalberto Costa Júnior, do grupo parlamentar da União
Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), avisou que "o
Governo está a potenciar os passivos do país no futuro, inclusive empurrando
para o amanhã os passivos que eram para resolver hoje e está a devorar os
ativos do país, que serviriam para acautelar o futuro".
Em
entrevista à DW África, o economista Alves da Rocha, professor na Universidade
Católica de Angola, fala sobre as dificuldades no país, que precisará de muito
mais que um orçamento retificativo: "A minha preocupação primeira é sobre
a qualidade [da despesa pública], porque continuam a existir desvios das verbas
afetadas aos setores da saúde e educação".
Alves
da Rocha (AR): O país vai viver o quinto ano de uma recessão consecutiva
com reflexos absolutamente dramáticos sobre o desemprego e a pobreza. Estamos
aqui numa espécie de círculo vicioso da austeridade, que está a ter
consequências sobre toda a atividade em Angola. A situação é dramática, com uma taxa de
desemprego global de 32% e uma taxa de desemprego dos jovens entre os 15 a 24 anos nos 58,5%; com
uma taxa de pobreza 2018-2019 de 41%, que agora deve estar muito mais elevada.
É uma situação dramática.
DW
África: O Governo tem dito que, com o orçamento retificativo, as despesas
sociais representam 40% das despesas orçamentadas - e essas verbas iriam
sobretudo para a saúde. São notícias positivas, certo?
AR: Isto
não me descansa, porque eu não atento tanto à quantidade de despesa pública que
está afetada aos setores sociais - a minha preocupação primeira é sobre a
qualidade, porque continuam a existir desvios das verbas afetadas aos setores
da saúde e educação, sobretudo a estes dois. Portanto, tenho o direito de
pensar que, quanto mais dinheiro se puser no setor da saúde, pior serão os
serviços de saúde prestados aos cidadãos, porque há muita verba que se esvai e
não sabemos bem por onde.
DW
África: Falando dos gastos com o setor da saúde por causa da Covid-19, acha que
estes gastos adicionais propostos pelo Governo neste orçamento retificativo são
suficientes?
AR: Angola
não tem um sistema de saúde, assim como não tem um sistema de previdência
social. O sistema de saúde em Angola é muito débil. [O mesmo acontece com o]
sistema de educação. O país continua a ter uma quantidade enorme de crianças
fora do ensino, a falta de qualidade do ensino em Angola é conhecida. E,
naturalmente, esta debilidade levanta algumas dúvidas quanto à nossa capacidade
de atacar a pandemia da Covid-19 de uma maneira positiva. O Governo está um
bocado aflito e bastante preocupado com esta situação, porque há uma falta de
meios em quantidade e qualidade para combater esta pandemia. Nós não temos
comparação com os sistemas de saúde na Europa e na América, por exemplo.
António
Cascais | Deutsche Welle
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