Costa: "Muitos
países estão num fato que já não serve, passou de moda"
António
Costa quer um acordo que não se fique pela "ilusão" e que
"responda às necessidades efetivas", mesmo que assumindo que possa
existir alguma espécie de corte à proposta inicial.
O
primeiro-ministro português quer uma resposta "robusta e rápida" para
aquela que é uma "crise de dimensão extraordinária" e não compreende
as reticências de alguns países. "É incompreensível a dificuldade das
lideranças europeias em chegar a um acordo rápido", disse António Costa
aos jornalistas, em Bruxelas, antes do reinício do terceiro dia de negociações
da cimeira extraordinária de chefes de Governo e de Estado da União Europeia.
O
chefe de Governo listou os números do desemprego e as dificuldades das
empresas para sublinhar que "a resposta tem que estar à altura desta
crise, que é enorme". "Não estamos a negociar mais milhão menos
milhão, não é isso que está em causa", disse, explicando que a preocupação
é a resposta a longo prazo.
Quando
questionado sobre a redução na proposta inicial da Comissão Europeia,
Costa explicou que "é possível conseguir alguma redução sem atingir os
envelopes nacionais" mas que "mais importante é saber se saímos com
um instrumento que depois já não tem capacidade para responder às necessidades efetivas"
- o que seria "algo muito perigoso, uma ilusão para os europeus".
Um
dos principais obstáculos a um acordo a 27 tem sido, de acordo com fontes
europeias, as reticências de alguns países, autodenominados de 'frugais',
como a Holanda, Áustria, Suécia, Dinamarca e até a Finlândia.
António Costa, indagado sobre as posições destes países, que são pertencentes a
um projeto comunitário, respondeu que há uma "razão mais
profunda" que seria difícil de explicar rapidamente, mas que assenta em
"visões profundamente distintas do que é a União Europeia".
"Hoje,
os governos já não são os mesmos dos que eram quando se constituiu a União, as
situações políticas em muitos países já não são as mesmas do que quando se
constituiu a União. O espírito mudou muito e nós temos agora muitas vezes,
isso é o que eu sinto, muitos países que estão num fato que já não lhes é
confortável. Sabe como é, quando uma pessoa compra um fato, depois engorda, e o
fato deixa de servir, ou passa de moda", comentou, usando da
comparação para falar de um "espírito que já não é partilhado por
todos" e apontando uma "visão utilitarista" do projeto europeu.
"Portanto,
hoje há muitas formas diferentes de estar aqui na União, e isso condiciona a
visão global que há", disse.
Anabela
Sousa Dantas | Notícias ao Minuto | Imagem: © Getty Images
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