Beneficiários da Abem subiram 50%
entre 2019 e 2020. Rede fornece remédios gratuitos a mais de 16 mil pessoas e
aos novos carenciados por causa da covid-19.
Quando o dinheiro falta para
quase tudo, abandonar o tratamento que pode salvar a vida é o recurso de quem
já não tem mais onde cortar. O programa Abem, da associação Dignitude em
parceria com autarquias e instituições sociais, permite que mais de 16 mil pessoas
de todo o país, incluindo da Madeira e dos Açores, possam adquirir a
medicação sem gastar um cêntimo. Atualmente, tem 16 vezes mais beneficiários do
que no ano de estreia, em 2016, e registou um aumento de cerca de 50% de julho
de 2019 para este ano.
E as necessidades não estão a
abrandar. Os relatos dramáticos de quem se viu subitamente empobrecido ou
destituído de qualquer rendimento (por causa de lay-off, de despedimentos ou de
insolvências desencadeadas pela pandemia) motivaram uma resposta imediata da
Dignitude, que criou um fundo de emergência para ajudar estes novos pobres, que
não cumprem os requisitos para entrarem no programa titular.
RESPOSTA DE EMERGÊNCIA
A referenciação de beneficiários,
explica Maria de Belém Roseira, embaixadora da Dignitude, é feita pelos
parceiros locais, que avaliam a carência com base do conhecimento no terreno e
documentos (incluindo a declaração de IRS do ano anterior). Quem ficou
desprovido ou sofreu um corte no salário agora não se enquadra nesses
critérios. Daí esta resposta de emergência a que cada vez mais municípios se
têm associado, como Faro, Figueiró dos
Vinhos, Gaia, Mafra e Maia. Em julho, este fundo tinha 460
beneficiários e a contagem sobe de dia para dia.
"Não temos o músculo do
Estado nem conseguimos chegar a todo o lado, mas procuramos responder às
situações mais graves. Com a pandemia, criou-se o fundo de emergência Abem
covid-19, à semelhança do que fizemos após os incêndios de Pedrógão Grande,
para ajudar as pessoas que sofreram um corte abrupto e inesperado devido à
paralisação da economia", indica Maria de Belém, lembrando que esta
ajuda vive exclusivamente de donativos, da participação financeira dos parceiros
locais e de prémios a que a associação concorre. "Tudo isto é feito à
custa da generosidade da sociedade portuguesa", frisa ao JN.
IDOSOS E CARENCIADOS
O beneficiário não precisa de
expor a sua vida nem a sua carência ao balcão de uma farmácia. É-lhe fornecido
um cartão, semelhante a um cartão multibanco, que deve ser apresentado no
momento da aquisição dos medicamentos. E recebe-os gratuitamente. O programa
Abem comparticipa remédios prescritos pelo Serviço Nacional de Saúde,
suportando a percentagem que o Estado não paga, para que o
beneficiário não tenha de interromper o tratamento.
Também há municípios que têm
programas próprios de comparticipação total ou parcial de medicamentos, que já
chegam a centenas de munícipes. A tendência é crescente. Pelo menos 30 câmaras
(Abrantes, Alenquer, Amares, Azambuja, Baião, Barrancos, Castelo
de Paiva, Celorico da
Beira, Cinfães, Crato, Elvas, Lagos, Leiria, Mira, Mogadouro, Monção, Nisa, Oeiras, Ourique, Penafiel, Portimão, Póvoa
de Varzim, Santo Tirso, Sesimbra, Sernancelhe, Sintra, Vila
do Bispo, Vila Real, Vimioso) desenharam soluções para carenciados e
idosos.
Elvas paga, há mais de dez anos,
a medicação de reformados com mais de 50 anos e uma pensão inferior a 550
euros. Em média, dá ajuda a cerca de 800 pessoas. Em Sernancelhe, o
programa em vigor desde 2009, dirigido a idosos, totaliza cerca de mil
beneficiários.
Carla Sofia Luz | Jornal de Notícias
Leia em Jornal de Notícias:
Sem comentários:
Enviar um comentário