quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Da Lua à Fossa Lusa vai uma grande distância


Os chineses vão habitar a Lua. Os velhos portugueses estão na fossa, muitos mais que outros. Também cerca de dois terços da população portuguesa está na fossa. Os odores societários são de pivete insuportável e inadmissível. Escandaloso. A isso os mesmos do costume dizem que precisam de tempo para enfrentar e solucionar os problemas. Os que se governam, mal governando o país. Costa já não anda muito distante de Passos no dizer e no fazer. Que a culpa é da crise covid… Deixem-se de tretas. De mentiras sistemáticas. Governem bem sem olhar a quem. Olhem o coletivo e terminem com as gritantes situações desumanas dos mais carenciados, desempregados, etc. Nunca o fizeram. A sério, nunca o fizeram! 

Deixem-se de cambalachos, de amiguismos, de boys e girls, de interesses pessoais e partidários, de servir o neofascismo que avança em nome de um neoliberalismo. Neo, de novo? Como de novo se eles são sempre os mesmos? Por exemplo: há milhões para o Novo Banco e outros, milhões para distribuir pelos que tramam os portugueses, mas não há milhões, nem sequer milhares para resolver seriamente e definitivamente os problemas de Portugal e dos portugueses que labutam muitas vezes subalimentados e sem casas e empregos que respeitem suas dignidades – como reza na Constituição. Ou talvez já não… Com políticos e deputados desonestos tudo é possível. Até ignorar a Constituição, como acontece recorrendo aos "alçapões legais".

Bom dia. Curto nesta manhã de terça-feira. Não estamos para conversas moles aqui no PG.

Tenham o melhor dia possível. Apreendam o que interessar do expresso Curto a seguir. É sempre útil saber o que dizem, o que opinam ou noticiam. Depois, cada cabeça sua sentença. Vão nessa e pensem para um coletivo de muitos milhões. Somos todos nós.

Amanhã talvez haja mais na entrada do Curto no PG. Talvez. Não é certo. Certo é o que aqui se espraia e deixa perceber que da Lua à fossa vai uma grande distância, e maus odores. Estamos a ficar muito saturados com estes desfiles de tanta sacanagem.

Fala-se de tréguas nestes momentos mais agitados. Tréguas entre os que são farinha do mesmo saco? Enquanto quem se trama são os velhos, os mais fragilizados, a plebe.

Bom dia. Olho vivo. Vá nessa, a seguir.

FS | PG



Tréguas para uma nova luta: tratar dos lares

Vítor Matos | Expresso

Bom dia!

Enquanto a China procura parceiros para construir uma base lunar habitada em 2036, neste canto da Terra há coisas mais básicas esmagadas sob o peso da gravidade que o vírus pôs a nu. Se toda a gente já tinha noção de que os lares não eram um paraíso, agora ficamos com a certeza de que se acrescenta à imperfeição deste mundo a disputa entre médicos, Governo e setor social. Ontem parece ter sido enterrado o machado de guerra entre a Ordem dos Médicos e António Costa, mas isso não chega. Como aconteceu nos fogos, é preciso pôr em marcha um plano para que tragédias como a de Reguengos não se repitam: abandono, negligência, dúvidas sobre a assistência médica.

Ontem, o primeiro-ministro deu pelo menos um sinal. Depois de uma semana polémica por causa da entrevista do Expresso, Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, e António Costa, apareceram nos jardins de São Bento com o chefe do Governo a garantir que tiveram (ao longo de quase três horas) “uma conversa muito franca e útil”, para que “todos os mal entendidos” dos últimos dias ficassem esclarecidos”. Mas o encontro serviu também para o chefe do Governo assinalar que é necessário ir mais longe e admitir que os problemas nos lares ficaram “ainda mais evidentes por causa da pandemia” - não sendo “algo novo”, não pode ser “ignorado” -, mas que também não se pode ser “ingénuo” e acreditar que “problemas estruturais da sociedade portuguesa podem ser resolvidos em duas semanas ou três meses”. Ora aí está, e a seguir lá veio a tradicional frase de que o problema “tem que merecer, necessariamente, uma reflexão profunda da sociedade”.

Ora para começarmos a refletir, há pelo menos dois textos que ajudam à compreensão do que se passou em Reguengos - um lar que tem aparecido como exemplo de todos os males -, mas que mais não será do que reflexo de uma instituição que funciona como muitas outras pelo país. Neste texto, a Marta Gonçalves e o Miguel Santos Carrapatoso ajudam-nos através de sete perguntas e sete respostas, a perceber efetivamente o que esteve na base da polémica da Ordem dos Médicos com a ARS do Alentejo, com o Governo ou com a fundação que gere o lar alentejano. Questão essencial, para leigos na matéria: numa situação normal, os lares não são obrigados por lei a ter médicos nas suas equipas técnicas, apenas enfermeiros. A filosofia de base é que não são casas de saúde mas residências, o que pode dificultar (no mínimo) a assistência médica necessária a muitos idosos - exatamente o que esteve em causa em Reguengos. Entre o que diz a lei, os argumentos burocráticos e o que dita a ética, quem tem razão? A resposta devia ser simples: ninguém pode ficar sem assistência médica atempada e competente por culpa da burocracia, nem pode haver dúvidas sobre isso.

O problema do caso que nos tem ocupado nas últimas semanas é que em causa esteve muito mais do que as lacunas do próprio lar, como o colunista do Expresso Daniel Oliveira explica muito bem neste artigo: “A Guerra Corporativa de Reguengos”: “[Há] factos que nos descrevem um braço de ferro entre Ordem e sindicatos, de um lado, e autoridades de saúde dependentes do Governo, do outro. Esse braço de ferro só lateralmente é sobre as condições no lar. Concentra-se no dever dos médicos do SNS prestarem serviços em lares, no dever dos lares contratarem eles próprios médicos para esta situação e até na suspensão das férias dos médicos em plena pandemia”. Outro aspecto a ter em conta: as ligações partidárias dos autores do inquérito da Ordem dos Médicos. A ler.

Entretanto, verificou-se ontem, em Santarém, a existência de outro lar com vinte e quatro utentes e seis funcionários infetados. Na vila alentejana de Mora, mantém-se o número de 62 infetados e detetou-se no hospital de Vila Franca de Xira um foco que já vai com 16 doentes: nove utentes e sete colaboradores. No total do país, ontem houve mais quatro mortes, 192 novas infeções e 141 pessoas curadas. Pode acompanhar aqui o direto do Expresso sobre a evolução da pandemia em Portugal e no mundo.

OUTRAS NOTÍCIAS

No momento mais extraordinário das nossas existências, o PCP continua a aproveitar para transformar a realização da Festa do “Avante!” numa forma de afirmação política que dificilmente lhe trará dividendos fora da sua órbita de influência - já de si cada vez menor. Ontem, o PCP reagiu à providência cautelar para tentar impedir a realização da Festa, colocada por um empresário alegando que o evento é uma atividade económica que está vedada a outros. Em comunicado, o partido classifica o processo como uma forma de “animação artificial da campanha reacionária” que diz estar em marcha contra o evento e sentencia: “A operação para impedir a Festa do ‘Avante!’ foi derrotada”. Se muitas críticas têm claramente motivações políticas - afinal tudo é política - há preocupações óbvias de saúde pública que o PCP não devia esquecer quando pinta o mundo de forma sectária a preto e branco: por mais disciplinador que seja o PCP, ninguém acredita que seja possível disciplinar os movimentos de 33 mil pessoas metidas num recinto, e que não se vão distribuir pela Quinta da Atalaia como se estivessem na praia de Carcavelos.

Com o PCP entretido na luta pela Festa, e cada vez mais afastado da ‘geringonça’, o Bloco de Esquerda vai fazendo política. No fim de semana, Catarina Martins lembrou que para negociar o próximo Orçamento do Estado com o Governo, é preciso que o anterior seja cumprido, nomeadamente no que diz respeito ao fim do fator de sustentabilidade, que corta o valor das pensões antecipadas, para as profissões de desgaste rápido. Mas há pelo menos mais duas medidas essenciais: a descida do IVA da eletricidade - que na entrevista que deu ao Expresso António Costa anunciou ainda para este ano - e a contratação definitiva do número de profissionais de Saúde que ficou inscrito no último OE.

Não temos mais do que incertezas, infelizmente. Com o mundo dependente de uma cura para a Covid-19, não são boas as notícias de doentes reinfetados na Bélgica e nos Países Baixos. Ao Expresso, Paulo Paixão, virologista e professor na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, diz que “se a vacina ou a infecção natural não nos protegerem de uma reinfecção, provavelmente teremos de atingir valores de imunidade de grupo mais elevados”.

Não é por isso, no entanto, que os europeus deixam de fazer férias e a abertura do corredor aéreo do Reino Unido para Portugal teve um efeito imediato: o Algarve já está a beneficiar dos turistas que planeavam viajar para Espanha, França ou Croácia. "Desta vez, temos a vantagem, tal como anteriormente sofremos do inverso", diz ao Expresso João Fernandes, responsável pelo Turismo do Algarve. Pode atenuar alguma quebra no negócio, mas o fluxo ainda não será suficiente para inverter a crise no setor.

Entretanto, durante a madrugada portuguesa prosseguiu a convenção republicana de lançamento da recandidatura de Donald Trump à Casa Branca, com o discurso da primeira-dama Melania Trump, mas com mais um acontecimento inédito na democracia americana. Segundo o “The New York Times”, nunca nos últimos 75 anos um secretário de Estado (ministro dos Negócios Estrangeiros) tinha participado na convenção partidária, e Mike Pompeo fê-lo através de um vídeo emitido a partir de Jerusalém, para louvar o Presidente por ter “aberto a cortina da agressão predatória do Partido Comunista Chinês” que ocultou o novo coronavírus. Este é um dos principais eixos da campanha de Trump, enquanto a cidade de Kenosha, no estado do Wisconsin, continua em choque com mais um caso de um homem negro baleado pelas costas pela polícia: Jacob Blake, de 29 anos, foi atingido várias vezes a tiro pelas autoridades, e será um “milagre” se voltar a andar, disse ontem o advogado da família.

Se a américa volta a ter um momento decisivo - qual o futuro da democracia americana? - na Rússia o regime consolidado de Vladimir Putin continua sob suspeita de mais uma tentativa de assassinato político. O envenenamento do líder da oposição Alexei Navalny foi ordendo pelo Kremlin ou por outros inimigos que o advogado colecionou? É o que nos explica aqui o Hélder Gomes. Andy Vermaut, membro do gabinete de Bruxelas da Aliança Internacional para a Defesa dos Direitos e Liberdades, diz ao Expresso: “Este caso deve ser investigado até ao osso, pois dá a sensação de que a oposição russa está a ser eliminada”.

Bom, mas não só de mistérios policiais russos se fazem estes dias, porque há outro enigma por decifrar que só deixará de nos atormentar quando for resolvido: afinal, para onde é que vai Messi? Depois da goleada sofrida em Lisboa, o craque argentino enviou um fax ao Barcelona (ainda se enviam faxes?) a informar o clube que pretende sair e que vai acionar uma cláusula no contrato que lhe permite rescindir unilateralmente. “Virá aí uma cirurgia profunda, custosa e dolorosa para separar duas partes que não há muito pareciam ser siamesas?”, questiona o Diogo Pombo na Tribuna.

Ainda no desporto, o “Público” revela hoje em manchete que, nos últimos anos, a Belenenses SAD (link para assinantes) pagou salários a funcionários sem os processar e sem emitir recibos de vencimentos: os valores, segundo o jornal, rondaram um milhão de euros no final da temporada 2018-19.

Ontem também foi um dia importante para o setor da energia: realizou-se o segundo leilão solar em Portugal, e a empresa vencedora foi a gigante a sul-coreana Hanwha Q-Cells, que venceu seis dos 12 lotes a concurso. Como conta o Miguel Prado, era o máximo que a Hanwha podia conquistar, já que as regras do leilão determinam que nenhum vencedor pode ficar com mais de metade dos lotes.

FRASES

“Pela primeira vez em anos, o PSD tem uma real possibilidade de vencer a autárquicas. (...) Ao contrário do PSD, entregue a uma nada surda guerra pela sucessão, o PSD é hoje um partido tranquilo.(...) O discurso da rentrée política de Rio será por isso o momento ideal para dar um sinal sobre qual é a proposta política com que o PSD se propõe mobilizar o país.”
Miguel Pinto Luz, vice-presidente da câmara de Cascais e ex-candidato à liderança do PSD, “Público”

“Conheço vários católicos no processo de radicalização infelizmente comum em pessoas de direita. Mas causa-me estranheza que a porção progressista da igreja não reaja mais a estas investidas.”
Maria João Marques, colunista do “Público”

“Não sabemos ainda o que o turismo português vai ser no futuro. Mas uma coisa é certa: se ele não recuperar, as coisas não irão ser nada fáceis para a economia nacional, nos próximos anos.”
Francisco Seixas da Costa, embaixador, “Jornal de Notícias”

O QUE ANDO A LER

Twilight of Democracy” devia ser obrigatório por estes dias, de Anne Applebaum, a jornalista, colunista da “Atlantic” e historiadora norte-americana, - mais conhecida por ser autora de “Gulag, uma história” (Civilização Editora) - e que há dez ou quinze anos caberia na classificação de “neocon”, mas que hoje é uma das vozes mais audíveis contra a nova direita trumpista nos Estados Unidos. O livro lançado nos EUA a meio de julho, conduz-nos através das mais conhecidas “democracias iliberais” do momento através do olhar de uma mulher do centro-direita, e que nos obriga a pensar sobre o buraco negro para onde estão os nossos regimes ocidentais a caminhar. Com “o apelo sedutor do autoritarismo” como subtítulo, a diferença e vantagem deste ensaio em relação a outros livros que têm sido publicados sobre o mesmo tema - “Como acabar a democracia”, de David Runciman (Gradiva) ou “How Democracies Die” de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (Broadway Books) - , é exatamente a experiência pessoal da própria autora relacionada depois com as tendências macro de cada um dos regimes.

A história de arranque do livro mostra como as elites nas sociedades onde as derivas populistas venceram estão divididas numa guerra civil, política e cultural: Applebaum conta como os seus amigos, então imbuídos de um tremendo otimismo, participaram na passagem de ano do milénio em 2000, na sua casa de campo e do marido na Polónia (que viria a ser ministro de um Governo de centro-direita polaco), e vinte anos depois se deixaram de falar por razões políticas. Metade do grupo, políticos, jornalistas, diplomatas, aderiram às teses do partido Lei e Justiça no poder na Polónia, e embarcaram em teorias da conspiração ou em políticas que sempre combateram e denunciaram quando do outro lado estava o inimigo comunista.

Applebaum explica e contextualiza não só o processo de recuo da democracia na Polónia, através de casos de pessoas que conheceu bem - alguns dos seus ex-convidados e que agora se recusam a falar com ela -, como faz o mesmo com a Hungria de Victor Órban. Um dos casos mais impressionantes é o de uma académica húngara, que também fora sua amiga e que ela entrevistou para a ouvir defender teses irracionais, falsas e indefensáveis... e acabou por ver a sua própria entrevista deturpada e publicada num site da direita húngara no poder. O mesmo exercício que faz para a Hungria e para a Polónia - análise de factos aliados à sua experiência pessoal - a jornalista e historiadora transporta para os Estados Unidos de Donald Trump e para o Reino Unido do Brexit e de Boris Johnson. Depois, faz duas incursões mais distanciadas porque têm mais uma visão jornalística do que biográfica ao Brasil de Bolsonaro e à Espanha do Vox.

A abordagem de Applebaum deita por terra as teses mais simplistas que justificam a emergência e consolidação destes poderes, como o medo dos emigrantes, por exemplo. Cada país tem razões diferentes para a vitória ou crescimento dos populismos, mas há dois ou três fatores que atravessam todas essas sociedades: o ressentimento contra a classe política, a adesão de grupos de intelectuais e aquilo que classifica como “o futuro da nostalgia” - a projecção no presente de um passado supostamente glorioso que nunca existiu. Isso conjugado com as “cascatas de falsidades” promovidas pelos novos políticos sobretudo através das redes sociais e dos media por si controlados fazem o resto. Apesar dos sinais, em Portugal ainda não estamos lá. Mais para o fim do livro, a autora só deseja que os seus filhos vivam num mundo “onde um debate racional seja possível, onde o conhecimento e a expertise sejam respeitados e onde as fronteiras possam ser atravessadas facilmente”. Estaremos mesmo a viver no “crepúsculo das democracias” e a caminhar para a “anarquia” ou para a “tirania”? Esperemos que não. No entanto...

Fico por aqui hoje. Espero que tenha um excelente dia! E que vá acompanhando atualidade no site do Expresso, na Tribuna ou na Blitz.

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