Paula
Ferreira | Jornal de Notícias | opinião
"Foi
transportado num autocarro, escoltado por um carro policial com os rotativos
ligados, para o hotel, ali chegado foi encaminhado para a zona do check-in,
tendo-lhe sido atribuído o quarto, altura em que foi informado que não podia
sair do quarto, onde teria de permanecer durante os próximos 14 dias. Foi
informado que as refeições seriam fornecidas pelo hotel em três momentos
definidos do dia, havendo duas alturas em que podia solicitar refeições/snacks
adicionais. Acatou o que lhe foi indicado, verificando que havia um agente da
PSP à porta de entrada do hotel".
Que
crime cometeu este homem? Nenhum. E foi vítima de procedimentos próprios de um
estado totalitário. A descrição, atrás citada, plasmada no acórdão do Tribunal
Constitucional que declarou inconstitucional a quarentena obrigatória à chegada
ao Açores, decretada pelo Governo regional, devia fazer-nos arrepiar e motivar
ampla reflexão. Ela prova como o medo ganha terreno, tolhe-nos, aceitamos que
nos privem da mais básica liberdade sem protesto. A reboque do vírus
institucionaliza-se o controlo e a repressão. É bom lembrar que da parte do
Governo de Lisboa não se ouviu uma palavra em relação à decisão do executivo
liderado pelo socialista Vasco Cordeiro.
Em
nome do vírus, e do medo de ser contagiado e de contagiar, estamos a soçobrar a
uma tirania. Um tirania a transformar cada um de nós no polícia do outro, a
deixar que o Mundo se feche, a viver virado para o interior de si próprio, da
sua casa, da sua família mais restrita. Em suma, a aceitar docilmente que nos
vigiem, que acompanhem os nossos passos, como se isso nos pudesse salvar.
Ao
contrário do apregoado por muitos, não sairemos melhores desta crise de saúde
pública. Pelo contrário. Se nada fizermos, acordaremos num Mundo perigoso e
totalitário. Já aconteceu outras vezes.
*Editora-executiva-adjunta
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