Crimes coloniais
Além da Namíbia, Tanzânia e
Burundi exigem reparações por crimes coloniais da Alemanha. Parlamento do
Burundi faz estudo com peritos para argumentar indemnização. Para Alemanha,
trata-se de uma questão moral e política.
Na sequência das conversações em
curso entre Alemanha e Namíbia, o Burundi também exige reparações por crimes
cometidos durante o período colonial alemão.
Um grupo de peritos nomeados pelo
Parlamento do Burundi prepara um relatório sobre a questão e já há uma
estimativa de compensação financeira que deverá ser exigida de Alemanha e
Bélgica: 36 mil milhões de euros.
"Acusamos a Alemanha de
agressão brutal contra o Burundi. A Alemanha sujeitou militarmente o Burundi,
ocupou o seu território e oprimiu economicamente o seu povo", argumenta o
historiador Aloys Batungwanayo, professor na Universidade de Lausanne e membro
da comissão de peritos.
A Tanzânia também aumenta a
pressão sobre o Governo alemão para que assuma a responsabilidade por crimes de
guerra cometidos durante o período colonial na África Oriental. No rol de ações
brutais, estariam o massacre de vários grupos na revolta de Maji-Maji.
O embaixador tanzaniano em
Berlim, Abdallah Possi, lançou um apelo a Berlim no início de 2020 para
"negociar reparações".
O director do Museu Nacional da
Tanzânia, Achilles Bufure, considera que estas negociações são urgentes. Como
tem especial interesse no acervo cultural do país, Bufure está também
preocupado a devolução de inúmeras obras de arte e bens roubados.
"Temos estado a discutir a
questão dos dinossauros com alguns membros do Museu de História Natural de
Berlim e queremos organizar o regresso de algumas coleções. Sou a favor de que
o nosso Governo discuta com o lado alemão uma forma de devolver estes objectos",
sugere Bufure.
A contradição alemã
Entre 1885 e 1919, a Alemanha foi a
terceira maior potência colonial europeia em África, atrás de Reino Unido e
França. O império alemão dominava o sudoeste Africano Alemão [a atual Namíbia],
a África Oriental Alemã [Burundi, Ruanda e Tanzânia], bem como as áreas nos
atuais Togo, Gana e Camarões.
Desde 2015, a Namíbia negoceia
com a Alemanha reparações pelo genocídio dos grupos étnicos Herero e Nama. O
Burundi é o terceiro país africano que passou a pressionar Berlim, exigindo
reparações por "agressões" dos regimes coloniais alemão e belga.
O professor de história africana
na Universidade de Hamburgo, Jürgen Zimmerer, acha que, por um lado, a Alemanha
estabeleceu elevados padrões morais no que dizem respeito à sua própria
história. Mas especificamente sobre o período colonial, há uma certa omissão.
"A aproximação ao passado
faz parte da Constituição da República Federal da Alemanha. No entanto, a
Alemanha olha de braços cruzados para os crimes coloniais em África e não quer
dar uma resposta adequada", opina Zimmerer.
Três décadas de brutalidade
O Império durou pouco mais de
três décadas. Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha teve de ceder as
suas colónias às potências vencedoras. Mas a curta duração da presença do
regime alemão em África na época não impediu a violência.
"De fato, estes 30 anos de
domínio colonial alemão formal foram muito violentos. As colónias tiveram
realmente de ser conquistadas, porque houve acções de resistência em todo o
lado, que foram brutalmente reprimidas pelo regime", esclarece Zimmerer.
As revoltas mais sangrentas foram
a de Maji-Maji na África Oriental, entre 1905-1907 - que, segundo os
historiadores, terá resultado na morte de 300 mil pessoas - e a revolta Herero
e Nama no sudoeste africano, entre 1904-1908 - que resultou no primeiro genocídio
do século XX, com 80 mil mortos.
A Alemanha negoceia com a Namíbia
um pedido formal de desculpas. Representantes dos Herero e Nama exigem
compensações financeiras e recentemente
consideraram "inaceitável” uma alegada proposta de 10 milhões de euros do
Governo alemão pelo genocídio.
O representante especial do
Governo Federal para o Diálogo com a Namíbia, Ruprecht Polenz, esclarece que
a Alemanha
quer assumir a sua responsabilidade política e moral pelos crimes cometidos
entre 1904 e 1908.No entanto, essa questão não é legal.
"Isto foi esclarecido pelos
tribunais aos quais os representantes dos Herero e Nama recorreram. É uma
questão político-moral e usamos termos que expressam esta questão e não termos
legais. A Alemanha quer pedir desculpa o quanto antes por estes crimes”,
salienta Polenz.
António Cascais | Deutsche Welle
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