David Sassoli diz estar
"profundamente preocupado" com a situação vivida na Bielorrússia após
as eleições.
O presidente do Parlamento
Europeu, David Sassoli, exortou esta quinta-feira o Presidente bielorrusso,
Alexander Lukashenko, a pôr fim à violência das autoridades contra as pessoas
que "pacificamente manifestam o seu desejo de mudança" no país.
Numa declaração divulgada quatro
dias depois das eleições presidenciais de domingo passado na Bielorrússia,
marcadas por suspeitas de fraude, Sassoli afirma-se "profundamente
preocupado com a violência empregue pelas autoridades estatais" para
dispersar as manifestações que têm ocorrido um pouco por todo o país, que
provocou já dois mortos, além de um número indefinido de detenções.
"Os bielorrussos têm o
direito de protestar e expressar a sua revolta contra os resultados contestados
das eleições e do processo eleitoral, que não foi transparente e não cumpriu os
requisitos internacionais mínimos", aponta o presidente da assembleia
europeia.
Exortando Lukashenko a
"travar a repressão" e a "libertar imediatamente" os
manifestantes detidos ao longo dos últimos dias, Sassoli defende que "o
uso de força brutal pelos serviços de manutenção da ordem contra o seu próprio
povo, do qual resultam mortos e feridos, deve ter consequências à luz da lei
internacional, incluindo sanções dirigidas".
A eventual instauração de sanções
contra o regime de Lukashenko vai estar sobre a mesa dos ministros dos Negócios
Estrangeiros da União Europeia, numa reunião extraordinária por
videoconferência convocada pelo chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, para
sexta-feira.
Apesar de a agenda contemplar
também as tensões entre Grécia e Turquia no Mediterrâneo oriental e a situação
no Líbano após as explosões que devastaram Beirute, a reunião de sexta-feira
será marcada pela discussão em torno das eleições presidenciais de domingo
passado na Bielorrússia, após as quais foram vários os pedidos, incluindo da
Polónia, para que se celebrasse uma reunião extraordinária dos chefes de
diplomacia da UE ainda antes do encontro informal agendado para 27 e 28 de
agosto em Berlim.
Em cima da mesa estará a
possibilidade de imposição de sanções, já equacionada na terça-feira pelos 27.
Numa declaração de Borrell
aprovada pelos 27 Estados-membros, a UE denunciou que as eleições presidenciais
não foram "nem livres nem justas" e ameaçou adotar sanções contra os
responsáveis pela violência exercida contra manifestantes pacíficos.
"As eleições não foram nem
livres nem justas. (...) Procederemos a uma revisão aprofundada das relações da
UE com a Bielorrússia. Poderá implicar, entre outras, a adoção de medidas
contra os responsáveis das violências registadas, das detenções injustificadas
e da falsificação dos resultados das eleições", anunciaram em comunicado
os 27 países.
A declaração europeia, emitida
pelo gabinete de Josep Borrel, Alto Representante da UE para as Relações
Externas, lamenta que, após o povo bielorrusso "ter demonstrado o seu
desejo pela mudança democrática", as eleições não tenham decorrido de
forma transparente e que as autoridades estatais tenham exibido "uma violência
desproporcionada e inaceitável".
"Para mais, informações
credíveis de observadores internos demonstram que o processo eleitoral não
cumpriu os parâmetros internacionais aguardados num país que participa na
Organização para a Segurança e Cooperação na Europa [OSCE]", acrescenta.
A Comissão Eleitoral Central
bielorrussa informou na segunda-feira que o Presidente Alexander Lukashenko, no
poder desde 1994, obteve 80,23% dos votos, que lhe permite cumprir um sexto
mandato presidencial consecutivo, um resultado rejeitado pela oposição.
A principal candidata da
oposição, Sviatlana Tsikhanouskaya, cujas ações de campanha atraíram multidões
de eleitores frustrados com o governo autoritário de 26 anos de Lukashenko,
terá obtido apenas 10% dos votos, tendo-se refugiado entretanto na Lituânia.
Desde a chegada de Alexander
Lukashenko ao poder, em 1994, nenhuma corrente da oposição conseguiu afirmar-se
na paisagem política bielorrussa. Muitos dos seus dirigentes foram detidos, à
semelhança do que sucedeu neste escrutínio, e em 2019 nenhum opositor foi
eleito para o parlamento.
Os resultados das últimas quatro
eleições presidenciais não foram reconhecidos como justos pelos observadores da
Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), que denunciaram
fraudes e pressões sobre a oposição.
Pela primeira vez desde 2001, e
por não ter recebido um convite oficial a tempo, a OSCE não esteve presente na
votação para acompanhar os resultados.
TSF | Lusa
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