terça-feira, 29 de setembro de 2020

Estado chamado a acabar com violência no contexto de feitiçaria

GUINÉ-BISSAU

Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) regista 49 mortes, nos últimos dois anos, de indivíduos acusados de prática de feitiçaria. Sociedade civil apela à intervenção do Estado para sensibilizar as comunidades.

Segundo a denúncia da Liga Guineense dos Direitos Humanos, o último caso aconteceu a 11 de setembro deste ano: uma cidadã de mais de 50 anos foi "brutalmente assassinada" por um grupo de populares, no sul da Guiné-Bissau, acusada de prática de feitiçaria. O corpo da vítima, de acordo a denúncia da Liga, foi "profanado" e alguns órgãos "amputados".

Este está longe de ser o primeiro caso do género. O fenómeno é antigo e, apesar das denúncias das organizações de diretos humanos, a situação continua na mesma. "Nessas aldeias [onde acontecem os atos] não há segurança para as pessoas, francamente não há", lamenta Justo Braima Camará, presidente do Movimento da Sociedade Civil da Região de Quínara, no sul do país, que considera a situação preocupante.

"Estamos a pedir às autoridades locais para que multipliquem os elementos de segurança, para poder garantir segurança às populações que vivem nessas aldeias", apela.

Responsabilização e sensibilização

Em comunicado, a Liga Guineense dos Direitos Humanos lamenta que os atores materiais e morais da "maioria esmagadora" dos casos de assassinatos de cidadãos acusados de prática de feitiçaria, continuam impunes, "devido ao não funcionamento das instituições judiciárias".

À DW África, o sociólogo Infali Donque aponta uma solução para o problema: "É preciso que as instituições sociais reforcem as suas presenças nessas zonas. A Igreja deve, de facto, envolver-se mais, ajudando essas comunidades. Também o próprio Estado deve envolver-se, através da escola".

O sociólogo explica que, "por vezes, são jovens que são chamados para executar esse tipo de atos e esses jovens devem ser consciencializados de outra forma".

Para a diretora da ONG "Voz di Paz", Udé Fati, é preciso quebrar o mito nas comunidades, com o envolvimento dos líderes locais: "Acho que há muito trabalho para fazer e deve ser do Estado, com o envolvimento dos líderes comunitários e das localidades, para que as pessoas tenham medo de cometer essas práticas e também para que se quebre essa crença e mito de que, através da feitiçaria e de poderes que a gente não conhece, os poderes sobrenaturais, as pessoas conseguem fazer mal umas às outras".

A DW África tentou, sem sucesso, contactar o Ministério do Interior da Guiné-Bissau, entidade responsável pela garantia de segurança às populações.

Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle

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