segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Economia de Angola pode enfrentar "maior contração desde a guerra civil"

A previsão é do gabinete de estudos do Banco de Fomento de Angola. Entre a quebra da produção petrolífera e a pandemia da Covid-19, país vai enfrentar "um ano bastante complicado".

O gabinete de estudos do Banco Fomento Angola (BFA) prevê uma "forte recessão" da economia angolana durante 2020, esperando "a maior contração desde a guerra civil", podendo ultrapassar os 5%, sustentada pela quebra da produção petrolífera.

Numa nota enviada aos clientes sobre a evolução da economia angolana, o BFA escreve que 2020 deverá ser "um ano bastante complicado para a economia angolana, esperando-se que a atividade económica tenha a maior contração desde 2008", acrescentando que em 2020 é esperado "que a economia angolana vá ter a sua maior contração desde a guerra civil [que terminou em 2002], possivelmente superior a 5%".

Os analistas destacam que com os acordos estabelecidos entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os seus parceiros (OPEP+) "é esperado que a produção petrolífera continue em quebra homóloga enquanto a procura por essa 'commodity' não volte a níveis pré-pandemia".

O gabinete de estudos do BFA aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) angolano contraiu 1,8% no primeiro trimestre face ao período homólogo de 2019.

"O setor petrolífero teve a sua quebra menos acentuada em 2 anos (-1,7%); porém, em sentido contrário, a economia não-petrolífera terá voltado às quebras homólogas, depois de vários trimestres em que terá crescido, de acordo com os cálculos do BFA, baseados nos números do INE", diz o documento.

À espera das negociações

O gabinete de estudos do BFA acrescenta que o "andamento da economia" angolana estará "também dependente da evolução futura da pandemia" e "das negociações com credores e com os parceiros multilaterais (FMI e Banco Mundial), que determinarão o espaço orçamental para o Tesouro e eventuais entradas adicionais (ou menores saídas) de divisas".

Na sexta-feira (31.07), o conselho executivo do Fundo Monetário Internacional adiou uma reunião para discutir um reforço de 740 milhões de dólares do empréstimo a Angola até à "segunda metade" de agosto. Num relatório do FMI citado no dia 24 pelo semanário Expansão, o Executivo angolano solicitou este acréscimo ao financiamento de 3 mil e 700 milhões de dólares já acordado no programa de financiamento ampliado, bem como uma moratória no pagamento da dívida deste ano.

O adiamento da decisão do FMI sobre o reforço do empréstimo a Angola vai agravar os problemas de liquidez do Tesouro e pressionar as divisas que se encontram ao nível mais baixo de 2020, segundo uma nota do BFA.

"Trata-se de um adiamento bastante prejudicial para o país, já que o desbloqueamento desta avaliação poderia trazer cerca de 800 milhões de dólares em financiamento orçamental (incluindo 350 milhões decorrentes de um alargamento do empréstimo), e em moeda estrangeira, providenciando também divisas ao país", sublinha-se no documento.

Angola já chegou a acordo com um dos seus credores e tem prevista a adesão à iniciativa de suspensão de pagamentos da dívida bilateral a membros do G20, mas tem ainda negociações em curso com outros dois credores, segundo a ministra das Finanças. "A decisão do FMI poderá condicionar a decisão de outras agências multilaterais, como o Banco Mundial, que também se espera vir a desembolsar um apoio orçamental este ano (o montante previsto era de 500 milhões de dólares, que poderá também ser alargado)", estimam os analistas do BFA.

Segundo a nota informativa, o atraso deste apoio orçamental agrava, por isso, as questões de liquidez do Tesouro.

O OGE 2020 revisto, estimado em 13,4 biliões de kwanzas (20,3 mil milhões de euros), prevê um défice de 4% aos 15 biliões de kwanzas (22,6 mil milhões de euros) da anterior proposta e com um preço médio do barril de petróleo de 33 dólares (30 euros).

A primeira versão tinha sido elaborada com base no preço médio do barril de petróleo de 55 dólares, uma produção média diária de um 1.436.900 barris e uma taxa de inflação de 25 por cento.

Devido à pandemia de Covid-19, verificou-se uma redução do preço do barril de petróleo, o que levou a que os Estados-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus parceiros reduzissem a produção, de modo a equilibrarem o preço do barril de petróleo.

Deutsche Welle | Lusa

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